Judith Butler e os Enquadramentos do Poder: uma análise dos discursos que circunscrevem os limites das vidas passíveis de luto (Resenha do livro Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto?, Revista Sapere Aude - PUC Minas) (original) (raw)
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Corpos Despossuídos: Vulnerabilidade em Judith Butler
Dissertação de Mestrado em Psicologia - UFSC, 2018
O presente trabalho, intitulado Corpos Despossuídos: Vulnerabilidade em Judith Butler, busca investigar os usos e as modulações da noção de vulnerabilidade na obra da filósofa norte-americana Judith Butler. A autora, em um primeiro momento de sua obra, problematizou os temas de sexo, gênero e materialidade corpórea dentro do pensamento feminista. Butler apontava a falência da política identitária das lutas feministas e sugeriu uma outra forma de compreender o gênero, a partir do que chamou de performatividade do gênero, solapando a divisão metafísica sexo/gênero. Colocando-se contra qualquer doutrina que sustente a materialidade corpórea como “superfície de inscrição”, para Butler é preciso tematizar a responsividade do corpo, situando-a na órbita de uma agência politicamente necessária. Tal intento levou a autora a teorizar a vulnerabilidade do sujeito enquanto categoria linguística, isto é, a abertura do sujeito aos regimes normativos que, paradoxalmente, permitem sua agência. Após os atentados de 11 de setembro, Butler volta a tematizar a vulnerabilidade, mas em termos sensivelmente diferentes. A “invulnerabilidade” projetada pelos Estados Unidos leva a filósofa à consideração da importância da vulnerabilidade do outro para repensar as categorias políticas e os regimes éticos. Nesse sentido, pensar em questões de luto e reconhecimento exemplificam, para a filósofa, a forma como determinadas vidas podem estar mais expostas ao perigo; mais vulnerabilizadas, portanto. Repensar a vulnerabilidade em termos de ética demanda reconhecer a precariedade da vida, isto é, sua característica de dependência fundamental e de exposição ao perigo. Isso leva a autora a questionar o modo como a ontologia considera o corpo, colocando-o como unidade discreta ou superfície de inscrição. Para Butler, é preciso de uma ontologia corpórea que considere essa dimensão de relacionalidade do corpo. Por último, a vulnerabilidade, para a filósofa, não se confunde com uma posição de passividade ou de exclusão: ao contrário, vulnerabilidade implica em resistência na medida em que corpos, ao exibirem essa vulnerabilidade, encenam uma resistência aos poderes instituídos, reconfigurando a gramática do reconhecimento. Argumenta-se, nesse sentido, que vulnerabilidade pode ser considerada como uma “chave de leitura” possível de sua obra.
DILEMAS: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, 2021
Em decorrência da pandemia de Covid-19, escolas ficaram fechadas a maior parte de 2020 por não serem serviço essencial. Ao mesmo tempo, havia uma indefinição jurídica sobre a essencialidade do trabalho doméstico. Como a empregada doméstica Mirtes não tinha onde nem com quem deixar seu filho Miguel enquanto trabalhava, ela leva a criança à casa dos patrões. Horas depois, ele cai do nono andar. Essa história fornece um estudo de caso para aplicarmos conceitos butlerianos, como vulnerabilidade e luto: ao ser deixado sozinho no elevador, a humanidade de Miguel não foi reconhecida. Este artigo conclui por fim que a pandemia foi condição necessária, mas não suficiente para a morte de Miguel: se não fosse o reconhecimento diferencial de vulnerabilidade/humanidade, provavelmente, este estudo de caso não existiria, pois o menino estaria vivo.
O direito para Judith Butler: poder, sobrevivência, transformação
O direito para Judith Butler, 2024
Neste artigo, examinarei as ideias de Judith Butler sobre o direito. A tarefa não é trivial, já que a filósofa estadunidense muito escreveu sobre ética e política, mas não desenvolveu de forma detalhada suas ideias acerca do campo jurídico. Buscarei organizar seus argumentos por meio da proposição de três figuras em que apresenta o direito: poder, sobrevivência e transformação. Considerando que Butler, desde o início de sua trajetória, ressalta as ambivalências daquele campo; não pensarei as três figuras de maneira estática, mas as reconstruirei com base em ênfases em determinados papéis que o direito pode vir a desempenhar em contextos diversos. Tentarei defender, ao final, que certas normas jurídicas podem ter uma relação peculiar com a ética na medida em que asseguram a possibilidade de contestar e, potencialmente, desfazer o próprio direito.
Revista Rosa, 2021
"Começo esta resenha do livro de Carla Rodrigues pelo fim. Não pretendo com isso nem adiantar as suas conclusões, nem expor a delicadeza com que a autora nos envolve nessa trama tecida entre vida, morte, amor, filosofia e política e que se revela em toda a sua profundidade ao final. Quero, antes, tentar recuperar com as palavras um sentimento complexo que, depois de duas leituras atentas do livro, permanece em meu corpo." Acesso em: https://revistarosa.com/4/o-luto-entre-clinica-politica
Judith Butler: Filósofa da vulnerabilidade
Revista Lugar Comum, 2018
RESUMO: Pretendemos neste artigo apresentar Judith Butler como uma filósofa da vulnerabilidade. Nesse sentido, encontramos nas obras iniciais da filósofa elementos para repensar a categoria do sujeito. A maioria das leituras de Butler salienta o conceito de performatividade, e embora essa categoria seja central, ela não é a única que Butler lança mão para reconsiderar o sujeito. A vulnerabilidade apareceria aí como elemento chave na formação subjetiva. Nas obras pós 11 de setembro, vulnerabilidade reaparece, mas para salientar a precariedade constitutiva da vida. Nesse momento de sua obra, Butler tematiza questões como ética, luto e enquadramentos normativos. Procuramos sistematizar a noção de vulnerabilidade para a filósofa norte-americana passando por quatro possíveis dimensões extraídas de sua obra.