Tempo, ruptura e historiografia: as redefinições da escrita da história na modernidade (original) (raw)
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Desafios ao fazer historiográfico contemporâneo
A validade do conhecimento histórico havia sido questionada pelas Ciências Sociais nascentes durante a primeira metade do século XX. Com as contribuições de historiadores membros dos Annales, como Lucien Febvre, Marc Bloch e Fernand Braudel, foi possível a sobrevivência da História-disciplina através do diálogo com as Ciências Sociais e a adoção de metodologias e conceitos delas oriundos, além do desenvolvimento de uma nova concepção de História e de Tempo Histórico. Contudo, durante a segunda metade do século XX, o pensamento ocidental viu abalado vários de seus paradigmas pelo chamado giro inguístico, que exerceria uma duradoura influência não apenas na História, mas em todo o conjunto das Ciências Humanas. Mas o giro linguístico não foi o último desafio imposto à História e ao fazer historiográfico durante a segunda metade do século XX. Com o advento do giro cultural, e a mudança do regime de historicidade do mundo pós-1989, os historiadores são forçados, uma vez mais, a refletirem seriamente sobre a sua prática.
A Historiografia entre modernidade e contemporaneidade
Intelligere, 2021
A introdução da contemporaneidade no campo historiográfico e científico não foi o simples acréscimo de uma nova era numa divisão periódica da história preexistente: ela foi precedida por uma nova percepção político-social, e implicou em mudanças metodológicas tanto quanto numa cisão no antigo conceito de modernidade. O artigo tenta abordar, de maneira sintética, essas mudanças, as condições em que se originaram, e suas implicações, cujas consequências ambíguas se fazem sentir até o presente.
Historiografia literária contemporânea- Experiências cruzadas
2019
Através da leitura crítica de experimentos contemporâneos de historiografia literária, a tese Historiografia literária contemporânea: experiências cruzadas desenvolve um modelo teórico que reflete a expansão do fenômeno literário e a produção de conhecimento multidisciplinar nas áreas dos Estudos de Literatura e de História. Considerando o espaço híbrido ocupado pela historiografia literária, que une em sua escrita discursos científicos e narrativas literárias, a investigação enfatiza a dinâmica complexa dos processos interativos entre corpo, mente e ambiência. Nesta ótica, avalia-se o descompasso entre a criatividade experimental de historiografias (literárias) atuais em sua configuração estrutural e temática e a oferta de repertórios teóricos atentos aos cruzamentos da percepção sensível e do pensamento inteligível. Os experimentos historiográficos analisados demandam pressupostos epistemológicos alinhados com formas de conhecimento atravessadas por sensibilidades e intuições que orientam as relações entre texto e contexto, entre história e literatura, entre observador e objeto observado. Eles são investigados em vista da elaboração de novas ferramentas que enfatizam processos de retroalimentação entre afecções do corpo, processos cognitivos e experiências situadas. Este cruzamento de múltiplos saberes e olhares, de ideias e afetos na percepção sensorial e na reflexão racional, encontra apoio, entre outros, em propostas desenvolvidas por António R. Damásio acerca das relações entre corpo e mente no campo das neurociências, na concepção da cultura como hipertexto apresentada por Stephen Greenblatt no contexto do ideário do New Historicism e no projeto não-hermenêutico de Hans Ulrich Gumbrecht, contrapondo à hegemonia da cultura de sentido uma cultura de presença, com acento sobre a materialidade da comunicação. Em suma, a presente tese, propondo uma reflexão nos interstícios do corpo e da mente, representa uma contribuição oportuna para uma inovação e ampliação significativa de formas e estratégias de construção de conhecimento na área dos Estudos de Literatura, a partir do diálogomultidisciplinar marcado pela mediação entre reflexão teórica e prática literária, que caracteriza historiografias literárias contemporâneas.
O modernismo na historiografia literária
Opiniães, 2022
O artigo desenvolve o conceito de modernoa partir da etimologia da palavra e passa a discorrer sobre seu uso, culminando na acepção valorativa do termo em relação ao seu oposto, o antigo. Em seguida disserta sobre a adoção do termo para se referir às estéticas no período subsequente à Primeira Guerra (1914-1918) e sobre seus modos de produção na lírica, na prosa e nas artes dramáticas. Entende, ademais, que o modernismo desafia a capacidade de seu interlocutor, o público, por meio de recursos que problematizam o diálogo direto entre agentes e receptores das artes modernas. Para tanto, faz um levantamento da origem da palavra modernoe suas variações (modernismo, modernista) nas letras nacionais, em textos escritos por nomes como, entre outros, José Veríssimo (1857-1916), Ronald de Carvalho (1893-1935) e Nélson Werneck Sodré (1911-1999). Por fim, defende que mesmo uma definição unívoca para moderno, nesses textos iniciais, encontra visões díspares e acepções as mais variadas. Após comentar sobre o uso inicial e o conceito do moderno nas artes brasileiras, o artigo apresenta, no mais, leituras sobre as várias vertentes modernistas e as possibilidades de um marco que estabeleça o fim do modernismo em estudos recentes da historiografia literária brasileira
História da Historiografia, 2024
O objetivo deste artigo é problematizar algumas das tensões em torno do conceito de modernidade. Central para diferentes áreas das ciências humanas, “modernidade” congrega, em um mesmo vocábulo, um conceito e uma proposta de periodização, ambos instrumentos essenciais da escrita historiográfica. Pretende-se aqui explorar de que forma a análise do conceito de modernidade, em conexão com uma ideia específica de universalismo, pode nos ajudar a compreender algumas características presentes nas concepções historiográficas europeias formuladas no século XIX, mas que deixaram marcas persistentes ao longo de grande parte do século XX. Nessa direção, buscou-se avaliar de que maneira o conceito de modernidade acabou fornecendo os parâmetros a partir dos quais as sociedades dos demais continentes seriam julgadas e, ato contínuo, hierarquizadas, com os povos da Europa ocidental ocupando o vértice dessa pirâmide classificatória.
Entre redescobertas e emergências: história pública e escritas biográficas no tempo presente
Fio que se faz trama, 2022
O capítulo Entre redescobertas e emergências: história pública e escritas biográficas no tempo presente, elaborado por Ricardo Santhiago (UNIFESP) e Viviane Borges (UDESC), é dedicado à produção acadêmica e às investigações das conexões possíveis entre a História do Tempo Presente e a História Pública. O mote para esse cruzamento foi articulado pela biografia e, neste capítulo, foi costurado a partir do seu entendimento como um gênero híbrido, amplo e em permanente mutação, que responde às injunções do próprio tempo e às inquietudes do sujeito de sua construção. Como bem destacado no texto disponibilizado para leitura, buscou-se discutir caminhos que possibilitaram tornar a biografia um canal de comunicação histórica, ativando memórias a respeito de sujeitos invisibilizados e também de participação a partir do entendimento da história pública como uma plataforma social na qual diferentes sujeitos, mediante seus espaços de atuação e repertório, interagem e elaboram visões sobre o passado. Como estudos de caso, Santhiago e Borges trouxeram para a leitora e para o leitor as trajetórias de artistas como a cantora Míriam Batucada e o artista plástico português José Joaquim de Almeida, o Pinho.