A narrativa histórica entre a vida e o texto: apontamentos sobre um amplo debate (original) (raw)

Confluências entre narrativas históricas e literárias

Este ensaio oferece uma revisão teórica sobre as tensões que as narrativas históricas e literárias têm gerado desde sua gênese. Considerando a concepção aristotélica sobre a distinção entre o poeta e o historiador, em diálogo com os principais teóricos da filosofia da história moderna, com destaque para Paul Veyne, Walter Benjamin, Hayden White e Linda Hutcheon, narrativas históricas e literárias são caracterizadas como construtos linguísticos análogos. Em outros termos, ambas apresentam tramas, personagens, recursos retóricos tipicamente literários, incluindo figuras de linguagem, e sua tentativa de representação da realidade demonstra-se mais como uma mímesis. Nessa perspectiva, as obras literárias de cunho histórico, com destaque para o romance histórico e suas subcategorias, têm servido também como fonte proeminente para historiadores e impactado fortemente no imaginário coletivo em termos de conhecimento histórico.

A narrativa histórica em debate: algumas perspectivas

Revista Urutágua, 2005

Resumo O presente texto busca tecer algumas considerações éticas, estéticas e epistemológicas a respeito da disciplina histórica, sobretudo em face do impacto que certas proposições do “pós-modernismo” têm causado nas atividades dos historiadores. O artigo ...

Debate I – Thompson-Anderson: disputas entre narrativas históricas e pela prática intelectual

2017

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Licenciatura, no curso de História, da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Na presente monografia desenvolve-se um estudo sobre as disputas entre narrativas e pela prática intelectual entre E. P. Thompson e P. Anderson compreendidas nos quatro textos que compõe o primeiro debate no interior da New Left britânica: Origins of the present crisis; The peculiarities of the English; Socialism and pseudo-empiricism; e A note on the texts. Por se tratar do tema história da historiografia marxista britânica, uso como metodologia-teórica os textos: A Operação Historiográfica de M. Certeau e Os Conceitos de A. Prost. No primeiro momento apresento o contexto dessa controvérsia, e no segundo faço uma apresentação das produções dos artigos dos dois historiadores ingleses. E nesta perspectiva de estudo e análise busco compreender as disputas entre narrativa e pela prática intelectual desse debate de caráter historiográfico.

"Entre os parágrafos mortos da História". Sobre a historicidade na ficção queirosiana"

Revista de Estudos Literários, 2019

RESUMO Neste artigo problematiza-se a noção de historicidade, conduzindo aquela problematização a uma categoria axial dos textos narrativos, a personagem, bem como aos termos em que ela vive eventos históricos. Confirma-se, assim, a dimensão histórica da literatura, sem se privilegiar uma leitura historicista dos textos narrativos literários, entendidos como meros epifenómenos da História. No que diz respeito a Eça de Queirós, dá-se atenção a textos ficcionais e a outros não-ficcionais, observando-se neles maneiras de historicidade ou modos ficcionais de ser histórico. Procede-se, então, a várias indagações que contemplam referências históricas, o grau de conhecimento (ou de reconhecimento) da História na ficção queirosiana e ainda a inferência de informações históricas não expressas, o que contribui para configurar as personagens e o cenário em que elas se movem. Também os textos doutrinários de Eça acolhem elementos de uma historicidade que atravessa toda a produção queirosiana, podendo aqueles textos antecipar ou confirmar a presença da História, de forma explícita ou enviesada, na ficção. Palavras-chave: historicidade, Eça de Queirós, personagem, ficcionalidade.

A narrativa literária e a narrativa histórica

Antonio Carlos Alpino Bigonha, 2017

Procurei neste trabalho distinguir a narrativa histórica da narrativa literária, buscando demonstrar que, embora haja abundantes pontos de intersecção, o que diferencia o trabalho do historiador é sua filiação ao pacto metódico, o que dá ensejo à controlabilidade intersubjetiva do produto de seu ofício. Busquei demonstrar, com recurso à comparação com a poesia, que a característica peculiar da narrativa histórica reside em que o historiador constitui sentido em relação aos fatos passados a partir de uma base empírica, guiado pelo método e submetido ao permanente crivo da racionalidade científica.

