Produção e conservação escolar da masculinidade no romance O Ateneu (original) (raw)
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"Casa de homem/ homem macho, sim, senhor!": A produção de masculinidades em repúblicas estudantis
Cadernos de Campo (São Paulo, online) , 2024
Resumo: Há pelo menos cem anos e, sobretudo, a partir da criação da Universidade Federal de Ouro Preto, no fim da década de 60, homens e mulheres têm se dedicado à construção e manutenção da "tradição republicana" em moradias estudantis de Ouro Preto (MG). Essas territorialidades, predominantemente configuradas como repúblicas masculinas e femininas, são casas definidas pela divisão de gênero. Através de relatos de interlocutores e outras fontes, argumento, neste artigo, como a noção que circula neste meio social de "perfil de morador" pode ser instrumental para entender a relação das masculinidades com esses perfis, ou melhor, do “republicano” idealizado, e suas interseções com gênero, raça, classe e sexualidade.
Rascunhos Culturais, 2014
Resumo: O presente artigo apresenta uma leitura analítico-interpretativa de base imanentista das representações da homossexualidade nos romances O Ateneu (1888), de Raul Pompéia, e O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo. Em O Ateneu, embora creiamos que Sérgio, o protagonista, não seja homossexual, identificamos concepções, práticas e valores sociais do final do século XIX vinculados à homossexualidade que se manifestam na narrativa. Em O cortiço, nossa análise procura demonstrar as diferentes manifestações da homossexualidade por meio dos personagens Albino, Pombinha e Léonie. Palavras-chave: Aluísio Azevedo; Homossexualidade; Raul Pompéia; Século XIX. Abstract: This paper analyzes the representations of homosexuality in the novels O Ateneu, by Raul Pompéia, and O cortiço, by Aluísio Azevedo, with an immanentist approach. In O Ateneu, although Sérgio, the main character in the novel, is not a homosexual, the analysis shows conceptions, practices, and social values from the late nineteenth century related to the homosexuality that are expressed in Pompéia’s novel. In O cortiço, the analysis shows different homosexual manifestations through the characters Albino, Pombinha, and Léonie. Keywords: Aluísio Azevedo; Homosexuality; Nineteenth century; Raul Pompéia.
O debate dos gêneros e o romance O Ateneu de Raul Pompéia
2018
, internato que será a grande fonte de inspiração para a redação do romance de Raul Pompéia, era dirigido por Abílio César Borges, o Barão de Macaúbas, que acabou sendo imortalizado na figura de Aristarco, o diretor de O Ateneu. É evidente que a experiência de Pompéia no colégio do Barão de Macaúbas é a principal fonte de inspiração do autor para a redação de sua obra-prima. No entanto, não se restringe somente a isso, pois lembra o biógrafo Camil Capaz que
O caráter pedagógico-moral do romance moderno
Cadernos CEDES, 2000
O romance moderno surge no século XVIII e, com ele, uma polêmica em torno dos efeitos que sua leitura poderia provocar. Desacostumados com a representação literária de situações e personagens comuns, os leitores acreditavam na veracidade de tais narrativas. Tal crença, que possibilitava uma fácil identificação dos leitores com os personagens, causava ao mesmo tempo temor e admiração. Os moralistas condenavam o gênero, pois acreditavam que ele apresentava modelos de conduta viciosos, capazes de desestruturar a ordem vigente. Entretanto, alguns leitores ilustres afirmavam que apenas o romance seria capaz de fazer com que o leitor aceitasse os sacrifícios que a leitura requeria. Havia, portanto, um consenso sobre a capacidade de o romance servir de modelo de conduta. Essa concepção, ainda no século XIX, quando surgiram as primeiras manifestações nacionais do gênero, está presente no discurso da crítica literária brasileira.
A literatura e a formação do homem
I Nesta palestra, desejo apresentar algumas variações sobre a função humani-zadora da literatura, isto é, sobre a capacidade que ela tem de confirmar a humanida-de do homem. Para este fim, começo focalizando rapidamente, nos estudos literários, o conceito de função, vista como o papel que a obra literária desempenha na socie-dade. Este conceito social de função não está muito em voga, pois as correntes mais modernas se preocupam sobretudo com o de estrutura, cujo conhecimento seria, teoricamente, optativo em relação a ele, se aplicarmos o raciocínio feito com referên-cia à história. Em face desta os estruturalistas optam, porque acham que é possível conhecer a história ou a estrutura, mas não a história e a estrutura. Os dois enfoques seriam mutuamente exclusivos. Que incompatibilidade metodológica poderia existir entre o estudo da estru-tura e o da função social? O primeiro pode ser comparativamente mais estático do que o segundo, que evocaria certas noções em cadeia, de cunho mais dinâmico, co-mo: atuação, processo, sucessão, história. Evocaria a idéia de pertinência e de ade-quação à finalidade; e daí bastaria um passo para chegar à idéia de valor, posta entre parênteses pelas tendências estruturalistas. Mais ainda: a idéia de função provoca não apenas uma certa inclinação para o lado do valor, mas para o lado da pessoa; no caso, o escritor (que produz a obra) e o leitor, coletivamente o público (que recebe o seu impacto). De fato, quando falamos em função no domínio da literatura, pensamos imediatamente (1) em função da lite-ratura como um todo; (2) em função de uma determinada obra; (3) em função do autor, — tudo referido aos receptores. Ora, uma característica do enfoque estrutural é não apenas concentrar-se na obra tomada em si mesma (o que aliás ocorria em outras orientações teóricas anteri-ores), mas relacioná-la a um modelo virtual abstrato, que seria a última instância heu-rística. Isto provém do desejo de chegar a um conhecimento de tipo científico, que supera o conhecimento demasiado contingente da obra singular em proveito de tais modelos genéricos, a que ela se subordina e de que é uma manifestação particular; e que portanto a explicam. Eles não seriam a-históricos, mas talvez trans-históricos, porque possuem generalidade e permanência muito maiores, em relação às manifes-tações particulares, (obras) que passam para segundo plano como capacidade explica-tiva. Através da mudança das manifestações particulares, eles permanecem, como sistemas básicos e como princípios de organização, escapando até certo ponto à his-tória, na medida em que são modelos; mas integrando-se nela, quando vistos em suas manifestações particulares.
