O bilinguismo dos surdos: acesso às línguas, usos e atitudes linguísticas (original) (raw)
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Revista do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFES, 2021
Objetiva-se refletir sobre o uso de línguas de modalidades distintas e discutir as percepções de surdos quanto ao próprio status de bilíngues bimodais. Adotou-se uma visão holística (GROSJEAN, 2008a) para o bilinguismo, entendendo o bilíngue como um todo integrado que não pode ser separado, e não como a soma de dois monolíngues. Defendeu-se a ideia de que bilíngues, sejam unimodais ou bimodais, não têm necessariamente os mesmos níveis de proficiência em cada uma das habilidades e estão situados em um continuum linguístico (MOZZILLO DE MOURA, 1997; MACNAMARA, 1967). Foram adotados os pressupostos sobre ideologias linguísticas de Del Valle (2007), que as define como um sistema de ideias que articula noções ligadas à linguagem e formações culturais, sociais e políticas, e de Woolard (2007), cuja compreensão de ideologias inclui os aspectos sociais e o exercício de poder. Os resultados indicam que os informantes têm consciência de que a Libras é sua primeira língua (BAGGA-GUPTA, 2000), mesmo que a tenham adquirido tardiamente (SILVA, 2015). Porém, averiguou-se que muitos não se consideram bilíngues. Mesmo que tenham vivenciado situações em que ocorreram preconceitos, dificuldades de comunicação ou isolamento linguístico, percebeu-se que, em termos gerais, os informantes aferem valor positivo ao bilinguismo bimodal.
Perfil sociolinguístico dos surdos de São Carlos: o bilinguismo bimodal Libras/ língua portuguesa
Signótica
A presente pesquisa objetiva apresentar uma caraterização sociolinguística da comunidade surda da cidade de São Carlos. Para a análise de 30 inquéritos, aplicados aos surdos do município localizado na região Central do Estado de São Paulo, empregamos os pressupostos teóricos da Sociolinguística (LABOV, 1966, 2008) e da Sociolinguística das línguas de sinais (LUCAS, 2004). Os resultados apontam contexto de bilinguismo bimodal, com a língua portuguesa exercendo papel importante na comunicação e apresentando status elevado na comunidade, apesar de constituir-se em língua de emprego apenas na modalidade escrita.
Políticas linguísticas para surdos em países lusófonos
Revista Linguagem & Ensino
Em diferentes países, pessoas surdas constituem minorias linguísticas cujas condições para o uso de suas línguas não são favoráveis. Este artigo objetiva discutir políticas linguísticas para surdos em países de língua portuguesa. Com base em autores da Política Linguística, bem como dos Estudos Surdos, a partir de uma pesquisa qualitativa e exploratória do tipo documental, buscou-se analisar documentos oficiais que regulamentam o uso e o ensino de línguas de sinais em oito países lusófonos. Observou-se que, em pelo menos metade desses países, as línguas de sinais permanecem oficialmente invisíveis; em alguns casos, embora já comecem a ser documentadas, seu uso e ensino não estão legalmente amparados. Considera-se, nesse sentido, que políticas linguísticas para surdos constituem um direito humano inalienável. Apesar de não serem suficientes, tais políticas são necessárias para a formação linguística e cultural dos surdos, propiciando cenários nos quais eles possam exercer seus direit...
The Especialist
O segundo volume do dossiê temático: Bilinguismo para surdos: um olhar histórico, social, educacional e linguístico da Revista The Especialist é uma nova possibilidade para leituras de grande importância na área do Bilinguismo das línguas de sinais. Por meio desse número é possível compreender a vastidão que esse conceito hoje abarca nas mais diversas áreas do conhecimento e como ainda há muito a ser explorado, como os próprios autores afirmam. Apesar de ser uma coletânea escrita por várias mãos apresenta, na verdade, um único objetivo: oportunizar a leitura de novos autores e suas respectivas pesquisas que trazem um olhar contemporâneo sobre o bilinguismo no universo das línguas de sinais (GESSER, 2009; QUADRO, 2019).
Política linguística voltada para surdos no Brasil
2020
Este trabalho objetiva verificar como os domínios familiar e escolar aparecem em políticas linguísticas que visam à inclusão de surdos na sociedade. Para isso, por meio de análise do referencial teórico e documental selecionado e à luz das perguntas de pesquisa 1) O que são políticas linguísticas e como elas se desenvolveram ao longo dos anos até a contemporaneidade? 2) Como o domínio familiar é contemplado nas políticas linguísticas voltadas para os surdos? 3) Qual o caráter discursivo e prático das políticas linguísticas voltadas à educação bilíngue de surdos?, procuramos conceituar as políticas enquanto gerenciamento linguístico, aplicando tal concepção às medidas estabelecidas para a manutenção e preservação da língua de sinais e para o reconhecimento da pessoa surda. Além disso, buscamos apresentar um olhar mais detalhado para dois aspectos que devem ser contemplados nestes postulados: a consideração da família e da educação como domínios-chave para o sucesso na (re)formulação ...
