O silêncio de Marx: sobre a recepção de Espinosa em 1841-1845 (original) (raw)
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Leituras Cruzadas. Espinosa e Marx
2014
Neste artigo procuramos tensionar o campo de leituras contemporâneas de Espinosa segundo dois eixos: um que considera a forma mais ou menos explicita em que o interprete invoca o nome do filosofo; outro que, partindo dos encontros entre espinosismo e marxismo, assinala diversos posicionamentos na polemica em torno da contradicao. Aproveitando esses cruzamentos, seria possivel conceber outra ideia da contradicao que, tendo em conta as criticas que apontaram seus efeitos mistificadores, possa servir para pensar a complexidade dos processos politicos contemporâneos?
A democracia é hoje um regime que se expande através do planeta, ou, pelo menos, se expandiu durante a segunda metade do século xx, e que, além disso, continua a ser reclamado pelos povos que dele se encontram ainda privados, mas que, não obstante, nos países em que já foi implantado, é visto por um número crescente de pessoas como um autêntico logro. Qual o motivo desta dupla e contrastada perceção da democracia? Em boa parte, ela deve-se ao facto de a ideia que lhe está subjacente envolver algo mais do que uma simples questão de regime ou forma política. Ao longo dos séculos, foi praticamente esse o único registo em que a democracia se concebeu e discutiu. Em dissonância com esta tradição formalista, este artigo trata o tema da democracia a partir das obras de Espinosa e Marx. Palavras-chave democracia, igualdade, liberdade, Espinosa, Marx Abstract Democracy is today a system that is expanding around the world or at least, was expanding in the second half of the 20th Century and m...
Espinosa e Marx: A Potência Do Pensamento e a Inteligibilidade Do Real
2014
Este artigo faz uma aproximacao entre os pensamentos filosoficos de Karl Marx e Baruch de Espinosa. Os dois filosofos apresentam em comum um pensamento rigorosamente elaborado, e cuja potencia explicativa extrapola as barreiras do tempo, colocando-se como referencia obrigatoria para pensar o real (tanto em seu sentido ontologico quanto em seus aspectos historicos e sociais). O cerne dessa potencia explicativa contida no pensamento de ambos os filosofos estaria na adocao e colocacao em pratica do antigo preceito “conhecer e conhecer pela causa”. Sugere-se, por fim, que a dialetica em Marx seria melhor apreendida, nao pela referencia hegeliana, mas pela “causalidade circular” imanente de Espinosa.
Desejo e Amor Pela Revolução: Marx e Espinosa
Revista do NESEF, 2018
Até que ponto seria possível explicar as tensões políticas do presente por meio do recurso aos afetos espinosanos, notadamente o amor? Este trabalho busca, por meio de uma aliança entre as ideias de Espinosa e de Marx, (re)pensar as possibilidades correntes da mobilização de um afeto em específico: o amor pela revolução, ou a alegria contida no ato de desejar mudanças para si e para a sociedade, sendo esta hoje um corpo político cindido, isto é, dividido e marcado pela contrariedade entre suas partes.
Sobre a Recepção De Spinoza No Brasil
2020
Pelas condições materiais ao CNPq, ao Departamento de Filosofia da PUC-Rio, bem como à Biblioteca Central desta instituição e seus funcionários. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-Brasil (CAPES). Código de Financiamento 001. Agradeço pelos ensinamentos e orientações, ao corpo docente do Departamento de Filosofia da PUC-Rio e à funcionária Edna. Pela amizade generosa, agradeço aos professores Jefferson da Costa Soares, Nythamar de Oliveira, Edgard José, Maxime Rovere e Remo Mannarino Filho. Em especial, agradeço a disponibilidade dos professores que participaram da Comissão examinadora. Aos meus pais, pela educação, atenção e carinho de todas as horas. Aos meus colegas da PUC-Rio e aos amigos e familiares que me incentivaram.
