Sobre a alimentação popular urbana no início do século XIX: tabernas e casas de pasto lisboetas (original) (raw)

Comida de rua na Lisboa Moderna (sécs. XVI e XVII)

DIZ-ME O QUE COMES... ALIMENTAÇÃO ANTES E DEPOIS DA CIDADE. Fragmentos de Arqueologia de Lisboa 1, 2017

A transformação de Lisboa num empório comercial mundial no final do século XV conduziu a um considerável aumento da sua população que, consequentemente, propiciou o desenvolvimento e alargamento de uma vasta rede de atividades comerciais e de abastecimento urbano com o objetivo último de suprir as necessidades mais básicas dos moradores, nomeadamente a sua alimentação. As múltiplas relações de viagem e testemunhos de estrangeiros que passaram pela capital do império português dão conta de uma pujante vida comercial nas ruas de Lisboa, destacando-se a considerável quantidade de pessoas e estabelecimentos dedicados à produção e venda de comida feita, isto é, de preparados culinários prontos a consumir. De assadores de sardinha a estalagens e tabernas, o transeunte tinha acesso uma grande variedade de produtos e preparados que refletem uma tipologia muito específica de hábitos alimentares, o das populações urbanas modernas. Por outro lado, algumas destas atividades revelam, ainda, uma curiosa e complexa organização e ocupação da malha urbana lisboeta, concentrando-se em locais específicos da cidade e dotadas de regimentos e legislação própria, refletindo, em determinados casos, uma organização gremial e de considerável reconhecimento social.

Alimentação e transformações urbanas em São Paulo no século XIX

Almanack, 2014

Resumo Este artigo procura identificar algumas transformações nos espaços urbano e doméstico em São Paulo no final do século XIX, associada com o consumo de alimento nas casas e nas ruas. A introdução de tecnologias como o fogão a gás e a trajetória dos cafés, restaurantes e novos cardápios, foram delineadas juntamente com a transformação da cidade, principalmente a questão sanitária, associada ao desejo das elites de modernização.

A alimentação em Lisboa no decurso da Idade do Ferro, Rua dos Correeiros (Lisboa)

As escavações efectuadas no subsolo da baixa de Lisboa, no Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros, permitiram a identificação de diversos contextos arqueológicos, de carácter habitacional e artesanal, dos séculos V a inícios do IV a.C. Esses contextos forneceram um assinalável conjunto de restos mamalógicos e malacológicos. No caso dos mamíferos, a maioria dos elementos são de animais domésticos (vaca, ovelha, cabra, porco, cavalo e cão), com uma reduzida representação de animais caçados (veado). Também a presença de moluscos demonstra a utilização de recursos aquáticos. Estes resultados permitem sobretudo a reconstituição da dieta alimentar e, por via dela, das características económicas e até sociais do respectivo segmento da população que então ocupava a área ribeirinha da urbe.

" Lisboas operárias " no final do século XIX

2016

Ciclicamente acontecem transformações no perfil populacional e ocupacional das cidades. É por exemplo o caso do processo atual de reconfiguração do centro de Lisboa, motivados pelo crescimento do turismo e pelas políticas de rendas. Também, no período final do século XIX, sobrevieram transformações económicas e sociais, dessa feita, impulsionadas pelo desenvolvimento industrial e urbanístico da cidade. Este jogo de adaptações e mudanças a que se assisteatualmente e no passadono espaço da cidade depende da intervenção de atores públicos e privados e da sua capacidade para mudar formas de vivência e moldar aproveitamento dos espaços urbanos. Em Lisboa, tal como em Barcelona, Bilbao, Lyon, Turim ou Estocolmo, viveu-se uma intensa transformação demográfica e urbana no final do século XIX. As áreas centrais destas cidades eram dotados de uma grande diversidade social. Já nos novos bairros, que foram surgindo nas periferias da cidade tradicional, vivenciou-se uma crescente homogeneidade no que toca aos seus habitantes, constituídos fundamentalmente por operário/as, artífices, mulheres empregadas no serviço doméstico e pequenos comerciantes. Na última década do século XIX, a cidade de Lisboa 1 passou por alterações estruturais -económicas, sociais e urbanísticasque implicaram mudanças nas vivências quotidianas dos seus habitantes. Este foi o momento em que o crescimento demográfico da cidade de Lisboa, onde em 1890 se concentrava mais de 7% da população portuguesa 2 , se passa a fazer à custa dos migrantes que vão em larga medida engrossar as classes trabalhadoras, nomeadamente a operária, e se inicia uma nova segregação social da cidade. Muitos destes habitantes eram «novos lisboetas» vindos a sua maioria dos distritos de Coimbra, Viseu e Leiria, que provocaram um aumento significativo dos efetivos populacionais, resultado de uma forte migração proveniente do país rural em direção à capital. É, também, o momento da publicação das primeiras normas legislativas de cariz laboral 3 e da legalização do associativismo de classe, sendo que o Estado obriga, ainda assim, ao registo e aprovação dos respetivos estatutos no Governo Civil 4 . Aliando estes dois exemplos ao crescimento demográfico efetivo e ao facto do Censo de 1890 indicar que 34% dos habitantes da cidade tinham uma atividade profissional, relacionada

