O pintor Rogério Silva da Ilha do Faial /Açores um conquistador de arquipélagos (original) (raw)

O que aqui se diz é o relato de factos respeitantes à atividade de Rogério Silva, açoriano da ilha do Faial, notável cidadão e homem de cultura, alem de ser um testemunho sincero de amizade e admiração. O seu desejo intenso de "conquistar arquipélagos" nada teve a ver com intuitos de poder ou de prestígio pessoal, antes com trabalho generoso movido por entusiasmo de civilização e sentido criador. Costa Brites Para o Rogério Silva comecei por ser um nome distante de um rapaz há pouco chegado do continente a outra ilha, figura tornada simpática pelas palavras que o poeta Carlos Faria lhe dizia, ajudadas por desenhos que nem de pasta precisavam para que os segurasse. Vi o Rogério Silva pela primeira vez, nos começos de 1969, numa altura em que veio a Ponta Delgada e se encontrou com o Carlos. Este já me havia falado nele com pormenores entusiásticos a respeito das coisas que se passavam em Angra e não sei se essa ida a Ponta Delgada não teria já a ver com a ideia da "conquista de São Miguel". Mesmo que a causa próxima fosse de uma outra ordem a questão não deixaria de vir à baila. Fui convidado para ir jantar com os dois. Eu tinha 26 anos, era um rapaz, embora trabalhasse desde cedo e tivesse cumprido já 36 infindáveis meses de tropa. Recordo que os dois amigos falaram das idades respetivas, que eram muito aproximadas porque nasceram no mesmo ano (1929), mas à data do nosso encontro um contabilizava 40 e o outro 41 anos de idade. Para mim eram portanto dois "senhores", um cheio de vitalidade e muitas graças, o outro com voz mais receosa e flutuante, embora por vezes procurasse, com ar grave e os olhos muito abertos por detrás das lentes grossas, alcançar uma vibração sobre-humana. Já noutro lugar dos episódios das minhas amizades nos Açores contei como é que da convivência com o Carlos Faria acabei por ser envolvido no entusiasmo que o Rogério Silva começou a imprimir ao lugar e às gentes através das linguagens das artes, animado pelo querer desordenado dos idealistas sem remédio.