Entrevista com Michael Löwy: Rosa Luxemburgo e Marielle Franco foram assassinadas porque incomodavam (original) (raw)
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Em 2018, o livro "Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana", escrito seminal na história do marxismo latino-americano, completa 90 anos de publicação. José Carlos Mariátegui o escreveu tendo como uma de suas fontes de inspiração o fato incontornável de que, no Peru de sua época, o cruzamento entre os pertencimentos de raça e classe era estratégico para se pensar um programa socialista no âmbito das organizações do proletariado rural e urbano. Já no fim da segunda década dos anos 2000, as massas de trabalhadoras e trabalhadores não-brancas que caracterizam a América Latina parecem sustentar o vigor das teses de Mariátegui. Mais ainda se levarmos em consideração as históricas experiências de poder político, ainda em plena vigência, do zapatismo no México e do MAS boliviano. Conte-se ainda a importância política de movimentos indígenas como o equatoriano, peruano, colombiano, chileno e argentino, que congrega povos espalhados pelo que já foi o grande império -"Tawantinsuyo"inca (quéchuas, aymarás, mapuches e outros). Nas palavras de Michael Löwy, "esta mobilização demonstrou que Mariátegui tinha razão de insistir [...] no potencial revolucionário dos movimentos indígenas em nosso continente". Na entrevista abaixo 2 , ele comenta essa e outras questões concernentes à pujante contemporaneidade do pensamento do Amauta por ocasião do nonagésimo aniversário de sua principal obra.
A morte em Rosa Luxemburgo e Michel Foucault
Kalagatos, 2014
Rosa Luxemburgo e Michel Foucault, a menos no que respeita à maneira como se deu uma fusão entre obra e vida e entre teoria e prática, estão muito próximos. A partir de uma breve reflexão sobre o modo como conceberam a vida e a morte, bem como viveram e morreram, faz-se visível a possibilidade de uma estética da existência. Isso se comprova também pela morte que cada um encontrou, e sua postura diante dela.
"“Quem mandou matar Marielle?” - uma conversa com Luyara Franco
Dossiê Inflexões feministas e agenda de lutas no Brasil contemporâneo, 2020
Em setembro de 2019, 550 dias após o assassinato de Marielle Franco, conversei com sua única filha, Luyara Franco, sobre a vida após o assassinato brutal de sua mãe em 14 de março de 2018. Eu e Marielle Franco éramos companheiros de lutas nos movimentos sociais do Rio de Janeiro e éramos filiados ao mesmo partido. Eu e Luyara nos conhecemos desde sua infância, pois ela acompanhava Marielle em muitos atos e atividades realizadas pelo partido ou demais movimentos sociais. O resultado da entrevista é uma conversa afetuosa e carinhosa entre duas pessoas que compartilham a dor da perda de Marielle Franco, obviamente em contextos e níveis completamente diferentes. Conversamos não somente sobre as dores da perda, mas também as dúvidas e incertezas quanto a ausência de respostas da investigação, a importância da influência que mãe e filha tinham uma na vida da outra nas no reconhecimento enquanto mulher negra e nas lutas cotidianas e sobre as sementes de Marielle Franco. Ao final, Luyara Franco narra a luta dela e de sua família (tia e avós) em manter vivo o legado de Marielle Franco.
DOIS MESTRES NA PERIFERIA DO CAPITALISMO: Michael Löwy e Mariátegui
Caderno CRH, 2018
O objetivo deste artigo é discutir alguns dos desdobramentos da interpretação da teoria do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo, presente em várias passagens da obra de Michael Löwy, a fim de indicar sua importância para a renovação crítica do marxismo latino-americano. Para tanto, buscaremos avançar por três momentos: 1) em primeiro lugar, iremos apresentar os delineamentos gerais da teoria do desenvolvimento desigual e combinado na obra de Löwy; 2) na sequência, vamos destacar a importância do contexto histórico latino-americano entre os anos de 1959 e 1979 no esforço interpretativo e político de Löwy, balizado, sobretudo, pela atualização da teoria do desenvolvimento desigual e combinado; finalmente, 3) argumentaremos que a fecundidade da interpretação de Löwy, no tocante ao contexto latino-americano, advém de sua familiaridade com o pensamento do marxista peruano José Carlos Mariátegui.
