ARIANO SUASSUNA E O RESGATE DE UM GÊNERO MEDIEVAL: TRADIÇÃO E RENOVAÇÃO DA FARSA (original) (raw)

2016, Anais eletrônicos do XV encontro ABRALIC

Nosso estudo consiste na leitura da peça Farsa da boa preguiça, escrita pelo brasileiro Ariano Suassuna. Tendo em vista que o dramaturgo em questão possui uma clara intenção de dar ênfase a uma produção artística que valorize a cultura popular nordestina e, de modo mais amplo, a brasileira, interessa-nos entender a peça que tomamos como corpus deste estudo considerando o processo de ressignificação a que Ariano Suassuna submete o gênero farsa, cuja origem está associada ao período medieval e ao espaço europeu. Ainda que no momento de criação e encenação dessa obra em específico o autor não tivesse trazido a público a sua proposta de arte armorial, nota-se nela, seja explicitado nas rubricas, seja pela escolha dos temas e demais elementos constitutivos da fábula, a nítida presença de uma proposta de produção artística intimamente vinculada à valorização da cultura popular. Tal procedimento, no caso específico de Farsa da boa preguiça, se explicita no fato de que tenha, simultaneamente, recorrido a temas já abordados em outras peças de mamulengo ou em contos populares, o que denota sua preocupação com o resgate e a manutenção desses textos fartamente produzidos na literatura oral nordestina, fazendo uso de uma estrutura farsesca, cuja origem remonta à Europa medieval. Na concepção do autor, a produção artística se dá a partir do diálogo entre a cultura herdada de outros povos e a cultura popular – que no seu caso está intimamente associada ao romanceiro popular nordestino. Entendemos que, justamente nessa vivência harmônica de elementos que se juntam para a construção de sentidos compartilhados, é que se faz possível a manutenção do “mais profundo cômico”, qual seja, o cômico ambivalente de que trata Bakhtin (1999).