A obra e a loucura (original) (raw)
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A obra errante é viagem e estrada
MODOS: Revista de História da Arte, 2018
O artigo aborda a trajetória de uma cópia do David de Michelangelo, que veio a se integrar ao acervo do Instituto Ricardo Brennand (Recife/PE), ao final de 2010. Encomendada no ano de 2000 para decorar o jardim de um restaurante em Curitiba, a peça foi considerada um “objeto de mal gosto” e pivô de uma série de questões, até ser leiloada e adquirida pelo instituto pernambucano, passando por uma verdadeira metamorfose e construindo para si outros sentidos. Considerada em sua biografia e a partir das questões que mobilizou, a cópia se revelou um “objeto inquieto”, privilegiado para se discutir outras histórias possíveis da arte, ao considerar os sentidos das obras de arte não fixos em um determinado espaço-tempo, mas instáveis e construídos em suas trajetórias.
A questão da obra: inoperosidade, trabalho, vida
Nau Literária. Crítica e teoria da literatura em língua portuguesa, 2019
A "questão" no título sublinha o fato de a "obra" no artigo não ser encarada como um problema, por isso não se busca respostas (típicas de problemas), mas modulações do que seja "obra" enquanto campo teórico-metodológico transdisciplinar. O artigo estabelece articulações da noção de "obra" com a de "inoperosidade", a de "trabalho" e de "vida". Explora-se a noção de "obra", portanto, desde um ponto de vista contemporâneo, entendendo-a como "desobra", "obra inoperante" ou "obra ociosa" em um contexto crescentemente biopolítico de controle e exceção. Palavras-chave: Obra; Inoperatividade; Biopolítica. Abstract: The "question" in the title emphasizes the fact that the "work" in the article is not considered as a problem, so we do not seek answers (typical of problems), but modulations of what "work" is as a transdisciplinary theoretical-methodological field. The article sets forth articulations of the notion of "work" with that of "inoperativeness", of "labor" and of "life". The notion of "work" is therefore explored as of a contemporary point of view, understanding it as "unwork", "inoperative work" or "idle work" in an increasingly biopolitical context of control and exception. A vida humana é inoperativa e sem fim, mas precisamente esta falta de operatividade e de fim tornam possível a actividade incomparável da espécie humana. O homem votou-se à produção e ao trabalho, por ser, na sua essência, totalmente destituído de obra, por ser um animal sabático por excelência. E a máquina governamental funciona por ter capturado no seu centro vazio a inoperatividade da essência humana. Giorgio Agamben, Arte, inoperatividade, política 1 Obra. Desobra. Todos conhecemos a expressão "vida e obra". Há até pouco tempo, ela era usada em enciclopédias, biografias e livros didáticos na hora de apresentar algum destacado sujeito de determinado campo do conhecimento, com os momentos considerados mais relevantes da sua
Empregados no departamento pós-venda da empresa Cosson Anne -40 anos Nicole -30 anos Yvette -20 anos Guillermo -42 anos, antigo técnico de consertos, atualmente encarregado pelo controle de recebimento das revisões no departamento pós-venda Jaudouard -45 anos, chefe de departamento
Cinema. Journal of Philosophy and the Moving Image, 2018
Análise dos filmes de animação de Gianluigi Toccafondo numa perspectiva fenomenológica e uma reflexão sobre o desenho e a pintura no cinema de animação.
Arte e loucura como limiar para outra história
Psicologia USP
Resumo Pretendemos problematizar arte e loucura, inicialmente discutindo a experiência do pesquisador em relação às imagens do mundo, com o testemunho e a figura do louco e, consequentemente, com o fora que ela evoca. Em seguida nos colocamos diante do muro, situação-limite na qual a loucura enquanto catástrofe e a arte enquanto via poética vêm compor um limiar, ausência que Blanchot transpõe à linguagem para dar a ver outras constelações possíveis, tanto de palavras quanto de seus inomináveis. Por fim, com Walter Benjamin, pomos a história da loucura a contrapelo, e, mergulhados no Ateliê de Escrita do Hospital Psiquiátrico São Pedro, desvelamos que a arte pode, na relação com a loucura, tornar-se a linguagem essencial na perigosa travessia em direção à experiência, transpondo a vivência desse estado assustador para trazer ao mundo outro sentido, reconhecendo outros modos de existência que podem vir a ser outras poéticas de vida.
Comentário ao filme " A loucura entre nós " , documentário, direção de Fernanda Fontes Vareille, 2016, 76mins, lido no Cine Lacaneando, realizado na Casa Guilherme de Almeida em 5 de agosto de 2017
2014
A Literatura tem-se deparado com um sistema complexo desde Lícofron, perpassando pelo Barroco e efetivando-se no século XX. Tal fato não poderia deixar de ocorrer na contemporaneidade, em que meios eletrônico-digitais têm uma inserção atuante na cultura. nesse sentido, o objetivo desse artigo é refletir sobre as relações entre Literatura e hipertexto, a fim de evidenciarmos uma estreita interface/ conectividade de ambos com a complexidade, rompendo com a concepção clássica de arte/ texto. Utilizaremos o aporte teórico da Semiótica, para concluirmos que a era eletrônico-digital, muito longe do que se imaginava, não nega a Literatura, mas se apropria dos mecanismos estruturais das obras-limite.
Tensão entre genialidade e loucura (2009)
Pautados nos estudos da Escola de Paris e nas pesquisas desenvolvidas em semiótica tensiva, que têm como principal representante Claude Zilberberg, nossos esforços se concentram em compreender como se estabelece no discurso o sentido de estranhamento que a personagem José Arcadio Buendía suscita no leitor. Para o presente artigo, limitamo-nos ao primeiro capítulo do romance Cien años de soledad, de Gabriel García Márquez, em que são apresentadas como centrais as três seguintes personagens: José Arcadio Buendía, Melquíades e o coronel Aureliano Buendía. O interesse principal de nossa investigação baseia-se na seguinte questão: por que razão o efeito de estranhamento incide sobre José Arcadio Buendía, e não, o que seria mais óbvio, sobre Melquíades, personagem figurativizada com atributos míticos? Nossa hipótese é de que há um processo de semiose peculiar, responsável pela quantidade de estranhamento que recai sobre José Arcadio Buendía: este se torna estranho ao leitor mesmo quando comparado ao mítico Melquíades. Em consequência das tensões que agem sobre os três atores dessa narrativa, procuramos desvelar o mecanismo de estranhamento que envolve o ator José Arcadio Buendía e que se atualiza como uma tensão fundamental entre os papéis temáticos do gênio e do louco. O artifício do qual se vale o enunciador para engendrar a semiose aqui descrita, parecendo operar de modo a fazer ruir o sentido do discurso estereotípico, remete-nos aos pensamentos de Roland Barthes, quando ele infere que “a primeira [das operações] consiste em isolar-se. A língua nova deve surgir de um vácuo material; um espaço anterior deve separá-la das outras línguas, comuns, vazias, ultrapassadas, cujo ‘ruído’ pudesse perturbá-la: nenhuma interferência de signos [...]” (1971, p. 8).