O casamento e a emancipação feminina no teatro simoneano (original) (raw)

Teatro romântico e escravidão

Como o teatro brasileiro dos tempos românticos representou o negro e a escravidão nos palcos e nos textos dramáticos? O artigo tenta dar uma resposta a essa questão -passando em revista as principais obras e autores que a abordaram -, a partir de uma sugestão colhida em texto de Brito Broca, para quem a literatura brasileira fez abolicionismo romântico e realista. Palavras-chave: teatro romântico, teatro realista, história do teatro brasileiro. Abstract: How did the Brazilian theatre of a romantic epoch represent the Negro and the slavery on the stage and dramatic texts? The article tries to give an answer to that question, by going through the main works and authors that focused on the question, beginning with a suggestion found in a text by Brito Broca, to whom the Brazilian literature created a romantic and realistic abolitionism. Keywords: romantic theatre, realistic theatre, history of the Brazilian theatre. teresa revista de Literatura Brasileira [12|13 ] ; São Paulo, p. 94-111, 2013 • 95 Meu ponto de partida para esta breve apresentação é o artigo de Brito Broca, intitulado "O bom escravo e As vítimas-algozes", escrito em 1958 e publicado no livro Românticos, pré-românticos, ultrarromânticos. 1 Ele comenta algumas obras que abordaram a questão da escravidão, no período romântico, e formula a seguinte hipótese: a propaganda abolicionista se fez na literatura de duas maneiras: em uma "mostrando o escravo como uma criatura cheia de virtudes, superando os males da instituição; noutra mostrando-o como um ser infeliz e miserável, levado ao vício ou ao crime por culpa exclusiva do cativeiro. No primeiro caso temos uma imagem idealizada e romântica do negro, que o torna até superior ao branco. No segundo, uma imagem realista: o escravo dificilmente poderia ser bom na condição nefanda a que o relegava o cativeiro". Brito Broca diz ainda que o protótipo do escravo idealizado surge com o romance A cabana do pai Tomás, de Harriet Beecher Stowe, em 1852, com o qual o abolicionismo romântico ganha impulso. Trata-se de um "abolicionismo que pretendia inspirar o horror ao cativeiro por meio da exaltação do escravo". A essa linhagem pertence o romance A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães , e a peça teatral Mãe (1860), de José de Alencar. Ao abolicionismo realista, para usar os termos do autor, pertencem a comédia O demônio familiar (1857), de José de Alencar, e as novelas intituladas As vítimas-algozes (1869), de Joaquim Manuel de Macedo. Brito Broca acrescenta ainda duas obras posteriores ao período romântico em que se encontra o abolicionismo realista: O escravocrata, drama de Artur Azevedo e Urbano Duarte, e A carne, romance de Júlio Ribeiro. É evidente que Brito Broca não esgotou o assunto. Tendo escrito um artigo curto, deu poucos exemplos para ilustrar sua ideia. Se quisermos avançar no mesmo caminho indicado por ele, buscando outras obras e pensando na diferença entre o abolicionismo romântico e o realista, logo de cara perceberemos que quase não temos outros exemplos no terreno do romance. O negro, liberto ou escravo, não ocupou o centro das narrativas em nossa literatura romântica. Além da escrava Isauraque era branca, como todos sabem -e dos negros que protagonizam as novelas de Macedo, outros personagens que poderiam ser lembrados só desempenham papéis secundários. É o caso do moleque Tobias, de A moreninha, de Macedo; de Vidinha, mulata não escrava das Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida; ou de Joaninha, a mulata sedutora de As minas de prata, de José de Alencar. Não há críticas à escravidão nessas obras ou em outras de Bernardo Guimarães,

“A caça ao marido é uma instituição” (?): mulheres em conformidade com o casamento na ficção queirosiana

Poéticas e políticas do feminino na literatura, 2021

Elegemos como recorte, dentro da vasta obra de Eça de Queirós, a análise das personagens femininas em (des)conformidade com o casamento nos romances O primo Basílio e Os Maias, seja em relação ao âmbito institucional e normativo, firmado por intermédio dessa união, ou pelo próprio comportamento transgressor de mulheres, que romperam com os padrões sociais e a moralidade vigente no período oitocentista.

