O HORROR NA NARRATIVA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DO DISCURSO COLONIAL EM OS PAPÉIS DO INGLÊS E O CORAÇÃO DAS TREVAS (original) (raw)
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A NARRATIVA ESPECULAR E A ENCENAÇÃO DA ESCRITA EM OS PAPÉIS DO INGLÊS, DE RUY DUARTE DE CARVALHO
A NARRATIVA ESPECULAR E A ENCENAÇÃO DA ESCRITA EM OS PAPÉIS DO INGLÊS, DE RUY DUARTE DE CARVALHO, 2018
O presente artigo busca analisar a obra Os papéis do inglês (2000), do escritor angolano Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010), a partir de procedimentos literários próprios da autoficção. A escrita de si, na literatura contemporânea, aponta para um efeito de narrativa em cascata, em que o próprio fazer literário é apresentado ao leitor. Pensando nisso, pretende-se refletir sobre aspectos da encenação da escrita na obra, entendida aqui como estratégia autoficcional, visto que o autor se ficcionaliza e faz com que a elaboração de sua escrita seja parte do enredo. Assim, será investigado o pacto de leitura ambíguo na narrativa para compreender os procedimentos literários aqui objetivados.
O presente artigo visa analisar a obra Os papéis do inglês (2000) – primeiro volume da trilogia Os filhos de Próspero, composta também por As paisagens propícias(2005) e A terceira metade(2009)– do escritor angolano Ruy Duarte de Carvalho (1941 – 2010), em comparação com o romance Nove noites (2002), do brasileiro Bernardo Carvalho (1960). A partir dos pressupostos teóricos dos estudos de literatura comparada os quais instauram pontos de contato com a geopolítica do saber e da cultura, apresentada no estudo de Alfredo Cesar Melo (2013), será investigado de que forma as duas obras escolhidas, comparativamente, apresentam aspectos narrativos convergentes para refletir sobre a relação Sul-Sul – sul da África e sul da América. Tal relação será pensada no âmbito do romance, entendendo-o como um gênero atravessado, e da situação de escrita. Dessa forma, será dado destaque ao processo de composição narrativa em ambas as obras, bem como os efeitos de realidade os quais desembocariam na autoficção. Por meio dos narradores, será refletido, também, o caráter metaficcional das duas obras, visto que as narrativas estão permeadas de encenações da própria escrita.
A DUPLA CONSCIÊNCIA TROPICAL NA ANGOLA COLONIAL: LEITURAS DE YAKA
De um lado humanos, do outro, humanos Todos armados então são desumanos Falam que a briga não nos leva a nada O mar não tem cabelo, quem se afoga nada Não dá pra exigir de quem não come nada Aqui o seu diploma não vale de nada Nós não somos nada Nós não temos nada Branco camarada, largue a espada [MV BILL, "Uma declaração de guerra"]
DESAFIOS DO LETRAMENTO CRÍTICO EM LÍNGUA INGLESA: LÍNGUÍSTICO DISCURSIVO EM SEGUNDO PLANO
Introdução Na última década, com as Orientações Curriculares Nacionais para o ensino de língua inglesa no nível médio, as discussões na área de ensino de língua inglesa no Brasil têm, devido a sua importância inquestionável, se voltado, sobretudo, para a questão dos gêneros textuais e sequências didáticas letramento, novos letramentos, multiletramentos e letramentos múltiplos, pouco, contudo, tem sido discutido sobre o papel do ensino da língua estrangeira numa proposta didática baseada em gêneros textuais, objetivando o letramento crítico e, por conseguinte, a educação linguística do aluno. Na década de 90, os Parâmetros Curriculares Nacionais já preconizavam uma proposta de letramento crítico por meio de um ensino crítico centrado no uso da língua seguido de reflexão. Os
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS, 2023
