Umberto Eco em Narrativas (original) (raw)
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Literatura pra quê - Umberto Eco
Ao longo da história da arte e não diferente da tradição literária-do conjunto de textos escritos produzidos pela humanidade não para fins práticos (como manter registros, leis, fórmulas científicas, atas de sessões etc.)-tem sido perguntado quais valores e/ou funções práticas fundam esse campo. Comentemos acerca desse questionamento. Nossa fala se guia pela voz de Umberto Eco, "Sobre algumas funções da literatura". Associada a esta indagação tem surgido uma linha do pensamento segundo o qual o texto literário se produz por amor de si mesmo, sendo sua leitura apenas para deleite, puro passatempo, uma ampliação dos conhecimentos fazendo dos leitores assíduos intelectuais-quando do caso dos leitores gerais, da prosa e da poesia-, ou puro e simples espaço de elevação espiritual-quando do caso dos leitores da poesia. A partir desta ainda há outra, oposta, segundo a qual a literatura comporta um caráter de interventora nalgumas linhas sociais. Isso não é mentira, mas também não pode ser lido como de um todo verdade. Penso que o objeto literário carrega em si certa materialidade que, apenas guiar-se por estas linhas simplórias de pensar não dá conta para a pergunta lançada. A literatura como bem imaterial não se presta apenas a um bem de consumo donde se extrai certo prazer ou torpor. Visões destas ou similares reduzem a literatura apenas a um jogo de passatempo, produto de consumo, quando bem sabemos que não é bem isso. Antes de tudo, devemos compreender que a literatura comporta em si-inconscientemente por diversas vezes-um papel de formadora da língua e criadora de identidades. Reporto aos exemplos citados por Umberto Eco. Muito dos vocábulos novos quando introduzidos na língua advém e se consolidam apenas quando adotados no plano da escrita literária; ou o que seria da identidade do povo nordestino/sertanejo sem os romances da década de 1930.
Umberto Eco e os mitos modernos
Uma lição de Umberto Eco sobre os mitos contemporâneos O filme Batman vs Superman, dirigido por Zack Snyder, consolida tanto a disputa DC vs Marvel no calendário anual dos blockbusters derivados dos quadrinhos quanto recoloca em cena dois dos mais lucrativos heróis da história do cinema. O filme, mais uma vez, vai dividir o público, não somente entre os que torcerão para o homem-morcego, herói sem poderes adquiridos, que conta apenas com sua força humana, notável inteligência e obstinação, e os que torcem para o virtuoso alienígena semideus, dotado de força quase ilimitada, poderes ultra-humanos. Além desta divisão característica do universo dos fãs, prevemos uma divisão entre a crítica. De um lado os críticos que consideram os filmes de heróis um filão mais do que previsível, mero entretenimento sem inovações no campo da arte cinematográfica e de outro os que consideram o fenômeno uma atraente renovação no cenário da cultura contemporânea. Estes últimos consideram Christopher Nolan, Brian Singer e Zack Snyder diretores cujas obras levaram o universo das artes sequenciais (quadrinhos) a um nível superior de expressão artística. A crítica negativa baseia-se na suposta facilidade que estes diretores encontram ao trabalhar com esses " mitos modernos " , e com estórias que já foram " testadas " no mercado mundial das Comics. Na lógica desse mercado o público já estaria garantido há décadas e o exército de fãs faria a multiplicação de valor que se verifica nos dias de hoje, em todos os sentidos da palavra, seja econômico, seja estético. Se o fator econômico é indiscutível (lucro certo), a apreciação do valor estético sofre o influxo massivo das novas ondas culturais geek, nerd, sci-fi, gamer, que com a escalada exponencial da tecnologia e da informatização do mundo só tende a crescer. Existe um nexo entre o universo da tecnologia e da informática com o mundo da ciência e este, por sua vez, tem uma relação de consumo direta com o universo criativo representado por ficção científica, ficção de fantasia, séries, quadrinhos, etc. As editoras que exploram esses filões editoriais dobraram seus títulos nos últimos anos. Este universo de fãs e novos leitores é mais crítico do que podemos pensar, mas a visão crítica não costuma superar o entusiasmo. A crítica, no caso, está mais ligada à lógica do " poderia ser mais fiel " , ou " distorceram a personagem " , característica dos fãs que querem afirmar seu conhecimento diante da legião de leigos. Esta esperada controvérsia, e a divisão da crítica, inevitavelmente nos lembra o famoso livro de Umberto Eco Apocalípticos e Integrados que, injustamente, como o próprio autor ressalta, " tenta subsumir atitudes humanas, com toda sua variedade e seus matizes, sob dois conceitos genéricos e polêmicos ". Mas é