Reintegrando o acidente, de Sines a Maputo (original) (raw)

2012, Impacto Social dos Acidentes de Trabalho

Ruptura violenta da ordem “normal” e esperada do quotidiano laboral, acontecimento inquietante que reatualiza a consciência vivida dos perigos que se enfrentam diariamente ao ir trabalhar, o acidente laboral perturba tanto as vítimas que lhe sobrevivem quanto os seus colegas. A possibilidade de, sem excessiva violência emocional, se continuar a trabalhar diariamente num local onde o perigo se tornou de súbito mais presente requer dos envolvidos a superação daquele evento marcante, o seu encerramento enquanto acontecimento excecional e disruptor, remetendo-o para o passado. O processo de reintegração que a isso conduz exige que seja dada uma resposta satisfatória a, pelo menos, dois requisitos essenciais: por um lado, a compreensão das suas causas; por outro, o apuramento de responsabilidades. Contudo, nenhum deles é isento de dificuldades (em termos cognitivos e de relações de poder) para a sua concretização, fazendo com que a reintegração de acidentes considerados graves tenda a ser apenas parcial e instável. Para além disso, tanto o conteúdo desses requisitos quanto as limitações à sua prossecução podem variar de forma muito significativa, conforme o contexto cultural em que os acidentes ocorrem. Procurando explorar essa diversidade, mas também os aspetos comuns que apresentam, o presente artigo aborda duas estruturas fabris de grande dimensão, às quais dediquei diversos anos de pesquisa presencial. Trata-se da indústria de refinação de petróleo, em Portugal, e de uma fundição primária de alumínio, recentemente implantada em Moçambique.