A produção no final do século XIX e nos inícios do século XX e o abastecimento a Lisboa: um estudo de caso de uma casa agrícola às portas da capital

XLI Encontro da Associação Portuguesa de História Económica e Social: (IN)SUSTENTABILIDADES, 2022

A partir da segunda metade do século XIX, com a Regeneração e no seguimento das novas lógicas de produção capitalista, iniciou-se em Portugal um período de grande desenvolvimento económico e de progresso material, levando a que se considerasse que a regeneração económica só seria possível e passaria pela regeneração agrícola. Ora precisando a agricultura de alterações profundas, visto que algumas das estruturas agrárias do Antigo Regime permaneceram mesmo com as mudanças decorrentes da Revolução Liberal, era necessário encontrar mecanismos que incentivassem e estimulassem a produção agrícola. Esses mecanismos resultaram, entre outros aspectos, em novos métodos de aperfeiçoamento ao nível da maquinaria usada e das culturas praticadas, mostrando-se, em alguns casos, praticáveis e sustentáveis para o solo agrícola português, tirando-se deles ensinamentos, vantagens e proventos. Nesta comunicação, para se compreender estas questões da produção e do abastecimento da cidade de Lisboa na transição do século XIX para o século XX, debruçar-nos-emos, como estudo de caso, sobre a região da lezíria ribatejana situada no concelho de Vila Franca de Xira, focando particularmente a casa agrícola de José Pereira Palha Blanco. Há quatro características que consideramos fundamentais para a caracterização desta exploração e que permitem perceber o desenrolar da produção agrícola e do abastecimento da capital portuguesa: o conhecimento científico; a selecção científica; o fomento e a aposta na industrialização e modernização agrícola a vários níveis; e o concelho de Vila Franca de Xira como porto de abastecimento. No fundo, o que se pretende com esta intervenção é tentar perceber, através deste estudo de caso, de que maneira a acção e a iniciativa particular de proprietários e lavradores, empenhados na condução e incentivando um desenvolvimento e modernização da agricultura e da indústria, influenciaram a produção agrícola e o abastecimento da capital portuguesa na segunda metade do século XIX e na primeira do século XX, numa época em que Portugal era ainda identificado como um país essencialmente agrícola e economicamente atrasado se comparado com os principais países europeus.

«Vilas operárias» na Lisboa do final do século XIX

www.jornalissimo.com, 2018

Artigo de divulgação histórica - no âmbito da parceria entre o Laboratório de História do Instituto de História Contemporânea (IHC – FCSH - UNL) e o Jornalíssimo ” (www.jornalissimo.com - site de informação destinado a jovens). [https://www.jornalissimo.com/historia/1046-vilas-operarias-na-lisboa-do-final-do-seculo-xix\]

O abastecimento alimentar da cidade em finais do século XIV: contributos do Livro das Posturas Antigas de Évora

2020

O presente artigo aborda a temática do abastecimento alimentar da cidade, em finais do século XIV, enfatizando os elementos que podemos encontrar no Livro das Posturas Antigas de Évora. Iniciamos com um breve enquadramento, caracterizador do Livro das Posturas Antigas, pondo em destaque a sua singularidade em contexto nacional e a sua extraordinária riqueza documental. Adotamos, em seguida, no capítulo do abastecimento alimentar, correspondente ao cerne do artigo, uma divisão temática pelos principais produtos alimentares: o pão; a carne e o peixe; a fruta e os legumes; o vinho e o azeite e a água. Em termos gerais, a preocupação de localizar, no tecido urbano, os palcos privilegiados do aprovisionamento alimentar e nomear os agentes intervenientes neste processo não deixaram de estar presentes. Ainda assim, pelas características da fonte que utilizámos, a tónica recai, maioritariamente, em temas relacionados com a regulamentação do setor, através das normas impostas pelas autoridades camarárias que têm, naturalmente, nas questões relativas ao abastecimento alimentar uma das suas principais preocupações.

Filantropia: as cozinhas económicas de Lisboa (1893-1911)

Nos finais do século XIX a assistência em Lisboa estendia-se por vários campos, desde a educação à saúde, passando pelo trabalho e alimentação, entre outros, providenciando em escalas diferentes o bem-estar quotidiano da população. As acções particulares extravasavam a acção do próprio Estado. A rede, ou as redes de assistência presentes em toda a cidade eram caracterizadas por uma geral desarticulação.

A rua, a taberna e o salão: elementos para uma geografia histórica das sociabilidades lisboetas nos finais do Antigo Regime

M.G. Mateus Ventura (coord.), Os espaços de sociabilidade na Ibero-América (sécs. XVI-XIX), Lisboa, Ed. Colibri, 2004, pp. 95-120

La calle, la taberna y el salón: elementos para una geografía histórica de las sociabilidades lisboetas en los finales del Antiguo Régimen/ La rue, la taverne et le salon: éléments d'une géographie historique des sociabilités à Lisbonne à la fin de l'Ancien Régime/ The street, the tavern and the salon: elements for a historical geography of the Lisbon sociabilities at the end of the Old Regime