O Bildungsroman (Romance de Formação): Perspectivas
É tão agradável recordarmo-nos, vaidosos, de certos obstáculos que muitas vezes, com um sentimento penoso, considerámos como intransponíveis, e compararmos aquilo que somos agora, já desenvolvidos, com o que éramos então, ainda por desenvolver. Goethe, Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister, 1998, vol. 1: 31 São inúmeros, ao longo dos tempos, os exemplos de representações literárias da preocupação do ser humano quer com o seu próprio processo (auto)formativo na infância e na juventude -períodos associados à inocência, beleza, energia, aprendizagem e a sonhos e riscos -, bem como já na fase adulta, quer com o seu envelhecimento, como o demonstram o enigma da esfinge de Tebas (Rei Édipo), a parábola bíblica do filho pródigo e as inúmeras personagens em formação nos romances de Charles Dickens, Mark Twain, Júlio Dinis, Eça de Queirós, Vergílio Ferreira, José Saramago e de outros autores portugueses estudados por Óscar Lopes outros. O presente estudo, como revela a sua bibliografia representativa, ocupa--se sobretudo de romances que representam ficcionalmente o processo de desenvolvimento e a educação informal (na chamada 'escola da vida') entre a infância -textualizada, por exemplo, por José Luís Peixoto na narrativa Morreste-me (2000) e nos poemas de A Criança em Ruínas (2001) -e a idade adulta de protagonistas masculinos e femininos no lar, longe da família, em viagem, já após o regresso a casa, ou em contextos (pós-) coloniais. Como conclui Northrop Frye em Anatomy of Criticism (1957: 215), o tema literário da demanda é dos mais universais, e o Bildungsroman, ou romance de formação, também ficcionaliza e problematiza essa busca (de identidade), bem como a insatisfação, as aprendizagens, os medos e os impulsos constantes que caracterizam a condição humana.
"Uma juventude digna é a condição do criar": romantismo e formação em Walter Benjamin
Cadernos Walter Benjamin, 2020
Este artigo discorre sobre o sentido de religiosidade na formação da juventude segundo Walter Benjamin. Através de alguns escritos sobre o tema produzidos entre 1911-1919, principalmente em Metafísica da juventude, o filósofo buscou evidenciar como a necessidade da reforma espiritual é premente em sua época e a ideia da crítica do jovem pela sua escrita é indicada como tarefa (Aufgabe). A escrita de diários, explorada no ensaio mencionado, é a forma íntima do jovem elaborar sua própria singularidade, constituindo-se como um campo semântico na Filosofia da Educação. Ao lado da produção em revistas acadêmicas e do uso da palavra em agremiações estudantis-atividades exercidas por Benjamin à época-, constituem-se como elementos de formação mais geral (Bildung), incluídas também em suas reflexões sobre a prática estudantil.
Em nome do Pai: autoritarismo e discurso patriarcal n’O Ateneu, de Raul Pompéia
O presente artigo discute elementos pontuais da narração do romance O Ateneu (1888), de Raul Pompéia, e interpreta as rememorações de seu narrador – Sérgio – como desenvolvimento de um discurso de poder patriarcal, que, antes de criticar imparcialmente as mazelas do ensino em um internato da época, acaba por reproduzir, através da repetição do discurso paterno, o conservadorismo paralelamente trazido de casa. Neste sentido, pretende-se relativizar o elemento puramente memorialístico da narração em face do lugar ideológico desta mesma voz narrativa, que se torna, por si só, o ponto central da crítica de Pompéia ao Brasil Monárquico.
A jornada do herói Sérgio e dos outros meninos n’O Ateneu, de Raul Pompeia
2019
O percurso de Sergio e dos outros meninos n'O Ateneu, de Raul Pompeia, e tema desta dissertacao que investiga como as etapas de formacao do heroi sao analogas a jornada vivida por estudantes do romance realista de Pompeia, partindo do pressuposto de trajetoria sistematizada por Joseph Campbell, que propoe o percurso sendo expresso por meio do monomito, cuja estrutura nuclear comporta as fases da trajetoria do heroi, a saber: separacaoiniciacao-retorno. Percebemos no Ateneu um ambiente de sobrevivencia, deformacao e desumanizacao, em que as cenas de violencia compoem a trajetoria dos internos no Brasil do seculo XIX (recriado por meio da ficcao). O internato e espaco essencial na formacao humana (do heroi), sendo o Ateneu o oposto ao ambiente de formacao de herois. Para tanto, a abordagem teve como fundamentacao teorica: os estudos sobre o Romance, do romantismo e do realismo europeus e brasileiros em Ian Watt, Antonio Candido e Alfredo Bosi; a trajetoria e as transformacoes do h...