A relevância de uma planta urbana de Lisboa para a História da Cartografia Portuguesa (original) (raw)
A Divisão de Cartografia da Biblioteca Nacional do Brasil contém na sua coleção de mapas manuscritos anteriores a 1800, uma planta urbana da cidade de Lisboa. Esta planta não contém qualquer título ou outro apontamento que indicie a data de execução ou a autoria. As poucas referências textuais presentes no documento servem sobretudo para localizar alguns edifícios religiosos. Acresce ainda uma anotação marginal, bem como a numeração de algumas ruas, que seriam a chave de uma legenda dos topónimos viários. E, contudo, é evidente que se trata de uma planta de Lisboa, encontrando-se representada uma vasta extensão da área urbana a ocidente das muralhas fernandinas até à Junqueira. A análise pormenorizada dos espaços e quarteirões representados, em conjugação com outros factos conhecidos através da História Urbana e da História Cartográfica da cidade, permitem deduzir que esta planta representa um levantamento topográfico executado no último decénio do século XVI, a pedido de Filipe II de Espanha, I de Portugal, no contexto dos ataques ingleses e holandeses à costa de Portugal, com objetivo de programar a defesa urbana. Mas o interesse absoluto desta planta não se esgota na sua relevância para o conhecimento olissipográfico, sendo aliás anterior à mais antiga planta urbana conhecida de Lisboa: a de João Nunes Tinoco desenhada em 1650. Esta planta é igualmente importante para a História da Cartografia Portuguesa, não só porque faz parte do reduzido grupo de exemplares de plantas urbanas datadas do último quartel do século XVI que chegaram até hoje (caso das plantas do Funchal, Sesimbra, Vila do Conde, Guimarães, Cascais), mas sobretudo porque corresponde a uma versão de trabalho (e não à versão final de apresentação), permitindo através dos muitos pormenores representados ficar-se a conhecer alguns dos métodos e processos de registo e de levantamento topográfico utilizados à época. Por estas últimas particularidades, propõe-se na comunicação a apresentação e análise desta planta urbana de Lisboa.