também nessa obra que Eco dedica um longo e interessante capítulo ao mito do Superman, que pode nos interessar nesta semana de estreia. O mito do Superman Eco define a mitificação como uma simbolização incônscia, uma identificação do objeto com uma soma de finalidades nem sempre racionalizáveis, projeção de uma imagem de tendências, aspirações e temores particularmente emergentes num indivíduo, numa comunidade, em toda época histórica. Temos, portanto, nossos mitos. Mas ao mesmo tempo que temos mitificações em várias culturas e épocas, temos também o fenômeno da desmistificação. Quando falamos de desmistificação, explica Eco, nos referimos a todo processo de dissolução de um repertório simbólico institucionalizado, o que ocorreu, por exemplo, com alguns elementos da cristandade. O Superman representa de maneira exemplar um mito moderno. O herói dotado de poderes superiores aos do homem comum é uma constante da imaginação popular. Hércules, Sigfried, Pantagruel e mesmo Peter Pan compõem, entre muitos outros, este conjunto de projeções humanas. O que se nota em todos esses heróis é que frequentemente suas virtudes se humanizam e o que se valoriza nas estórias seria a potencialização de algum poder meramente humano. No caso do Superman este poder está ligado às virtudes morais. A aproximação entre o herói e o leitor se dá no campo da possibilidade. O homem comum pode exercer a mesma virtude, aquela que dará o desfecho mais importante da história, e ela, muitas vezes, não é baseada na força física ou em características supra-humanas. Outra característica destacada por Eco é que o Superman não é humano, é um alienígena, mas chegou à terra criança e foi criado (humanizado) por pais humanos, gente simples, do campo, honesta e virtuosa. No trabalho é um tanto atrapalhado, não tem projeção social relevante e é míope, apesar de ter uma visão de raio-X. Constrói-se um mito, também, pela identificação e aproximação. O indivíduo comum, funcionário, sem recursos, dotes e força, se identifica imediatamente. Vale dizer que boa parte do que é atribuído aqui ao Superman compõe a caracterização de Batman, uma vez que o homem-morcego também é um importante mito deste universo. Criado por Bob Kane em 1939, incorpora uma imagem moral também bastante rigorosa e desenvolveu, sob a pena de vários roteiristas, uma espécie de coerência pragmática ao longo de 70 anos. O elemento que enriquece a caracterização da personagem é a complexidade psicológica determinada por traumas, personalidade obsessiva, e os limites entre sanidade, loucura e delírio. Hoje, depois de certo desgaste da personagem, parece sofrer de uma síndrome da dualidade herói-vilão e se vê quase obscurecido por seu arqui-inimigo Coringa, que em várias estórias, tanto dos quadrinhos como das adaptações para o cinema, notadamente constitui o foco dramático em detrimento do próprio herói. Mas é em outro ponto que Eco nos brinda com uma compreensão original, visto que até agora, basicamente, só repetimos o que é de conhecimento de todos. A personagem do herói mitológico característica da mitologia antiga é sempre identificada pelo que fez no passado. Sua caracterização, suas qualidades, seu perfil heroico está baseado na sua estória pregressa, suas realizações, seus feitos. Emblemática e didática é a figura de Hércules, que era conhecido por suas façanhas (os doze trabalhos). Mas não é somente Hércules que carrega essa caracterização, Odisseu (Ulysses), Teseu, Perseu, Ariadne (por que não?), Ajax, Aquiles, até mesmo Édipo, samurais também. Sobre esses heróis conta–se sempre a mesma estória, a saber a estória de seus feitos no passado. O curioso é que sempre ouvimos a mesma estória e revivemos o mito com interesse. Neste registro o herói tem como caracterização sempre as mesmas qualidades e ele deve revelá-las no momento em que forem exigidas na trama. A característica do herói o define. Se Hércules perder a força ele deixa de ser Hércules, se deixar de ser um semideus ele não será mais o mesmo. Portanto, o herói está preso a uma estrutura fixa. Eco denomina esta característica de uma " fixidez emblemática que o torna facilmente reconhecível ". O mesmo acontece com os super-heróis modernos. O Superman está preso em uma estrutura de comportamento e de poderes que determina suas capacidades de ação e, portanto, as possibilidades da trama. Quando falamos de desmistiicação, nos referimos a todo processo de dissolução de um repertório simbólico institucionalizado © Divulgação / Warner Bros. Pictures
Cinco Escritos Morais Umberto Eco
A presente obra é disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo Sobre nós: O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: LeLivros.site ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link. "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível.