O presente artigo apresenta um extenso estudo sobre a recepção das ideias de Karl Marx na Argentina. Ao longo do processo da presente tradução, Tarcus consultou os originais do livro Marx en la Argentinaem espanhol atualizou o seu texto; após anos da redação do original, tendo tempo para sua reflexão percorrer outros caminhos e livros, reescreveu passagens, adicionou notas e refez partes do texto. Em particular, incluiu passagens de um diálogo com a bibliografia brasileira sobre o tema. This article presents an extensive study on the reception of Karl Marx’s ideas in Argentina. Throughout the process of this translation from the original in Spanish, Tarcus consulted the originals of his book on Marx en la Argentinaand updated its text; after years of writing the original, taking time to reflect on other paths and books, he rewrote passages, adding notes, and reworked parts of the text. In particular, the article includes passages from a dialogue with the Brazilian bibliography on the subject.
Espinosa e a tradição melancólica
Cadernos Espinosanos, 2008
Desde o Problema XXX, atribuído a Aristóteles, uma longa tradição de filósofos, artistas e escritores vê a melancolia como afeto positivo ligado ao “homem de gênio” e à criação intelectual em geral. Do ponto de vista da teoria dos afetos de Espinosa, o problema da melancolia coloca um outro: como é possível que de uma tristeza profunda possa nascer a atividade intectual, artística, literária? Toda atividade é uma produção, uma alegria, aumento da potência de agir e pensar: como ela poderia nascer da melancolia? Nossa hipótese é que o problema se explica pela “alegria eufórica”, a outra face da melancolia, que nasce como reação do desejo contra a própria tristeza. Por ser alegria, afasta a tristeza profunda; mas por ser eufórica, mantém o “melancólico” preso à sua própria doença. Assim, a reação não cura o “doente” de seu “mal”, o mantém num círculo interminável de euforia e estado melancólico.
Marx, Espinosa e Darwin: pensadores da imanência (resenha)
marxismo.21 (resenhas), 2018
A centralidade da análise deve caber ao real histórico, e não aos pensadores, por mais brilhantes que eles sejam. As dificuldades e os impasses do século XXI demandam tratamento próprio: é tarefa nossa, que deve ser enfrentada com os recursos que dispomos. Dentre eles, além das forças sociais vivas dos agentes, há também os recursos oferecidos pelo patrimônio categorial já elaborado anteriormente. (Martins, 2017: 88)
A ÉTICA DE ESPINOSA (1632-1677
Baruch de Espinosa nasceu em Amesterdão, filho de pais judeus, oriundos de Espanha, que se mudaram para Portugal e daí para a Holanda, por causa das perseguições religiosas. Educado na comunidade hebraica de Amesterdão, começou por receber os ensinamentos tradicionais do talmudismo. O pai era um próspero negociante que via, com alguma desconfiança, a preferência que o filho dava aos estudos filosóficos e teológicos. Espinosa era um estudante notável que preferia passar o tempo na biblioteca da Sinagoga do que no escritório do pai. Começou por estudar a Bíblia e o Talmud, ainda muito jovem. Ainda adolescente, estudou as obras de Maimónides, Levi Bem Gerson, Ibn Ezra e Hesdai Crescas. Impressionou-o a identificação de Deus com o Cosmos, a eternidade do Mundo, e a ideia de que a matéria do Universo seria o corpo de Deus. Em Maiomónides, tomou contacto com a teoria averroístas da impessoalidade da alma e da unidade do intelecto. A leitura atenta de todos os grandes filósofos judaicos levou-o a descobrir contradições no Antigo Testamento e a duvidar da interpretação que dele fazia o judaísmo ortodoxo. A sua curiosidade levou-o a aprender latim, com o mestre holandês, Van den Ende, de forma a poder ler os filósofos cristãos da Idade Média. Do encontro com o mestre Van den Ende resultou a grande paixão de Espinosa pela filha que, no entanto, não se sentiu atraída pela grandeza intelectual do filósofo. Apesar de não Ter sido capaz de atrair as atenções da jovem filha do seu mestre de latim, Espinosa ficou equipado para poder penetrar na leitura de Platão, Aristóteles, Demócrito, Epicuro e Lucrécio. Foram, sobretudo, os filósofos atomistas, principalmente Demócrito, que conquistaram o seu coração. Mas a insaciável curiosidade de Espinosa não o fez ficar por aqui. Estudou os escolásticos, apreciou