Tolerância é doença (original) (raw)
1999, Tolerância é Doença
Semana passada li uma resenha sobre a vacina contra o câncer. As últimas pesquisas revelam que o organismo, quando submetido a infecções bacterianas, pode deter um processo cancerígeno e também ficou claro em estudos laboratoriais, que a proliferação de tumores cancerígenos resulta de uma tolerância orgânica ao processo agressivo. Pesquisa-se uma vacina que acabe com a tolerância, a fim de permitir ao organismo destruir essas celulas que proliferam. Tolerância e adaptação são os objetivos finais da psicologia e biologia ligadas à tradição dualista do século XIX. Até 1970, vivíamos quase exclusivamente nesse referencial. Quando, sob o ponto de vista psicanalítico, defendia-se a liberação, o desbloqueio, trabalhava-se com o conceito implícito de homeostase, pressuposto básico do conceito freudiano de pulsões, libido, instinto e estâncias psíquicas. O desenvolvimento dos estudos bioquímicos, o entendimento dos neurotransmissores, o aperfeiçoamento do conhecimento endocrinológico têm nos obrigado à compreensão e globalização conceituais, pois as explicações dualistas e elementaristas provadamente não funcionam, são pequenas para abranger as evidências nosogênicas. Já não é possível pensar em corpo e alma, físico e psíquico da mesma forma que Descartes. Antônio Damasio (1), neurologista autor do livro o "Erro de Descartes", diz: "E os sentimentos não são nem intangíveis nem ilusórios. Ao contrário da opinião científica tradicional são precisamente tão congnitivos como qualquer outra percepção. São o resultado de uma curiosa organização fisiológica que transformou o cérebro no público cativo das atividades teatrais do corpo. Os sentimentos