Nesta tese, defendo a ideia de corpovivências como resposta fértil e necessária à colonialidade e suas múltiplas dimensões, sobretudo, no que concerne à educação linguística em língua inglesa. Desse modo, as reflexões tecidas, ao longo do texto, são atravessadas pelas minhas corpovivências pessoais e por aquelas coconstruídas com as/os articuladoras/es formais deste estudo – a professora Barbra Sabota e nove licenciandas/os do curso de Letras: Português e Inglês (Anny, Cristina, Helena, Jeni, Meteora, Nami, S.J., Tae e Vittor) – durante o período da pandemia da Covid-19, no ano de 2020, de uma universidade pública no interior de Goiás. As inquietações que me conduziram nesta investigação foram: Que corpovivências minhas e das/os articuladoras/es do estudo compartilhadas e coconstruídas nas (e para além das) aulas de Inglês V contribuíram para identificar, questionar e interromper os prejuízos históricos, raciais, econômicos, sociais e ontoepistemológicos provocados pela colonialidade em um período de pandemia? Que sentidos outros essas corpovivências puderam forjar no horizonte decolonial? Partindo delas, traço como objetivo principal: discutir corpovivências acadêmicas e não-acadêmicas minhas e das/os articuladoras/es deste estudo, com vistas a compreender de que modos as discussões sobre bem-estar e língua[gem], ocorridas na turma de Inglês V de um curso de Letras: Português e Inglês, viabilizaram possíveis insurgências decoloniais durante a pandemia da Covid-19. Em busca de modos outros de performar a metodologia deste trabalho, recorri a ontoepistemologias que prezam pela horizontalidade na pesquisa científica e pelo exercício de corazonar a academia, na tentativa de compreender/engendrar diferentes saberes numa perspectiva decolonial. A construção do material da tese se deu por meio de seis fontes: as narrativas pessoais, escritas por todas/os as/os agentes do estudo no início da disciplina de Inglês V; o formulário de identificação pessoal, preenchido pelas/os licenciandas/os no início da pesquisa; as sessões de planejamento das aulas, realizadas por Barbra e por mim nos meses de agosto a outubro de 2020; as interações nas aulas, também registradas em áudio e vídeo nos meses supracitados; o material audiovisual produzido para as aulas, pensado e elaborado pela professora da turma, por mim e pelas/os licenciandas/os no decorrer da disciplina; e as conversas individuais com as/os licenciandas/os, que aconteceram ao término do bimestre letivo, em outubro de 2020. Este estudo demonstrou que, mesmo atravessadas pela colonialidade e suas diversas facetas, nossas corpovivências são prenhes de vida e urgentes para o exercício decolonial. Por isso, não a língua inglesa, mas os corpos que produziram sentidos com ela ocuparam protagonismo nesta tese. As práticas translíngues e a escuta empática fomentadas nas aulas também propiciaram espaços fecundos para a existência e reexistência de muitas/os de nós, que tivemos a oportunidade de coconstruir saberes com aquilo que temos, com aquilo que somos e com aquilo que podemos nos tornar por meio da língua[gem]. Por fim, reitero o potencial decolonial de nossas corpovivências, uma vez que elas nos engajam no exercício de corazonar e horizontalizar saberes numa perspectiva que extrapola os muros da academia, alcançando nossas casas, nossas famílias, nossos corpos-moradias; tornando-se, assim, corpovivências decoloniais.
A proposta deste paper é tecer, de modo resumido, as possibilidades de diálogo entre a teoria pós co lonial e a teoria queer, abordagem que vem ganhando espaço em diversos trabalhos acadêmicos. Os seus frutíferos espaços de tradução tem oferecido a acadêmicxs e ativistas conceitos para além de pa radigmas eurocêntricos e hegemônicos no que diz respeito aos estudos sobre gênero, sexualidade, he tero e homonormatividade em que o corpo emerge, simultaneamente, como lócus de interpretação, violência e resistência.
