“O Sertão é sem Lugar”: Figurações do Gótico Colonial na Literatura Sertanista Brasileira (original) (raw)

2016, Revista Rascunhos Culturais

O sertão constitui-se mais como uma “ideologia geográfica” do que como um espaço geograficamente limitado. Sua concepção é fugidia, dependente do contexto histórico e formulada a partir de uma perspectiva exógena: a do homem citadino. Nos fins do século XIX, a elite intelectual do Brasil, guiada pelos pensamentos positivistas de “ordem e progresso”, voltou-se para o interior do país, vendo-o como uma ameaça ao desenvolvimento, pois se distanciava dos processos de modernização ocorridos no litoral. Reproduzindo essas ideias, muitos escritores da Literatura Brasileira tematizaram o sertão sob lentes urbanas, transformando-o em um espaço primitivo, supersticioso, habitado por uma população mestiça e selvagem. Não são raras as narrativas que descrevem o sertão como um locus horribilis, palco de atrocidades humanas e sobrenaturais, aproximando a literatura regionalista à poética gótica. Tais narrativas, que caracterizam o sertão como uma ameaça à ordem da cidade e ao homem urbano, possuem aspectos do denominado “Gótico Colonial”, um desenvolvimento da literatura gótica que explora os medos e as ansiedades causados pelas culturas das colônias nas metrópoles. Neste artigo, os contos “Praga” (1890) e “Os velhos” (1896), ambos de Coelho Neto, serão analisados como demonstração das figurações do Gótico Colonial em terras sertanejas da literatura brasileira. Palavras-chave: Literatura gótica – Gótico Colonial – Literatura Brasileira – Sertão.