Letramento de surdos universitários no Brasil: o bilinguismo em questão
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, 2021
O acesso à Educação Superior (ES) no Brasil expandiu-se considerando as modificações ocorridas com as políticas inclusivas, bem como às voltadas especificamente para os surdos. Assim, há de se considerar que os surdos, que atualmente, frequentam o ES trazem o legado das práticas pedagógicas que foram submetidos na Educação Básica, bem como o capital cultural “transmitido”. Nesse sentido, o objetivo deste estudo é compreender as condições de letramento do surdo universitário, relacionando-as a sua inserção na cultura escrita e as implicações para a permanência na universidade. É uma pesquisa qualitativa, tratando-se de um estudo de caso de dois estudantes surdos de uma universidade pública do sul do país. A leitura e a escrita dos gêneros acadêmicos são realizadas geralmente na universidade, pois a produção desses gêneros é inerente à instituição universitária. Sob uma perspectiva bakhtiniana, discute-se a apropriação de gêneros secundários na esfera do conhecimento em que são consti...
Inclusão dos surdos no Brasil: do oralismo ao bilinguismo
Revista UFG
Este artigo trata-se de uma revisão bibliográfica com o objetivo de apresentar uma visão panorâmica da educação dos surdos no Brasil, isto é, como a Educação Inclusiva foi e tem sido (ou não) trabalhada ao longo dos anos. Nesse contexto fez-se um breve percurso em relação à conceituação da inclusão, para, assim, discorrer e analisar acerca das políticas púbicas inclusivas da educação dos deficientes auditivos e de como tais fenômenos interferiram e/ou contribuem para a historicidade educacional dos surdos em âmbito nacional. Para tanto, lançamos mão de documentos legais e autores que desenvolvem estudos nos campos temáticos referentes ao processo de inclusão, tais como Mantoan (2003, 2006), Reis (2013), Lodi (2013), Declaração de Salamanca (1994), Plano Nacional de Educação (2001), entre outros. A análise aponta que a trajetória da educação de pessoas surdas possui historicidade repleta de lutas contra o preconceito e em prol da ratificação dos Direitos Humanos.
O ensino bilíngue de surdos sob a perspectiva da translinguagem.
Revista Linguagem & Ensino, 2023
O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da translinguagem na educação bilíngue de surdos, apontando exemplos de práticas que vêm sendo utilizadas no ensino de estudantes surdos. Para isso, foi realizada pesquisa bibliográfica em textos que discutem a importância da translinguagem em contextos educacionais bilíngues com foco na educação de surdos. A pesquisa bibliográfica evidenciou o valor inovador da translinguagem ao conceituar a linguagem como prática social, na qual professores e estudantes usam língua de sinais, língua majoritária, bem como outros recursos semióticos visando à aprendizagem bilíngue. Os exemplos apresentados neste artigo, encontrados tanto na literatura quanto na prática de uma das autoras, ilustram estratégias translíngues usadas por professores no ensino de estudantes surdos.
Direitos linguísticos dos surdos no âmbito da educação superior
Cadernos de Linguagem e Sociedade, 2021
Este artigo analisa resultados de pesquisa qualitativa, cujo objetivo é analisar como estudantes surdos no ensino superior constituem-se nas relações de pertença em ambiência universitária. Parte-se da necessidade de entender de que modo as políticas linguísticas para surdos alcançam objetivos referentes aos direitos linguísticos. Metodologicamente, foram realizadas entrevistas com quatro alunos surdos, interpretadas conforme Análise de Conteúdo. Os resultados apontam que as políticas linguísticas têm colaborado para acesso e permanência dos mesmos na universidade. Os participantes da pesquisa demonstram interesse em aprender, em alcançar autonomia necessária ao seu desenvolvimento profissional e humano e sinalizam para a esperança de ascensão social.
Vulnerabilidade linguística e educação de surdos
Momento - Diálogos em Educação, 2020
O artigo discute a manutenção da histórica vulnerabilidade linguística, atribuída às pessoas com surdez e problematiza a precarização das condições de desenvolvimento e sustentabilidade do sujeito. Para tanto, usou-se o conceito foucaultiano de governamento, como uma ferramenta de análise em um conjunto de políticas linguísticas de educação de surdos no Brasil. A partir do material, foi possível identificar que o mecanismo da escolha parental opera como uma estratégia de planejamento linguístico fortemente articulada a uma prática de condução pela língua oficial, que age na manutenção da vulnerabilidade linguística dos surdos e na precarização de suas condições de formação e trabalho. Assim, entende-se a língua oficial como parte de um dispositivo, que instaura a in/exclusão como condição contemporânea e que atua em uma espécie de repatriação de surdos.