“Mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”: a heteronormatividade na narrativa da trajetória escolar de mulheres lésbicas e bissexuais (original) (raw)

Na escola, tende a operar uma norma social, na qual o padrão heterossexual de conduta seria o único a ter validade e reconhecimento: a heteronormatividade. Neste trabalho, discuto sobre os sentidos da heteronormatividade usualmente prevalente na educação escolar, a partir da problematização de enunciações de mulheres lésbicas e bissexuais a respeito de suas trajetórias escolares, construídas em entrevistas narrativas. Com base em teorizações a respeito da performatividade e iterabilidade da linguagem, de Jacques Derrida, bem como nas discussões sobre gênero, desenvolvidas por Judith Butler e Joan Scott, e de entrevista narrativa e espaço biográfico, conforme propostos por Leonor Arfuch, defini as chaves interpretativas para o questionamento dos registros das entrevistas narrativas realizadas. A pesquisa possibilitou reafirmar a urgência em se abordar temáticas relativas ao gênero e à sexualidade na educação escolar, como forma de combate ao preconceito e à discriminação por orientação sexual e performance de gênero, na medida em que desconstrói a ideia de que existe uma verdade sobre o sexo, uma única e correta forma de performatizar o gênero. Nas narrativas construídas na pesquisa, explicita-se que a vivência escolar tende a ser um processo menos opressivo quando os discursos afirmados no espaço-tempo da escola são o de valorização da diferença e não a repetição constante do imperativo da heteronormatividade. Concluo ainda que a disseminação naturalizada da heteronormatividade pode causar formas diversas de prejuízo para as estudantes, independentemente de terem ou não uma orientação sexual e/ou performatividade de gênero não normativa.