As limitações do conceito de autonomia no liberalismo (original) (raw)

Liberalismo e o fardo da autonomia: sobre o custo que não se quer pagar pelo privilégio de ser livre

Teoria e História conceitural dos direitos humanos e da democracia, 2022

Há uma citação popularmente conhecida, e erroneamente creditada à Nietzsche, que foi feita em 1935 pelo poeta Rudyard Kipling, na qual este afirma: "o indivíduo sempre teve que lutar para evitar ser sobrepujado pela tribo. Ser a si mesmo é um negócio difícil. Se você tentar, você geralmente estará sozinho, e às vezes amedrontado. Mas nenhum preço é tão alto a se pagar pelo privilégio de terse a si mesmo" 2. A relação entre liberdade e autonomia de um indivíduo que vive em sociedade é um dilema clássico que corriqueiramente tende a reaparecer nos debates sobre filosofia política. Isso, entretanto, não é extraordinário. A complexidade da vida social e do movimento da "tirania da maioria", como costuma falar John Stuart Mill, interfere diretamente não só no modo como as pessoas vivenciam e lutam pela liberdade, mas também na própria ideia do que seja a liberdade. Recentemente, na História da Filosofia, esse antagonismo entre indivíduo e sociedade foi reinaugurado pelo embate entre teorias liberais e comunitaristas. Todavia, a questão que se propõe analisar neste texto apenas tangencia essa contraposição. O que se pretende, na verdade, é observar muito mais o papel da liberdade e da autonomia para formação daquilo que definimos como subjetividade individual, ou o self. Em face desse problema, qual o custo identitário da liberdade como capacidade de autodeterminação? Qual o preço a se pagar para ser em si? Ser livre é um privilégio que se goza só? Ao fazer esses questionamentos, o leitor poderia acreditar que este é um texto sobre o custo econômico dos direitos. De fato, o corte econômico é uma pauta extremamente importante e necessária ao se analisar a prática da liberdade. Entretanto, a escolha de termos econômicos, como "custo" e "preço", explica-se pela consideração de que a liberdade não só tem um valor econômico, mas também é um valor moral e político. Para responder a essas perguntas, é preciso começar pela elaboração de um conceito de liberdade intermediado por uma individualidade autônoma que se mostra problemática. O itinerário desse problema será traçado no contexto da filosofia política do século XX e XXI, com base em três obras: Two concepts of liberty (1958), de Isaiah Berlin, In the beginning was the deed (2008), de Bernard Williams, e O Direito da Liberdade (2011), de Axel Honneth 3. Obviamente, outros autores e obras serão citados e poderiam ser aqui elencados, entretanto, a escolha por esses três textos se fundamenta metodologicamente no fato de que

Sobre as concepções de liberdade

Sobre as concepções de liberdade, 2018

Sobre as concepções de liberdade a partir da leitura de “Da liberdade dos antigos contraposta à dos modernos”,de Benjamin Constant; de “Virtude e Terror”, de Maximilien de Robespierre; de “Sobre a liberdade” de John Stuart Mill; e de “A questão judáica” de Karl Marx; além da utilização em segundo plano das reflexões traçadas em sala de aula

Liberdade: conceitos básicos, teorias, problemas

Revista Direito, Estado e Sociedade, 2014

O objetivo deste estudo é a exposição de alguns conceitos, teorias e problemas sobre o tema da liberdade. Cumpre, no entanto, enfatizar que o propósito ou a razão final do que aqui se pretende levar a efeito é a expli-citação do problema da liberdade especificamente no ...

Liberdade e liberalismo

Projeto História : Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História

Os anos 1940 foram marcados por uma intensa atividade tanto no cenário internacional quanto no âmbito interno. Internacionalmente, as consequências do fim da Segunda Guerra Mundial, o início da Guerra Fria e as políticas internacionais adotadas pelos Estados Unidos influenciaram significativamente os acontecimentos globais. Domesticamente, tivemos o fim do Estado Novo e os intensos debates em torno de projetos de país. Nesta tecitura, os ideários políticos foram colocados em movimento, com longos debates sobre autoritarismo, liberalismo e democracia. O objetivo deste artigo é reconstruir parte desses debates, destacando as disputas em torno do tema da liberdade e, consequentemente, do liberalismo e do nascente neoliberalismo. Utilizaremos como ferramenta de análise os debates ocorridos nas três primeiras edições dos Congressos Brasileiros de Escritores (1945, 1947 e 1950), assim como a repercussão desses debates na imprensa. Através das categorias de "espaço de experiência&quot...

Sobre a liberdade de ser escravo - algumas anotaçoes sobre o neliberalismo e o bolsonarismo

2020

Para analisar e pensar a respeito do que parece ser um movimento que poderíamos denominar como niilismo de Estado -aflorado já quase sem pudores cínicos em terras brasileiras -, é preciso o resgate das denúncias que, no século XX, foram cruciais para a formatação do mundo político posterior à, como diria Guy Debord, integração da Sociedade do Espetáculo: o diagnóstico de esgotamento do projeto iluminista. Cabe ressaltar, no entanto, que este não fora apenas algo sinalizado por Adorno e Horkheimer, mas também por um dos pensadores cruciais da chamada nova liberdade que deveria sobrevir às "sevícias" e "tiranias" do poder organizador do Estado: Friedrich Hayek, autor

O impasse liberal-positivista sobre as liberdades básicas

2012

Resumo: O filósofo liberal norte-americano John Rawls, a partir de sua obra Uma teoria da justiça (2000), irá recolocar em discussão o tema da justiça no centro do debate filosófico-político da atualidade. Essa retomada propiciou uma série de debates e diálogos com outros importantes autores. Nesse contexto surge o diálogo entre Rawls e Herbert L. A. Hart (1975), um dos autores mais influentes do pensamento jurídico positivista contemporâneo. Hart apresenta duas objeções à construção principiológica na teoria da justiça de John Rawls, apontando controvérsias na fundamentação do que denomina "prioridade das liberdades básicas" e de seu alcance institucional. As críticas de Hart à Rawls fazem com que este último reformule alguns argumentos sobre a ideia de uma sistematização das "liberdades básicas". Tal reformulação chega ao ápice com a conferência nº VIII da obra Liberalismo político , onde Rawls tentará responder às críticas de Hart reafirmando a legitimidade de sua teoria. O presente ensaio tratará, então, de verificar os contornos argumentativos de Rawls diante das críticas de Hart. Palavras-chave: Justiça. Democracia. Liberalismo. Liberdades básicas. Estado constitucional democrático. Sumário: 1 Introdução -2 Concepções "(re)visadas" -3 Fundamentação e abrangência -4 Conclusão * Categoria: Artigos científicos. 1 A obra Uma teoria da justiça (RAWLS, 2000) versa sobre os dilemas da democracia liberal. Apresenta um ideal igualitarista-democrático, mostrado como alternativa ao liberalismo clássico. Rawls enfrenta o utilitarismo como uma doutrina geral de maximização do princípio da utilidade.

Liberalismo versus republicanismo: notas sobre o conceito de liberdade

Este artigo tem como objetivo contrastar as perspectivas liberal e republicana sobre o conceito de liberdade. Através da comparação feita entre os dois modelos tecemos considerações sobre a realidade brasileira tendo como foco o atual estado de crises advindas dos casos de corrupção no país.