RITMOS DA CIDADE: som, regulação e persistência da música de rua (original) (raw)

Entre regulações e táticas: músicas nas ruas da cidade do Rio de Janeiro

Revista Famecos, 2018

Algumas práticas culturais que ocorrem nos espaços públicos urbanos evidenciam disputas pelo direito à cidade, justamente por apontarem para dinâmicas de poder e resistências que ocorrem nas cidades contemporâneas. Adotando uma perspectiva que conjuga comunicação, cidade e música, este trabalho tem como objetivo central analisar as dinâmicas entre regulação e táticas da música nas ruas do Rio de Janeiro em um contexto de megaeventos e transição política e econômica. A análise construída aqui busca compreender os processos de ocupação e mobilização política que gravitam em torno da música tocada nas ruas cariocas. Estas reflexões tomaram como referência entrevistas que foram realizadas com artistas, produtores culturais, lideranças locais e autoridades, assim como observação participante que ocorreram entre 2013 e 2017 | Some of the cultural practices taking place in urban public spaces can highlight disputes over the right to the city, precisely because they shed light on dynamics of power and resistance in contemporary cities. By adopting a perspective that combines communication studies, city and music, this work aims to analyze the dynamics between regulations and tactics employed by musicians performing in the streets of Rio de Janeiro, in a context of mega-events, as well as political and economic crisis. The study also attempts to understand the processes of occupation and political mobilization related to the music performed in the streets of Rio. It draws from in-depth interviews with artists, cultural producers, local leaders, and authorities, as well as participant observation carried out between 2013 and 2017

SONORIDADES URBANAS: A CIDADE DA AUDIÇÃO

iv v Agradecimentos Ao meu orientador, o professor Carlos Fortuna, um agradecimento sincero pelos desafios lançados, pela troca e discussão de ideias e pelo constante acompanhamento no decorrer destes meses. À minha maravilhosa mãe, agradeço o apoio, o amor incondicional, as sábias palavras e os conselhos oportunos nos piores e nos melhores momentos da minha vida. Ao meu pai e aos meus avós, reconheço, do fundo do coração, o amor, o apoio, a generosidade e o incentivo dado ao longo da vida. Ao João, pelo amor, apoio e compreensão, por todos os valiosos momentos. À Lígia, pela amizade incessante, pelas horas de pacientes conversas e de motivação, pelo apoio incondicional. À Carolina, pela amizade, dedicação e apreço e pela confiança, sempre presente e motivadora. À Mariana, pela amizade e acompanhamento, um especial agradecimento pelo tempo despendido na concretização da imagem da dissertação. À Nocas, pela troca de ideias, pela ajuda na construção deste trabalho e pelos momentos de apoio e descontração. À Su, à Martinha, à Catarina, ao João, ao Rui, ao Luzio, ao Santiago, ao Mendes, ao Barreira e a todos os meus amigos do coração pelo apoio, amizade e convívio que tornaram estes meses muito mais descontraídos e valiosos, preenchidos com palavras de amizade e motivação. À Rádio Universidade de Coimbra, uma segunda família, onde encontrei pontos essenciais para a minha formação e onde tive a oportunidade de construir o arquivo sonoro que apresento nesta dissertação. Ao Luís Antero, um sincero obrigada pelas conversas valiosas e por todo o apoio que me prestou na recolha e cedência do material sonoro. Ao Dinis Alves, à Cristina Leal, ao José Mário Albino (em representação da ACAPO de Coimbra) por terem aceitado conversar durante largos minutos sobre o som e a cidade. A todos vós, um eterno agradecimento por terem ajudado, cada um à sua maneira, na concretização deste projeto e na superação de mais uma etapa da minha vida.

Música e conflito na cidade: práticas de escuta, espaço público e violência no Rio

57] Domingo de sol, por volta de meio dia. Estamos na simpática Praça São Salvador, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Como ocorre toda semana, um grupo de cerca de duas dezenas de músicos se reúne em torno de um pequeno coreto no extremo da praça para tocar um repertório instrumental de choros. Em volta do círculo de flautas, cavaquinhos, violões, pandeiros e vários outros instrumentos musicais, o ambiente fica lotado de pessoas que se juntam para ouvir a música, beber cerveja e jogar conversa fora. O restante do lugar fica ocupado por dezenas de barracas de uma feira de artesanato e comidas, crianças brincando no parquinho localizado no outro extremo da praça e de um clima amigável de confraternização entre vizinhos, amigos e admiradores do choro, gênero musical de alta legitimidade na cidade. Nesse dia, a praça é ocupada pela música e pelo contexto simbólico que a cerca. Se voltarmos à mesma praça em qualquer noite de sábado, veremos uma configuração diferente. As barracas de artesanato são substituídas por dezenas de ambulantes vendendo cerveja e outras bebidas em isopores improvisados. A praça fica quase integralmente ocupada por grupos que, em pé, ouvem o som de uma animada roda de samba que ocorre também ao lado do coreto. A mureta que circunda o parquinho infantil é ocupada por jovens namorados e pequenos grupos. Há uma intensa circulação de pessoas, que lotam também os cinco bares de seu entorno. Apesar da presença de duplas de agentes da Guarda Municipal que supervisionam o movimento, o clima é [58] de uma noitada predominantemente jovem, igualmente amigável e tranquila. Porém, é impossível não