“Figuras femininas e seus amores”. Dans Maria João Brilhante, José Camões, Helena Reis Silva, Cristina Almeida Ribeiro (éd), Gil Vicente 500 anos depois, Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisbonne, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2003, p. 277-289.

À memória de Paul Teyssier, meu mestre, que me abriu o mundo vicentino e respeitou e encorajou este olhar diferente.

O PAPEL FEMININO NO TEATRO ROMANO TARDO ANTIGO

Introdução Ao se falar de entretenimento na sociedade romana a primeira lembrança que surge é os combates de gladiadores (gladiatoria numera) e os jogos executados pelos aurigas nos circos e anfiteatros (ludi circenses), entretanto, os variados tipos de performances teatrais (ludi scaenici) também faziam parte do mundo romano. Durante a antiguidade, o teatro se configurou como um elemento presente em praticamente todos os espaços da sociedade romana. Do seu suposto início contado por Tito Livio, como uma solução para aplacar a cólera celeste, até a teatralidade das discussões políticas, o teatro apresenta em suas: tragédias, comédias, mimos e pantomimas uma representação do modus vivendi romano. Ao refletir sobre História Antiga, tradicionalmente se pensa em grandes homens do mundo greco-romano: Aristóteles, Platão, Plinio, Cicero, Júlio Cesar e Augusto por exemplo. Porem está é uma história de homens, escrita por homens; pouco se vê e menos ainda se estuda o papel da mulher nestas sociedades antigas. Com o avanço dos movimentos sociais feministas, novas pautas são levadas para a sociedade e neste período, a História Social está em pleno vapor, ao trazer para a academia estas novas visões de realidade evocadas; desta forma como diria Jules Michelet " que o historiador é um necromante que dá vida aos homens do passado " , as mulheres do passado ganham vida e o seu papel na sociedade se torna objeto de estudo histórico. Ao se evocar o papel feminino dentro do teatro romano, podemos perceber que essas mulheres eram importantes dentro da esfera do espetáculo, ao ponto ser criado leis para garantir a atuação destas mulheres no teatro e reconhecendo a sua capacidade para tal, contrapondo a visão cristã apresentada pela visão de João Crisóstomo.

Por uma história da dissidência sexual e de sua (in)visibilidade no teatro da Buenos Aires sessentista

Cadernos Pagu, 2018

cadernos pagu tem seu conteúdo sob uma Licença CreativeCommons Por uma história da dissidência sexual e de sua (in)visibilidade no teatro da Buenos Aires sessentista* Brunela Succi** Não somente como subárea da História dita hegemônica, oficial, e de feitura ortodoxa, mas como ressaltou Linda Nochlin no seu emblemático "Why have there been no great women artists?" (1988), como disciplina intelectual, a História da Arte é

A RAINHA D. LEONOR E O TEATRO DE GIL VICENTE: A TEMÁTICA FEMININA NA DRAMATURGIA CORTESÃ

ANAIS DOS ENCONTROS INTERNACIONAIS DE ESTUDOS MEDIEVAIS, 2020

RESUMO A trajetória de Gil Vicente na corte manuelina esteve desde o seu início ligada às mulheres da corte. A primeira admiradora de seu talento foi a rainha D. Leonor, esposa de D. João II e irmã do Rei D. Manuel, seu sucessor. D. Leonor introduziu o dramaturgo na corte e foi a responsável pela encomenda de suas primeiras obras teatrais. Sua primeira aparição aconteceu na câmara da rainha D. Maria, após dar à luz seu primogênito, o futuro D. João III. Nesse início de carreira e até o final do reinado manuelino, Gil Vicente produziu muitos autos com personagens femininas fortes e com um olhar para as questões da mulher em seu tempo. ABSTRACT Gil Vicente's trajectory in the Manueline court, since its beginning, has been linked to the women of the court. His first admirer was Queen Leonor, wife of King João II and sister of King Manuel I. Queen Leonor introduced the playwright into the court and was responsible for commissioning his first theatrical works. His first appearance took place in the chamber of Queen Maria, after giving birth to his firstborn, the future King João III. In this early career and until the end of the Manueline reign, Gil Vicente produced many autos with strong female characters and a look at the issues of women in his time.