GÊNERO E RAÇA NA DIALÉTICA ANGLOIRLANDESA
A Magda, pelo candelabro na noite escura AGRADECIMENTOS Se todo trabalho, sobretudo quando não alienado, tem uma dimensão biográfica porque informa acerca de quem o fez, a realização desta pesquisa, à qual dediquei a maior parte dos últimos anos, foi um exercício autobiográfico tal que, ao apresentá-la, incorro numa constrangedora exposição de intimidade. Precisamente porque a autobiografia constitui, a rigor, uma inscrição antes coletiva do que individual, ao lembrar aqueles que tomaram parte na gestação deste texto dissertativo faço dele um registro memorial coletivo. Coletivo em sentido lato, pois foram diversos aqueles com os quais acumulei dívidas nas últimas cinquenta e duas luas: sou grato ao PROMEL/UFSJ pela acolhida e à agência de fomento REUNI/CAPES pelo financiamento da pesquisa. Madga Tolentino, a quem dedico este trabalho, instigou-me o interesse por um país que até então nunca me havia chamado atenção e, ao me descortinar o horizonte da pesquisa, tornou-se patronesse de meu itinerário acadêmico. Adelaine LaGuardia, que aceitou de bom grado minha proposta de estudo e me concedeu livre arbítrio para desenvolvê-lo ao meu modo e ritmo, dando-me todo o suporte necessário, foi uma orientadora paciente, solícita etemerariamente -confiante em meu trabalho. Os componentes da comissão examinadora, Magda Tolentino e Wander Melo Miranda, mostraram-se generosos ao aceitarem ler um texto cuja extensão transcende a dos padrões dissertativos convencionais e, mais ainda, brindaram-me com uma arguição enriquecedora. Tenho grandes débitos para com meus mestres, que, em diferentes graus, inspiraram o direcionamento dado a esta dissertação, dentre os quais Michel Foucault, Edward Said, Peter Gay, Elaine Showalter, Joseph Valente e, sobretudo, Anne McClintock, a quem admiro acima de qualquer conceituação. Não fosse a majestosa "Bibliotheca Alexandrina" de Brewster Kahle, parte expressiva das fontes permaneceria desconhecida por mim e a dissertação certamente teria sido mais limitada. Numa cultura acadêmica surpreendentemente pouco afeita ao diálogo, o trabalho teria sido mais solitário sem a interlocução com Renan Fonseca e Vander Resende, que gentilmente leram e comentaram boa parte das primeiras versões do texto, dando-me, cada qual ao seu modo, contribuições generosas. A este último, que Palavras-chave: Colonialismo; Irlanda; Feminização; Anticolonialismo; Remasculinização. ABSTRACT SOUSA, Raimundo E. S. From Feminization to Remasculinization: Gender and Race in Anglo-Irish Dialectic. São João del-Rei, 2013. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários). 361ff. Programa de Mestrado em Letras, Universidade Federal de São João del-Rei, São João del-Rei, 2013.
Raído, 2021
Esta pesquisa objetiva analisar ocorrências de negação na voz do narrador de A hora da estrela, de Clarice Lispector, em comparação com sua segunda tradução para a língua inglesa, de modo a explorar o papel discursivo da negação para a construção de sentidos subjetivos do narrador em relação à Macabéa, personagem principal. Esta análise pauta-se em estudos sobre negativas orientados pela Linguística Sistêmico-Funcional (MARTIN & ROSE, 2007; HALLIDAY, 2014; PAGANO, 1994), em diálogocom o conceito de negação freudiano (FREUD, 2014). De forma complementar, nos respaldamos também em estudos que tratam da interrelação entre linguagem e psicanálise (DOMINE, 2015; FROTA, 2013, 2015). A análise dos dados localiza-se nas ocorrências em que a marca da negação sinaliza textualmente o inconsciente recalcado do narrador projetado em Macabéa, de quem ele tenta se desvincular. Em seguida buscamos estabelecer um diálogo entre os discursos de negação expressos a partir de uma perspectiva textual e os que se fundamentam na psicanálise. As análises indicam que as negações do narrador revelam seu incômodo próprio projetado em Macabéa. Ao negar-se na personagem, o narrador acaba por reconhecer-se nela, o que foi possível de ser percebido graças à presença da negação em seu texto.
Raído, 2021
Esta pesquisa objetiva analisar ocorrências de negação na voz do narrador de A hora da estrela, de Clarice Lispector, em comparação com sua segunda tradução para a língua inglesa, de modo a explorar o papel discursivo da negação para a construção de sentidos subjetivos do narrador em relação à Macabéa, personagem principal. Esta análise pauta-se em estudos sobre negativas orientados pela Linguística Sistêmico-Funcional (MARTIN & ROSE, 2007; HALLIDAY, 2014; PAGANO, 1994), em diálogo com o conceito de negação freudiano (FREUD, 2014). De forma complementar, nos respaldamos também em estudos que tratam da interrelação entre linguagem e psicanálise (DOMINE, 2015; FROTA, 2013, 2015). A análise dos dados localiza-se nas ocorrências em que a marca da negação sinaliza textualmente o inconsciente recalcado do narrador projetado em Macabéa, de quem ele tenta se desvincular. Em seguida buscamos estabelecer um diálogo entre os discursos de negação expressos a partir de uma perspectiva textual e os que se fundamentam na psicanálise. As análises indicam que as negações do narrador revelam seu incômodo próprio projetado em Macabéa. Ao negar-se na personagem, o narrador acaba por reconhecer-se nela, o que foi possível de ser percebido graças à presença da negação em seu texto.