USO DE LARVAS DE BESOUROS ENTRE OS GUARANI ÑANDÉVA DA ALDEIA PIRAJUÍ, MUNICÍPIO DE PARANHOS, MATO GROSSO DO SUL (BRASIL), COMO PRÁTICA CULTURAL LIGADA À SEGURANÇA ALIMENTAR (original) (raw)

O artigo foca o hábito de consumo de larvas de besouro pelos indígenas da etnia Guarani do Mato Grosso do Sul, Brasil. Para os indivíduos que ainda consomem as larvas há uma ligação com magia e religião, mas também essas larvas são uma iguaria destinada ao consumo de personalidades da aldeia. Essa tradição está sendo ameaçada entre os próprios Guaranis não só por mudanças de hábitos alimentares, mas também pelas normas de extrativismo sustentável. A decisão de estimular ou não o consumo de larvas de coleópteros passa pela necessidade de avaliar sua disponibilidade e seu valor alimentar no contexto do consumo tradicional e de traçar alternativas à sua produção sustentável, se for o caso. A pesquisa foi conduzida entre os índios Guarani Ñandéva na aldeia Pirajuí, MS, Brasil, sob a ótica da Segurança Alimentar, que deve disponibilizar alimento culturalmente adequado, em quantidade e qualidade. Os resultados mostram que a coleta de larvas de Rhynchophorus palmarum em armadilhas tradicionais proporciona baixo rendimento com sacrifício de plantas adultas de palmeira Acrocomio aculeata, habitat dos besouros. As larvas pesaram 9 gramas em peso fresco em ciclos de 68 dias no ápice da coleta, que ocorreu em fevereiro. Entretanto, larvas de 50 dias, embora proporcionassem menos rendimento, poderiam também ser consumidas. Quanto à qualidade nutricional das larvas em seu estado fresco, como são majoritariamente consumidas, elas apresentaram 650 kcal/100g, equivalente ao filé de frango. A pesquisa permitiu concluir que o extrativismo tradicional não permitiria atender aos consumidores potenciais da aldeia mesmo como alimento complementar. Em face dessa constatação, duas alternativas se apresentam, o consumo como alimento gourmet, disponível a poucos e mais valorizado, e a criação sobre habitats alternativos, mais disponíveis e renováveis. Essa última alternativa já está sendo proposta pela ONU para atender ao consumo de insetos em regiões e culturas nas quais eles são valorizados. Palavras-chave: Segurança alimentar, Rhynchophorus palmarum, composição centesimal, extrativismo sustentável, Pirajuí, Mato Grosso do Sul, Brasil.