Conflito e liberdade: a vida política para Maquiavel (original) (raw)

Maquiavel, a república e o desejo de liberdade

Trans/Form/Ação, 2007

O objetivo do artigo é compreender alguns aspectos do republicanismo de Maquiavel concedendo atenção à sua teoria dos humores. Mais especificamente, trata-se de entender qual a natureza do desejo do povo e seu papel na vida política. A principal hipótese deste trabalho é a de que a função que Maquiavel atribui ao povo, o guardião da liberdade, exige, para seu cumprimento, a participação ativa do cidadão nos afazeres cívicos, isto é, sua inscrição no espaço público como agente político. Essa inscrição não pode ser inteiramente compreendida se o desejo que caracteriza o povo carecer de qualquer determinação, isto é, se for tomado somente em uma perspectiva negativa.

A política da guerra em Maquiavel

Revista Brasileira de Ciência Política, 2013

Ao considerar que os objetivos do governante são a conquista e a manutenção do poder, Nicolau Maquiavel sugere ser o estado de guerra uma situação permanente na arte de governar. Este artigo aborda o pensamento político do autor, a partir de sua análise sobre a guerra. Visa apreender o sentido que ele confere à política e os fundamentos de uma teoria sobre a guerra, construída com base no diálogo com as experiências dos antigos e as circunstâncias históricas de seu tempo. O trabalho está estruturado nos seguintes tópicos: o diálogo de Maquiavel com os antigos; a dessacralização da política; e o diálogo dos modernos com Maquiavel.

Maquiavel e a política do desejo

O artigo leva em conta as diferentes leituras da obra de Maquiavel – as quais tentam explicar a dualidade do autor (ao mesmo tempo republicano e conselheiro de Lorenzo de Médici) – e traz para o primeiro plano de análise a defesa da liberdade e a articulação desta com a dinâmica dos humores da cidade a fim de pôr em relevo a decisiva contribuição de C. Lefort para a discussão do caráter democrático dos ensinamentos do pensador florentino. Em seguida, trata-se de encontrar no Discurso da servidão voluntária, de La Boétie, e nos Ensaios, de Montaigne, isto é, na recepção francesa da filosofia política de Maquiavel orquestrada no século XVI, novas evidências da articulação entre desejo e liberdade. Tais elementos não apenas se mostram consoantes a interpretação fornecida por C. Lefort, mas também promovem desdobramentos importantes no que se refere à reflexão sobre a institucionalização do desejo do povo e sobre o poder deste para salvaguardar a liberdade da república frente à ambição dos grandes.

Maquiavel e a função política da arte da guerra

A teoria política de Nicolau Maquiavel é atravessada por uma preocupação constante e inflexível: a questão militar. Os problemas sobre as relações de governo são acompanhados lado a lado pelas considerações sobre a necessidade política da formação e da organização de exércitos nacionais. A teoria militar maquiaveliana, diluída no conjunto de suas obras, se revela como um aspecto imprescindível para a manutenção das ordenações estatais e para a conservação do vivere civile. O êxito das instituições políticas é dependente da capacidade de coordenação e plena absorção das estruturas direcionadas para o exercício da guerra: a arte militar e a arte política, no âmago do pensamento de Maquiavel, criam laços de uma articulação incindível. O relacionamento adequado com o aparato marcial é uma condição para a sobrevivência dos Estados. Nesse sentido, o objetivo primário do trabalho aqui apresentado é o de delinear e o de expor em que medida as concepções bélicas de Maquiavel são pensadas e alicerçadas no núcleo de argumentos políticos. Por um lado, buscaremos ilustrar a função exercida pela arte da guerra no interior da dinâmica estatal, avaliando os requisitos necessários para a fusão de guerra e política, além de dedicarmos uma atenção particular às implicações desse papel nos governos republicanos e principescos. Por outro, pretenderemos expor o modo por meio do qual as interpretações de cunho técnico sobre as disposições militares defendidas pelo Secretário florentino foram fortemente guiadas por questões governamentais.