A aura em Walter Benjamin e a radicalidade de Adorno (original) (raw)

Quando a teoria crítica desenvolvida pela Escola de Frankfurt analisa a mudança da práxis artística em torno das transformações sociais e econômicas, podem-se observar algumas divergências de pensamentos entre Benjamin e Adorno Eles verificam a passagem da função ritualística para a função política da arte através das novas técnicas de reprodução, por caminhos diferentes. A teoria materialista da arte em Walter Benjamin não apresenta uma posição fiel aos princípios do marxismo. Sua análise do conceito estético em torno das transformações sociais e econômicas é feita através de uma influência mística judaica. Quando a obra de arte se torna mercadoria, a partir do momento que não pertence mais a aristocracia e a esfera religiosa, ocorre uma transformação e surge uma nova concepção de arte quando a aura é afetada. Termo judaico e conceito fundamental no pensamento de Benjamin, a aura, designa o caráter ritual e o poder de testemunho histórico, contido naquela materialidade única da obra. Com as novas tecnologias a obra de arte não pertence mais à concepção que a considerava uma obra de arte tradicional. O que a tornava um objeto de culto e para poucos, o que garantia seu “status” de objeto raro, agora se transforma em produto. Ao trazer o método marxista de crítica ao modo de produção capitalista para o campo artístico, Benjamin discorda dos princípios intelectuais de Adorno, o principal crítico à sua teoria materialista da arte. Para Adorno, Benjamin não justifica a dicotomia que existe entre a arte tradicional e arte tecnológica e comete um engano ao fazer a distinção através do aspecto aurático da obra, pois, ele não relaciona corretamente as relações de produção com a força produtiva. Através da influência mística judaica, a partir de uma teologia negativa da arte, Benjamin encara a liquidação do conceito tradicional de arte de forma positiva. A liquidação do conceito tradicional conduz o processo produtivo coletivizado a transcender a divisão do trabalho, entre o artista e o técnico, o trabalhador intelectual e o manual. O termo teologia negativa é empregado para descrever a situação da “art pour l’art” na sociedade burguesa. Este argumento pode reforçar para Adorno, uma atitude reacionária e burguesa, visto que, a arte se encontraria numa esfera inatingível, ao mesmo tempo em que nega a unidade e a violência das forças produtivas. Quando Adorno baseava sua filosofia marxista na experiência estética, seu objetivo não era politizar a filosofia, mas reconstituir a relação dialética entre sujeito e objeto. O antagonismo no conceito de técnica demonstra este duplo caráter artístico, a função técnica submetida à força produtiva, conforme suas relações sociais apresentadas e seu caráter lírico de criação. O lírico se eleva ao nível universal, todo sentimento lírico imprimido na obra tem um fator social, esta universalidade do conteúdo lírico é social. O ponto de partida, mediante sua análise sobre a aura do objeto artístico, permite entender a dessacralização do mito na herança cultural. Benjamin desmistifica e situa a arte nas relações da produção, enquanto Adorno encontra um campo hermético para uma autonomia artística.