O MITO GREGO E OS CONTOS DE FADAS: NARRATIVAS SOBRE A MATERNIDADE (original) (raw)
O presente artigo é fruto da pesquisa Levantamento de Narrativas sobre o Cuidado Materno presentes em Mitos e Contos de Fadas, a qual investigou o imaginário social sobre a maternidade, tendo em vista pesquisas recentes que apontam para a presença de altas expectativas em relação à figura materna, aliadas à insuficiência de apoio social à mãe em nosso país. Selecionamos dentre mitos gregos e contos de fadas, consultados em literatura especializada, aqueles que veiculam imagens sobre a relação mãe-criança, como protótipos da expectativa social que se transmite por objetos da cultura. Seis mitos e sete contos foram analisados à luz das ideias winnicottianas sobre a maternidade, sendo identificados dois campos de sentidos afetivo-emocionais que perpassam a construção de duas figuras maternas nessas narrativas míticas: a mãe zelosa, que coloca os filhos acima de qualquer ideal ou necessidade, não medindo esforços para proteger a prole, e seu oposto, a madrasta ou bruxa, que não hesita em aniquilar um filho para satisfazer um capricho pessoal. Ambas são descritas como figuras idealizadas, onipotentes e onipresentes, refletindo uma visão dicotômica acerca da maternidade que se mantém até os dias de hoje, alimentando fantasias, expectativas e teorias sobre o papel da mãe, enquanto única responsável pela saúde física e mental dos filhos. Fadas, deusas e bruxas parecem ainda habitar nosso imaginário sobre a maternidade, definindo condutas intolerantes e incompreensivas.