Palavras de acesso - A metáfora como modo de conhecimento do divino no artigo 9 da questão 1 Suma de Teologia de São Tomás de Aquino (original) (raw)

A metáfora como modo de conhecimento do divino no artigo 9 da questão 1 Suma de Teologia de São Tomás de Aquino Profa. Dra. Ivone Fedeli FALSAFA-PUC-SP 1. Magister dixit "Pelas precedentes considerações se manifesta que não é ofício do poeta narrar o que aconteceu; é, sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segundo a verossimilhança e a necessidade. Com efeito, não diferem o historiador e o poeta por escreverem versos ou prosa (pois que bem poderiam ser postos em verso as obras de Heródoto, e nem por isso deixariam de ser história, se fossem em verso o que eram em prosa)diferem, sim, em que diz um as coisas que sucederam, e outro as que poderiam suceder. Por isso a poesia é algo de mais filosófico e mais sério do que a história, pois refere aquela principalmente o universal, e esta o particular. Por "referir-se ao universal" entendo eu atribuir a um indivíduo de determinada natureza pensamentos e ações que, por liames de necessidade e verossimilhança, convêm a tal natureza; e ao universal, assim entendido, visa a poesia, ainda que dê nomes às suas personagens; particular, pelo contrário, é o que fez Alcibíades ou o que lhe aconteceu." 1 Gerando uma tradição que se prolongará através de toda a literatura ocidental 2 , Aristóteles atribui neste texto à Poesia a função de representar não propriamente o realtarefa da História e até, sob certo aspecto, das ciências naturais -mais um ideal "segundo a verossimilhança e a necessidade" daquilo que pode e, mais propriamente, daquilo que deve ser, já que é o poeta que, com liberdade criadora, determina o que 'por liames de necessidade e verossimilhança" convém à natureza de seus protagonistas. Ou seja, o poeta recria um mundo mais perfeito, cria uma realidade modelar que, ao mesmo tempo em que mimetiza o real, o aperfeiçoa e lhe atribui um sentido, uma chave hermenêutica, transformando o poeta em pedagogo e o leitor em aprendiz de uma 1 ARISTÓTELES, Poética, 1451 a, 36 -1451 b,10, tradução Eudoro de Souza, ed. Abril. 2 A respeito dos aspectos que a função do poeta e da poesia vão assumindo ao longo da cultura ocidental, ver BÉNICHOU, Paul. Le sacre de l'écrivain. Paris: NRF/Gallimard, 1996. 2 realidade possível. 3