Apontamentos acerca de um programa para o ensino de Teoria da História de uma perspectiva subalterna (original) (raw)
No semestre passado, depois de alguns anos, voltei a ministrar a disciplina obrigatória de Teoria da História para a graduação aqui na UFOP. O que percebi de imediato é que as mudanças no clima histórico, o acirramento da conjuntura política e as transformações do próprio campo pediam uma mudança mais aguda no programa da disciplina da forma como eu havia ministrado no passado. Meu programa tradicional dividia o conteúdo em cerca de 10 recortes temáticos clássicos (temporalidade, cientificidade, narrativa, ética, representação, memória, etc) e privilegiava a leitura de textos "clássicos" de autores do século XX, geralmente europeus e estadunidenses. Cabe lembrar que o currículo na UFOP tem algumas peculiaridades que tornavam essa ênfase em autores contemporâneos possível, como a existência de obrigatórias para História da Historiografia Geral, História da Historiografia Brasileira e Introdução aos Estudos Históricos, totalizando quatro obrigatórias do setor que chamamos de Teoria e História da Historiografia. A dimensão tradicional das "escolas historiográficas" e da "história do pensamento histórico" é abordada nas disciplinas de História da Historiografia (Brasileira e Geral), o que permite que Teoria da História tenha um enfoque mais sistemático-reflexivo. Outra diferença que deve ser levada em conta na hora de avaliar o programa proposto é o fato de que na UFOP temos disciplinas obrigatórias apenas até o segundo ano do curso, depois o aluno tem liberdade de construir seu percurso formativo com disciplinas eletivas. Assim, para o nosso setor, as disciplinas obrigatória estão assim distribuídas: Introdução (1o. período), HHB (2o. período), HHG (3o. período) e Teoria (4o. período). A mudança no programa buscou principalmente abrir espaço para o debate de temas que não são regularmente abordados no espaço canônico da Teoria da História, seja ela entendida como "epistemologia da ciência histórica", "filosofia da realidade histórica" ou "teoria da representação". Mantivemos, naturalmente, espaço para essas tradições, mas abandonamos certas ênfases para abrir espaço para outras vozes e problemas: o de(pos)colonial, as questões de gênero e raça, o ensino de história, a circulação social do conhecimento histórico, etc. São inflexões que acredito serem fundamentais para uma nova relevância da Teoria da História, já que seu papel como guardiã da historiografia parece hoje insuficiente, em particular pelo fato das subdisciplinas historiográficas terem elas mesmas se tornado cada vez mais sensíveis ao debate teórico-historiográfico em suas próprias fronteiras. Procuramos igualmente ampliar o espaço para os autores nacionais e latino-americanos em um esforço de questionar a tradição compilatória