Bibliografia: caminhos da história contada e da história vivida

Informação & Informação, 2015

Trata sobre a Bibliografia tendo como referência sua historiografia. Tem por material as bibliografias citadas, os clássicos e os autores que marcaram o desenvolvimento da área. Objetivo: Visa analisar a bibliografia como sendo campo de interesse científico, buscando responder quais são os caminhos de sua história contada e de sua história vivida que a legitimam como campo de interesses científicos? Metodologia: A partir do método historiográfico, discorre sobre o estado atual do ensino brasileiro da Bibliografia. Mediante revisão de literatura, explica sua divisão em ramos e discorre sobre sua historiografia de acordo com contornos históricos dos quais envolvem aspectos tecnológicos da produção do conhecimento. Resultados: Explica que a polifonia e a vulgarização acerca de seu campo científico são fenômenos com impactos às atividades intelectuais nacionais. Analisa conceitos que fundamentam e validam a Bibliografia como área do conhecimento. Atualiza e dá continuidade historiográfica da Bibliografia ao acrescentar reflexões sobre as épocas do trabalho bibliográfico na era digital. Os resultados apontam para a evolução da Bibliografia, tanto enquanto produto e serviço, como área científica em constante desenvolvimento. Conclusões: Através da análise historiográfica, os caminhos da Bibliografia indicam que o campo de estudo é inesgotável, porque a pesquisa sobre o passado de bibliografia acumulada incluem aspectos teóricos que permanecem no tempo atual e sua atualidade expõe muitas possibilidades para o seu futuro. As bibliografias em ambiente Web permitem expandir entendimentos referentes ao acesso e ao uso da informação pela possibilidade de se empregar recursos tecnológicos capazes de aperfeiçoar suas funções sociais de acesso ao conhecimento, em distintos escopos. Palavras-chave: Ensino no Brasil da bibliografia. Fundamentos da bibliografia. Ramos da bibliografia. Historiografia da bibliografia. Bibliografia na era digital. Eduardo Alentejo Bibliografia: caminhos da história contada e da história vivida

As diferentes versões de uma história única: a polêmica a respeito do livro didático ‘Por uma vida melhor’ e os estudos do(s) letramento(s)

Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, n(51.1): 245-260, jan./jun. , 2012

Neste ensaio, tenho por objetivo apresentar uma (re)leitura da polêmica a respeito do livro didático Por uma vida melhor a partir dos Novos Estudos de Letramento (NEL/NLS). Entendido letramento, nessa perspectiva, como práticas sociais situadas e sensíveis à sua articulação com as relações de poder, busco sustentar que a repercussão midiática negativa sobre o livro estaria relacionada a uma concepção de leitura, escrita e oralidade ideologicamente ligada apenas às práticas valorizadas de uso da língua e isolada dos contextos sociais em que essas práticas se inserem. Assim, em um diálogo com a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, analiso essa repercussão como o disseminar de uma “única história” sobre o livro didático em questão e procuro propor uma leitura da polêmica que considere a sua relação com algumas concepções sociais de letramento e que privilegie um conceito mais amplo do termo, capaz de recobrir também as práticas vernaculares locais.

ENTRE ESCRITAS E VIVÊNCIAS: O PAPEL DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA ESCRITA DE CONCEIÇÃO EVARISTO E PAULINA CHIZIANE

ENTRE ESCRITAS E VIVÊNCIAS: O PAPEL DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA ESCRITA DE CONCEIÇÃO EVARISTO E PAULINA CHIZIANE, 2024

O artigo intitulado Entre escritas e vivências: o papel da contação de histórias na escrita de Conceição Evaristo e Paulina Chiziane, tem como objetivo a análise da posição das duas autoras com relação ao seu fazer literário. Nesse sentido, este texto se concentra na análise das obras literárias O Alegre Canto daPerdiz de Paulina Chiziane e Olhos d'águade Conceição Evaristo, explorando o papel fundamental da contação de histórias e da escrevivência nas narrativas. Além disso, temos como objetivo a análise da maneira como as autoras utilizam a arte de contar histórias para dar voz a personagens femininas e seus espaços, enfatizando a resiliência e as experiências únicas dessas mulheres. Investigando, portanto, como as obras abordam a crítica pós-colonial ao reimaginar histórias tradicionalmente silenciadase destacar a importância da representatividade. A comparação entre as duas obras ressalta como a contação de histórias e a escrevivência podem ser ferramentas poderosas para explorar temas como identidade, gênero e história, proporcionando uma visão rica e multifacetada sobre a experiência feminina.

Entre O “Poeta” e O “Historiador” – a Propósito Da Ficção Histórica

Signótica, 2007

História e ficção misturam-se desde a epopéia homérica. Aristóteles distinguiu "o poeta" do "historiador", mas a distinção é hoje insatisfatória, em face das alterações processadas nos estatutos das duas práticas discursivas. O romance histórico, surgido no século XIX, também combinava matéria de extração histórica e dados estritamente ficcionais, recolocando o problema teórico dos limites entre história e ficção. A modernidade contestou o modelo do romance histórico "clássico", romântico, especialmente quanto ao triunfalismo e ao distanciamento temporal do narrador. Este trabalho intenta tipificar a ficção histórica a partir de seus traços mais característicos. PALAVRAS-CHAVE: Ficção, história, ficção histórica, romance histórico. * Doutor em Letras (Teoria Literária). Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da UFRJ.

A escrita da História: distinções entre o texto literário e o texto historiográfico_Revista Contemporânea_UFF

Por vezes, encontramos argumentações ou registros de que a escrita da História é um tipo de literatura. Entretanto, se podem existir pontos tangentes a essa área do conhecimento, defendemos que ao escrever a História, o pesquisador não cria um texto literário ou ficcional, mas, sim, elabora um texto com certas especificidades próprias dos estudos históricos. Assim, a problemática que se coloca é: que distinções podemos fazer entre um texto literário e um texto historiográfico?