Timor Leste : 6 décadas depois (original) (raw)

Timor-Leste - Passado, Presente e Futuro

2022

O ano de 2022 marca o 20° aniversário da restauração da independência de Timor-Leste. Com o intuito de celebrar esta importante e significativa data, a revista Diálogos propõe o tema: Timor-Leste – Passado, presente e futuro. Nesta sétima edição, reunimos artigos que abordam múltiplas experiências e narrativas acerca das dinâmicas sociais, dos sistemas educativo, político e de saúde, relações de poder, produção de conhecimento e aspectos simbólicos da sociedade timorense. The year 2022 marks the 20th anniversary of the restoration of Timor-Leste's independence. To celebrate this important and significant date, Diálogos Journal proposes the theme: Timor-Leste – Past, present and future. In this 7th edition, we bring together articles that address multiple experiences and narratives about social dynamics, the educational, political and health systems, power relations, production of knowledge and symbolic aspects of the Timorese society.

Timor-Leste, a guerra e as memórias delas

Plural Pluriel, 2018

Introdução Timor-Leste foi invadido e ocupado pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial. A ocupação japonesa representou cerca de 80.000 mortos e a escravatura sexual de milhares de mulheres timorenses. Antes da proclamação da independência em 28 de Novembro de 1975 tinha decorrido uma curta mas violenta guerra civil para, a 7 de Dezembro do mesmo ano, o território ser ocupado militarmente pela Indonésia durante 24 anos. Esta guerra de ocupação redundou em cerca de 200.000 mortos, um quarto da população total, deslocações maciças de pessoas, campanhas de esterilização de mulheres e repressão generalizada. A independência política foi restaurada em 2002, três anos após a destruição pelo fogo de 85% das infraestruturas materiais do país em Setembro de 1999, meio milhão de deslocados e cerca de 3 milhares de mortos (Robison, 2003). Desde então, a transição pós-bélica tem contado com inúmeros episódios de violência. Nenhuma sociedade passa de forma indelével por qualquer guerra pois, para além do seu carácter traumático, da destruição, da privação, do medo e da morte sentidas e vividas por estas sociedades continua a considerar-se que os conflitos bélicos são coisas de e entre homens. Mais uma vez, a economia nacionalista mascara, de uma maneira particular, a participação das mulheres, meninas e velhas assim como aquilo que pode representar, especificamente para elas, uma longa e dolorosa experiência de guerra e das espirais de violência que dela resultam. Quando os combates feitos com os tiros de morteiros e metralhadoras acabam isso não determina que outras guerras, cruéis e persistentes continuem, insidiosamente, a alimentar-se das muitas violências que existem escondidas quando se vê chegar aquilo a que se chama paz. Para muitas mulheres timorenses a frente de batalha foi a sua própria casa à qual se juntou a frente militar, propriamente dita, cada vez que o confronto foi inevitável. Esta experiência é comum a muitas mulheres que ficam expostas a situações de conflito violento. Nira Yuval Davis (1997: 95 et seq) explica como as estratégias de guerra usam de forma clara os géneros dando o exemplo da deslocalização da battle front para o espaço doméstico onde as mulheres costumam permanecer