História e revolução no marxismo de Michael Löwy
A variada obra teórica de Michael Löwy confessa, até pela escolha de seus temas de investigação, um compromisso com uma práxis emancipatória e uma pesquisa inventiva. Inspirado na herança político-programática construída por Leon Trotsky (aquela que, intelectualmente, melhor resistiu aos desenlaces sombrios do século XX) se alimentou de um marxismo enriquecido, entre outros, por Rosa Luxemburgo e Gramsci, Georgy Luckács e Ernst Bloch, Walter Benjamin e Herbert Marcuse e leituras críticas de inúmeros autores não marxistas, para interpretar os desafios colocados para a luta pelo socialismo. A revolução política e social foi o fenômeno histórico novo mais significativo do século XX, e não surpreende, portanto, que os marxistas que não sucumbiram às pressões sociais hostis, porque mantiveram vínculos com o movimento dos trabalhadores, tenham-lhe dedicado a sua atenção. Em nenhuma outra época da história as sociedades recorreram, com tamanha freqüência, aos métodos revolucionários para resolverem suas crises. A aceleração histórica das transformações, uma das previsões visionárias de Marx, foi vertiginosa. Encontrou pela frente, contudo, em uma proporção impensável, há cem anos atrás, uma força de resistência social e reação política que a humanidade, até então, desconhecia. A expressão mais dramática da contra-revolução política e militar do capitalismo no século XX foi o nazi-fascismo, nos trágicos anos trinta, mas esteve longe de ser a única. A publicação, ainda em 1970, de A Teoria da revolução no jovem Marx, revelava o interesse de Löwy na pesquisa de um marxismo crítico e independente: sensível às novas experiências de luta dos trabalhadores, mas engajado no resgate da obra dos clássicos; obstinado na defesa dos combates dos explorados e oprimidos, mas adversário do dogmatismo estéril.
Direito Público
O presente trabalho tem como objetivo investigar as motivações apresentadas nos inquéritos para assassinatos de travestis, em Belém-PA, no ano de 2018. Utilizou-se o método indutivo através de uma pesquisa documental, bibliográfica e de campo. Foram levantados três inquéritos policiais referentes as quatro mortes ocorridas naquele ano, assim como foram entrevistados membros do corpo policial para elucidar a pergunta de pesquisa. Em um primeiro momento, admite-se o gênero em seu viés performático, um constructo social que serve como uma categoria estruturante da sociedade, capaz de hierarquizar vidas. Em seguida, se apresenta as travestis como as sujeitas que diferem dessa norma de gênero e por essa razão são expostas a incontáveis violações, movidas pela transfobia. Posteriormente, apresenta-se o cenário belenense dos assassinatos de travestis e os dados de campo. Questiona-se as motivações para os homicídios de travestis. Percebe-se como a transfobia foi escamoteada na investigação...
Rousseau e Maquiavel, pensadores republicanos
O tema da república é um eixo fundamental em torno do qual Nicolau Maquiavel e Jean-Jacques Rousseau desenvolveram suas respectivas reflexões sobre a política, sendo que as obras do escritor florentino serviram de referência para o filósofo de Genebra em diversos momentos. Assim, pretendo abordar algumas das questões chaves que justificam o título de pensadores republicanos atribuído a ambos os autores, enfocando o elo que eles estabeleceram entre a liberdade política e vida cívica possíveis de serem experimentadas somente pelos homens que são membros de uma república bem ordenada. Nesse regime, os indivíduos encontrariam as condições sociais apropriadas para moldar suas identidades de forma a adquirirem a virtude cívica necessária a levá-los a desejarem o bem comum em vez de apenas almejarem seus interesses particulares. Para que isso seja possível, Maquiavel e Rousseau destacaram a importância do trabalho realizado pelos legisladores, sobretudo na fundação dos Estados, quando o estabelecimento de boas instituições políticas requer o recurso à religião para obter o consentimento do povo às leis.