Abordagens Metodológicas em Psicologia Organizacional e do Trabalho (original) (raw)
Introdução Este artigo discute a adoção de abordagens multinível e métodos mistos de pesquisa em Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT). Na primeira parte, o texto aborda questões relacionadas à realização de pesquisas em POT que analisam fenômenos que se manifestam e são afetados por variáveis pertencentes a diferentes níveis de análise: macro, meso e micro. Há pesquisas que pretendem compreender e analisar fenômenos pertencentes ao indíviduos e aos seus atributos, e outras que objetivam estudar atributos inerentes a equipes ou grupos de trabalho ou a processos e resultados organizacionais. Para que as pesquisas tenham validade científica, entretanto, é preciso, antes de mais nada, identificar o nível ao qual o fenômeno estudado pertence, uma vez que diferentes atributos ou propriedades de comportamentos e resultados podem ser encontrados. A característica multinível dos fenômenos organizacionais exige a adoção de diferentes estratégias metodológicas. Por esse motivo, a primeira parte deste artigo apresenta uma análise da importância da definição teórica das variáveis estudadas, de acordo com o nível a que pertencem os construtos psicológicos. O desalinhamento entre o nível teórico (definição do constructo) e o nível de análise produz efeitos desastrosos, dentre os quais erros de interpretação e compreensão dos fenômenos, conhecidos como falácia atomística e ecológica, que se caracterizam como erros cometidos pelo pesquisador ao analisar dados em um nível e tirar conclusões para outro. Para evitar esses problemas, o pesquisador deveria seguir os seguintes passos: (1) estabelecer o nível ao qual pertence o fenômeno estudado; (2) definir os constructos de acordo com o nível; (3) criar ou escolher medidas compatíveis com os fenômenos e aos níveis a que pertencem; (4) classificar os fenômenos de emersão, quando os fenômenos de interesse são pertencentes ao nível meso ou macro e são construídos a partir de atributos e processos do nível micro (individual); (5) escolher a melhor forma de descrever e mensurar os atributos coletivos de interesse, a partir de modelos propostos por Chan (1998), denominados: a) aditivo; b) consensual direto; c) mudança de referente; d) dispersão; e e) processo de composição, que possibilitam a classificação dos fenômenos de acordo com o tipo de emersão do nível individual para os níveis mais abrangentes. Mais desafios caracterizam os fenômenos estudados em POT, um dos quais diz respeito à escolha dos métodos de pesquisa: quali, quanti ou misto. Os métodos mistos caracterizam-se pela combinação de distintas estratégias qualitativas e quantitativas de coleta e análise de dados, sustentadas em diferentes paradigmas ou em um mesmo paradigma. Muitos autores sugerem a adoção de estudos mistos por serem mais adequados à complexidade e à natureza dos fenômenos de interesse em POT. A segunda parte deste artigo apresenta uma ampla análise dos métodos adotados em pesquisas nacionais e internacionais da área, visando avaliar o uso dos três métodos em POT. Os resultados dessa análise mostram um claro predomínio de pesquisas quantitativas, e em menores proporções, estudos com métodos qualitativos e métodos mistos. Os últimos ainda não estão muito difundidos, mesmo com sugestões de importantes autores da área, preconizando a aplicação desse tipo de método de modo a abarcar a complexidade dos fenômenos e processos organizacionais. Entre as justificativas para a baixa adesão dos pesquisadores a métodos mistos estão questões de natureza ontológica e epistemológica, ainda de difícil solução, a necessidade de formação de 1 Psicóloga, doutora em psicologia e professora adjunta na Universidade de Brasília. 2 Psicóloga, doutora em psicologia e professora associada na Universidade Federal da Bahia.