Timor-Leste: um ano depois da chuva

Esta é uma reflexão realizada precisamente quando passa o primeiro ano do VI Governo Constitucional de Timor-Leste (VIGC), liderado pelo Primeiro-Ministro Rui Maria de Araújo. O propósito não é contar a história de um notável ano de êxitos da nossa governação. Prefiro deixar essa avaliação ao nosso povo. O objetivo aqui é informaras pessoas sobre um processo político complexo, que vem sendo desenhado por experiências que remetem para uma luta de 24 anos pela libertação nacional, e avaliar o papel decisivo desempenhado por Kay Rala Xanana Gusmão. Agora, em tempo de paz, avaliamos os desafios enfrentados pela coligação que tornou possível o V Governo Constitucional e a convergência mais recente dos dois principais partidos políticos do país –CNRT e FRETILIN. A maneira pouco convencional como o Primeiro-Ministro Xanana Gusmão tratou da sua sucessão política, baseado na doutrina da política de transição, também conhecida por “paradigma de transição”, com base na qual a geração mais velha, dos anos sessenta, passava o comando do país para a geração seguinte, tem sido mal-entendida. O sucesso do Governo de Rui Araújo deixou clara a necessidade de os céticos compreenderem este paradigma. A maneira como Xanana Gusmão interveio, desde o tempo da luta de libertação nacional, conhecida em Português por "A Luta", também é analisada com brevidade, tal como a forma como ele passou o leme do Governo. Por último, conclui-se que Xanana Gusmão adotou e prossegue o princípio de Frank Sinatra: faço as coisas à minha maneira. A maneira de Xanana Gusmão fazer as coisas tem conseguido, até agora, manter o país calmo e em paz.

Timor-Leste: um ano depois da chuva1

Esta é uma reflexão realizada precisamente quando passa o primeiro ano do VI Governo Constitucional de Timor-Leste (VIGC), liderado pelo Primeiro-Ministro Rui Maria de Araújo. O propósito não é contar a história de um notável ano de êxitos da nossa governação. Prefiro deixar essa avaliação ao nosso povo. O objetivo aqui é informaras pessoas sobre um processo político complexo, que vem sendo desenhado por experiências que remetem para uma luta de 24 anos pela libertação nacional, e avaliar o papel decisivo desempenhado por Kay Rala Xanana Gusmão. Agora, em tempo de paz, avaliamos os desafios enfrentados pela coligação que tornou possível o V Governo Constitucional e a convergência mais recente dos dois principais partidos políticos do país –CNRT e FRETILIN. A maneira pouco convencional como o Primeiro-Ministro Xanana Gusmão tratou da sua sucessão política, baseado na doutrina da política de transição, também conhecida por “paradigma de transição”, com base na qual a geração mais velha, dos anos sessenta, passava o comando do país para a geração seguinte, tem sido mal-entendida. O sucesso do Governo de Rui Araújo deixou clara a necessidade de os céticos compreenderem este paradigma. A maneira como Xanana Gusmão interveio, desde o tempo da luta de libertação nacional, conhecida em Português por "A Luta", também é analisada com brevidade, tal como a forma como ele passou o leme do Governo. Por último, conclui-se que Xanana Gusmão adotou e prossegue o princípio de Frank Sinatra: faço as coisas à minha maneira. A maneira de Xanana Gusmão fazer as coisas tem conseguido, até agora, manter o país calmo e em paz.

As mulheres de Timor Leste: entre um passado trágico e um futuro incerto

Neste artigo, num primeiro momento, procura-se traçar um breve quadro analítico sobre os conceitos de paz e de guerra que permita, em seguida, compreender o lugar e o papel que as mulheres têm na construção de uma paz sustentável e duradoura. A leitura analítica proposta apoia-se em paradigmas interpretativos contemporâneos das categorias paz e violência, tais como a inversão epistemológica da paz imperfeita, esclarecidos e apoiados pela crítica feminista e pós-colonial. Na segunda parte, traça-se um panorama sobre a situação, o papel e as funções das mulheres timorenses durante e após a guerra ocorrida em Timor Leste entre 1975 e 1999. Através da conjugação da análise teórica e empírica, tem-se como objectivo lançar as bases para uma hermenêutica crítica dos postulados sexistas ainda presentes nos estudos para a paz.

Timor-Leste: a nação delas

Este meu trabalho tem como objetivos, por um lado, situar esse período trágico mas também de ressurgimento político para Timor-Leste e, simetricamente, também para Portugal, que foi o processo político começado em 1999 e que desembocou na restauração da independência deste país em 2002. Porque a independência política não é absoluta regeneração, começo absoluto, tempo inaugural completo, pretendo mostrar como a ideia de nação libertada se autoconfina deixando de fora as múltiplas vozes que, falando, não estão a ser ouvidas ou levadas a sério.