Umberto Eco, Autor de Quixotes
Em seu último livro, Numero Zero (2015), Umberto Eco afirma que “quanto mais coisas uma pessoa sabe, menos coisas deram certo para ele”. Este narrador se aproxima muito daquele de O Pêndulo de Foucault (1988), que se envolve em uma trama perigosa graças a uma busca obsessiva por conhecimento. Tais personagens se assemelham ao Dom Quixote, o cavaleiro andante que sai em busca de aventuras, ensandecido, após tanto ler, são também sempre acompanhados de parceiros, à guisa de escudeiros. Dentro dos romances de Eco, portanto, traça-se um caminho da obsessão pelo conhecimento e, consequentemente, pelo arquivamento do saber, que tão agressivamente molda e marca o Ocidente, sendo tema da discussão de Jacques Derrida em Mal de Arquivo (2001).
Umberto Eco: da Obra Aberta para Os limites da interpretação
Resumo: O artigo investiga as transformações na abordagem que Umberto Eco dá a questão da interpretação na trajetória entre a Obra Aberta, na década de 60, para a ênfase nos limites interpretativos, a partir de meados dos anos 70.Nesta trajetória, o mago de Bolonha, parte de uma perspectiva fundada em Tomas de Aquino, dialogando com James Joyce, as vanguardas musicais, os estruturalismo e a semiótica de Peirce. O artigo mostra também como a perspectiva pragmática que Eco herda de Peirce formularia uma "metafísica detetivesca" centrada no conceito de abdução. O desenvolvimento do giro pragmático efetuado por Eco se distinguiria de modo forte da perspectiva neopragmatista de Richard Rorty. Palavras-chave: Interpretação, Pragmatismo, Semiótica, Eco, Neopragmatismo Abstract: This paper investigates the changes in Umberto Eco's approaches about the subject of the interpretation in the 60's, beginning with Open Work, culminating at the emphasis in the limits of interpretation, up to the mid 70's. The wizard of Bologna uses in his analyses the ideas from Thomas Aquinas, James Joyce, avant-garde music, structuralism and the semiotics of Peirce. This article also shows how the pragmatic approach that Eco inherits from Peirce would help him formulate an "investigator metaphysics" centered on the concept of abduction. The development of the pragmatist turn made by Eco differs strongly from Richard Rorty´s neo-pragmatism. Keywords: Interpretation, Pragmatism, Semiotics, Eco, Neo-pragmatism
Boletim da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
Neste artigo revisita-se e aprofunda-se uma investigação sobre a presença de Umberto Eco em Coimbra, que resultou num texto publicado no Diário de Coimbra, ao qual foi concedido o Prémio de Jornalismo Adriano Lucas 2019. Sobre o artigo de jornal original, intitulado “Em Busca de Umberto Eco”, reconstrói-se neste texto a investigação então realizada e reorganizam-se de modo mais sistemático os dados fundamentais apurados durante aquela investigação. Apresenta-se aqui: (1) a data em que Umberto Eco esteve em Coimbra; (2) os espaços por onde andou; (3) que tipo de conferência foi a sua; (4) e quem teria sido a personalidade coimbrã a conduzí-lo pela Biblioteca Joanina.
Umberto Eco Pós Escrito - O Nome da Rosa
A presente obra é disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudíavel a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo Sobre nós: O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: LeLivros.us ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link. "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível.
Umberto Eco e "A definição da arte".
Resenha, publicada na "Folha de S. Paulo", do livro de Umberto Eco, "A definição da arte". O volume reúne ensaios escritos entre 1955 e 1963, constituindo uma autêntica arqueologia do autor de best-sellers acadêmicos – Obra aberta (1962); Apocalípticos e integrados (1964) – e ficcionais – O nome da rosa (1980); O pêndulo de Foucault (1988). Este livro seria destinado exclusivamente ao estudioso de Eco? Eis a surpresa: A definição da arte proporciona uma reflexão relevante para o cenário contemporâneo. Embora os artigos coligidos sejam de recorte acadêmico, é possível consultá-los como se fossem peças de um quebra-cabeça ficcional. Os ensaios elegem um rival poderoso, abraçam um mestre e sua teoria e, sobretudo, propõem uma experiência de pensamento que segue plenamente atual.
Umberto Eco e a Música Eletroacústica
O artigo trata da visão do escritor, linguista e filósofo Umberto Eco sobre a arte contemporânea no final da segunda metade do séc XX, especificamente sobre a música eletroacústica. As discussões e encontros com artistas de vanguarda de então, como por exemplo Luciano Berio e Henri Pousseur permitiram-no analisar os problemas dessa música nova.