Comunidades quilombolas, poderes estatais e expansão do capital (original) (raw)
Se é certo que as economias capitalistas se formam a partir de relações sociais preexistentes, também é certo dizer que o Estado "reconfigura todo o complexo tecido social, reconstituindo a dinâmica de indivíduos, grupos e classes a partir da constrição da forma" . Essa "constrição da forma" permite ao Estado manter os indivíduos e os grupos sob controle, e ao mesmo tempo manter ocultas as determinações econômicas dos conflitos sociais. Por isso a persistência do racismo, do sexismo e da xenofobia mesmo nas sociedades capitalistas mais avançadas. Nesse sentido, afirma Alysson Leandro Mascaro que "o Estado se planta no tecido social, recebendo o passado em sua complexidade e suas profundas contradições, mas não toma a si tal legado de modo passivo. É justamente na configuração das identidades, dos controles, dos saberes e das disciplinas das classes, das minorias e dos indivíduos que o Estado confirma o tecido social" . Essa dinâmica nos permite compreender o sentido da luta das comunidades quilombolas no Brasil. Do processo de integração "nacional" levada a cabo pelo capitalismo brasileiro, faz parte a tentativa de eliminação das diferenças, na teoria, com o discurso que nega o racismo, e na prática, com a violência sistemática e institucionalizada contra a população negra e trabalhadores em geral. Entretanto, os conflitos sociais tornaram inevitável o reconhecimento de certas reivindicações populares, até para que fossem mantidas sob um controle político, dentro de um inofensivo "enquadramento normativo". E esta é situação das comunidades quilombolas que mesmo, com direitos formalmente garantidos, ainda permanecem lutando para manter sua identidade, seu modo de vida e suas terras.