CIDADE CANTADA: A REPRESENTAÇÃO DOS CONFLITOS URBANOS PELA ANÁLISE MUSICAL

A música popular brasileira é uma fonte riquíssima de representação das nossas cidades. Com foco neste pressuposto, este artigo trata de parte de uma pesquisa científica na qual se entende a cidade como produto social, onde a música popular é um dos meios que representa sua lógica e dinâmica. Por intermédio de canções do cotidiano, pretende-se investigar conflitos urbanos, as relações sociais estabelecidas na cidade, as relações de conflito com o espaço e com a produção e disputa do mesmo. O propósito principal da pesquisa em curso é identificar conflitos urbanos representados por intermédio de exemplares de canções da música popular brasileira. Especificamente neste artigo, o objetivo é apresentar a metodologia empregada para analisar as canções selecionadas, aplicando-a em dois estudos de caso e discutir o resultado desta análise. Esta análise tem como intenção a identificação de quais elementos musicais são utilizados para descrever um conflito urbano e como o compositor articula estes elementos para que tenha um efeito sobre o tema. Neste artigo, são analisadas: a) a música Lamento Sertanejo de Gilberto Gil, em articulação com o tema migração no Brasil dos anos 70; b) a música Malabaristas do Sinal Vermelho de João Bosco, em articulação com o tema cidade partida e segregação sócio-espacial. Com este artigo, pretende-se contribuir com a produção do conhecimento sobre conflitos urbanos e sua representação pela música popular brasileira, como também para pesquisas interdisciplinares que tematizam a cidade.

Músicas e sons que ecoam pelas ruas da cidade

E-Compós

Este artigo apresenta alguns resultados de uma investigação sobre práticas musicais presentes no evento “Paulista Aberta” que ocorre aos domingos e feriados na Avenida Paulista/São Paulo. Usamos uma metodologia de inspiração etnográfica (derivas, observação, entrevistas e registros audiovisuais) e o caminhar como prática estética e política. Tensionamos a dicotomia espaços públicos/privados atentando para a lógica dos usos que são feitos das ruas e da música no contexto paulistano articuladas aos aspectos partilhados e dissensuais das sonoridades e dos territórios sonoros, analisando alguns dados empíricos das materialidades que envolvem estas práticas musicais no evento em questão.

A vitalidade da música na cidade de Rio das Ostras (RJ)

2021

Based on field observations, informal and semi-structured interviews carried out with the actors in the everyday between 2018 and 2019, this article sought to continue reflections on the trajectory of the seaside town of Rio das Ostras (which began in 2015) with regard to the transforming potential of music in contributing significantly to the development of the locality: in 2019, the municipal government even forwarded the candidacy of this locality as a creative city of UNESCO. We sought to analyze particularly the articulations and tensions between the actors, especially when public management tries to value music as a vector of socioeconomic development, betting on the articulation of this type of artistic expression with the tourism and, in general, entertainment.

Perfomances na rua e as comunidades-relâmpagos

Artefilosofia, 2012

Resumo: O artigo propõe o conceito de comunidade relâmpago para manifestações culturais e artísticas que acontecem transformando o espaço urbano como algo vivo e vibrante. Procura relacionar os aparatos das manifestações políticas com as artísticas como um processo de retro-alimentação. Palavras chaves: performance, teatro de rua, comunidade.

Música nas ruas do Rio de Janeiro

Música nas ruas do Rio de Janeiro [recurso eletrônico] / Micael Herschmann, Cíntia Sanmartin Fernandes – São Paulo: Intercom, 2014. 272 p. ; 21cm ISBN: 978-85-8208-086-3 E-book , 2014

Esta publicação é uma decorrência do intenso intercâmbio entre experiências de pesquisa e reflexões que vinham sendo desenvolvidas pelos autores (individualmente e conjuntamente) e que foram sendo maturadas nos últimos quatro anos. Poder-se-ia afirmar que os autores ao longo de suas trajetórias profissionais quase sempre estiveram mobilizados por um sentimento de “apreço às cidades”, isto é, por um profundo interesse em relação às questões que envolvem direta e indiretamente as dinâmicas das culturas urbanas contemporâneas. Assim, quando pesquisavam as transformações locais (e globais) no mercado da música em curso na atualidade (e, portanto, avaliavam-se especialmente as alternativas de sustentabilidade que estavam sendo implementadas pelos atores junto às cenas cariocas), os concertos de música executados nos espaços públicos foram se revelando cada vez mais um objeto de estudo relevante e instigante, o qual deveria merecer maior atenção por parte das lideranças, artistas, autoridades e do meio acadêmico (HERSCHMANN, 2011a). Para além de rótulos desgastados, tais como mainstream ou indie, os atores indicavam que no contexto atual de produção e consumo musical e de grande carestia do custo de vida (especialmente no Rio de Janeiro), a música de rua apresentava-se cada vez mais como uma alternativa inovadora, capaz de mobilizar um público saturado de ofertas culturais e com poder aquisitivo limitadoAo mesmo tempo, foi possível constatar também que esta experiência estética coletiva – que constroem o que se denominou em trabalhos anteriores como sendo “territorialidades sônico-musicais” (HERSCHMANN e FERNANDES, 2012) – promovidas por grupos musicais e seus fãs (os quais ocupavam o espaço público) vinham ressignificando, ainda que pontualmente, o ritmo e o cotidiano das cidades. Com esta noção “territorialidades sônico-musicais” busca-se valorizar a importância da música e das inúmeras sonoridades presentes no cotidiano das cidades para os processos de reterritorialização que serão realizados pelos atores pesquisados. Muitas vezes a decisão da área que será ocupada com música leva em conta não só a circulação dos atores, mas também o fluxo e a intensidade dos fluxos sônicos do local.