Utopia, teoria política oitocentista e crítica marxista (original) (raw)
alerta Macherey (2012a), a interpretação mais adequada seria da utopia como "outro lugar" (em francês, ailleurs), o qual "não se sabe onde". Bem a propósito, o filósofo lembra que a utopia foi inventada no início das grandes viagens do período da primeira renascença, o que sugere uma utopia localizada do outro lado do mundo, ou seja, lá onde estão, em referência a mapas da época, terras desconhecidas. É nesse contexto que, em 1516, More publica Utopia: Sobre o melhor estado de uma república e sobre a nova ilha Utopia, tido pelo autor como curto tratado sobre o melhor governo. Como esclarece o verbete "Definição", disponível na página eletrônica da Biblioteca Nacional da França (BNF) consagrada ao tema, a utopia moderna encontra raízes em figuras da mitologia antiga, da filosofia grega ou da doutrina cristã, como as alegorias da "era de ouro", do país da cocanha (país imaginário onde tudo é abundante), da "cidade ideal" de Platão (descrita em A República), do paraíso terrestre e das profecias milenaristas. Mas sua démarche distingue-se delas, pois se liga a uma maneira própria de pensar do humanismo renascentista, a partir do qual se entende a sociedade ideal a realizar como construção humana. Com Utopia, More apresenta uma crítica severa à Inglaterra de sua época no livro I, para em seguida, no livro II, descrever a organização social e política da vida dos habitantes na ilha Utopia.