Música e Educação: uma perspectiva bakhtiniana (Livro Educação no Brasil: Experiências, Desafios e Perspectivas 3) (original) (raw)
Resumo O presente trabalho tem como objetivo principal discutir algumas questões que tecem o desafio de assumir a música como um posicionamento epistêmico, necessário e possível, no debate com a educação. Trata-se de um posicionamento necessário por conta de sua ubiquidade, ou seja, pelo fato da música apresentar-se viva no cotidiano da educação com, sem ou apesar do ensino de música. E trata-se de um posicionamento possível por conta de sua ambivalência, ou seja, pelo fato da música apresentar-se, justamente enquanto um elemento vivo no cotidiano da educação, como uma arena de sentidos em permanente dialogia. A discussão aqui proposta realiza-se, entretanto, a partir da noção bakhtiniana de polifonia. Trata-se de uma noção que Bakhtin tomou de empréstimo do campo da música para problematizar a não-objetivação não apenas do romance de Dostoiévski, mas também da própria linguagem. Uma noção, inclusive, que mostra-se capaz de oferecer recursos teórico-metodológicos bastante férteis para a não-objetificação do próprio campo da educação. Assim, é justamente sob esta perspectiva bakhtiniana que, em meio a um contraponto entre Estado, sociedade civil e juventude de uma favela da cidade do Rio de Janeiro realizado no cotidiano de em uma escola municipal carioca, pretendemos apontar que a música abre algumas possibilidades bastante férteis para a emergência de duas questões principais: a) o conflito, a contradição e, algumas vezes, até mesmo a violência como elemento estruturante das relações educacionais; b) e, complementando um pouco mais esta primeira questão, as estreitas e complexas relações entre conhecimento, política e estética que tecem o próprio campo da educação.