O CORPO COMO “TEXTO-VIVO”: a noção de corpo-próprio de Merleau-Ponty em interface com a obra Mulheres de cinzas, de Mia Couto (original) (raw)
O pensamento fenomenológico de Merleau-Ponty sofre influência do mandamento husserliano de retorno “às coisas mesmas”. Ele ressalta a importância da percepção em um contato pré-reflexivo com o mundo. Essa atividade perceptiva nos dá o corpo-próprio em sua imbricação com o mundo-da-vida. Esse corpo-próprio é motricidade, espacialidade, temporalidade, expressão e linguagem. Graças à linguagem, o corpo-próprio se expressa criativamente na literatura, na qual o expresso não se separa da expressão. O objetivo deste trabalho é buscar uma interface entre a filosofia de Merleau-Ponty, partindo do conceito de corpo-próprio, e a literatura de Mia Couto, especificamente na obra Mulheres de cinzas, para elaborar uma poética do corpo, a partir do “corpo do poeta” e do “poeta do corpo” em sua coexistência simultânea. É dessa coexistência que emerge para nós o corpo como “textovivo”.