Unspoken hints e memória como montagem em novelas gráficas: O caso d'A travessia (original) (raw)

Perrault e a narrativa de travessias

IdeAs, 2016

A estratégia de abordagem central de Perrault é a de colocar as pessoas a serem filmadas em situação. Como apontou Marsolais, nos filmes do diretor quebequense, as pessoas vivem situações que a câmera capta no próprio momento do seu surgimento (Marsolais G., 2007). Trata-se, com a cumplicidade dos envolvidos, de colocá-los no coração de uma ação que libera uma palavra intensamente vivida, palavra que emerge, na maior parte das vezes, em situações de diálogos. Como Michel Marie sublinhou, os personagens são Perrault e a narrativa de travessias IdeAs, 7 | Printemps/Été 2016

As tessituras da memória: ficções e testemunhos

Anuário de Literatura, 2014

Para justificar a tessitura do mais recente número da revista Anuário de Literatura, que chega ao seu segundo número do décimo nono volume e conta com treze artigos, uma tradução e uma resenha, a capa apresenta a tela Pescadores (1970), de Sílvio Pléticos, para quem "a vida é uma linha". A revista se abre com o artigo Ficções de escritores fictícios, de Claudia Maria Pereira Almeida, que discorre sobre a noção de autor a partir da presença recorrente de autores-personagens na literatura contemporânea, no caso, em Le Coeur de Marguerite (1999), de Vassilis Alexakis e Pseudo (1976), de Romain Gary. Em seguida, Dionei Mathias em Fragmentos e estilhaços em "Die Prärie", de Zafer Şenocak encontra na fragmentação da pertença, de sentido e da própria narração, sofrida e encenada pelo protagonista Sascha, um fio condutor para amarrar suas reflexões. E, fechando a primeira seção, formada por pesquisadores docentes, em A escrita gendrada do gaucho nas narrativas transgressoras de Silvina Ocampo, Rafael Eisinger Guimarães propõe uma leitura crítica dos contos "La hija * Doutoranda e Mestre em Literatura pela UFSC. Bibliotecária do Sistema de Bibliotecas da UFSC. Coordenou o Portal de Periódicos UFSC (2009/jun.2014). Integra a Comissão Editorial da Anuário de Literatura. ** Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Literatura da UFSC e integra a Comissão Editorial da Anuário de Literatura. *** Doutor em Literatura pela UFSC, integra a Comissão Editorial da Anuário de Literatura.

O trágico e o riso na arte da travessia

Educação em Foco, 2008

A natureza do riso é desde sempre um mistério à compreensão do pensamento ocidental. Associado à sabedoria num momento e às ações inferiores noutro, sua história está tramada às diversas manifestações culturais, com importantes implicações éticas e artísticas. Por esse viés estético, ele surge na obra de Nietzsche como notável elemento pedagógico. Em “A gaia ciência” o pensador traça alguns dos elementos pedagógicos contidos no riso, que posteriormente será santificado pelo Zaratustra. O caráter libertário e de leveza nele contidos contrastam com o caráter de peso e aniquilação do trágico. Qual o papel pedagógico do riso? Qual é o sentido do riso? Há nele um aspecto corretivo? Essas são as dúvidas que queremos discutir ao longo do texto.

A Memória Ficcionalizada Em ‘Heranças’ e ‘Leite Derramado’: Rastros, Apagamentos e Negociações

2012

Na producao contemporânea que pode ser lida como herdeira do romance historico, admitindo ou nao essa filiacao, conjugam- se textualidades de extracoes muito diversas. Nessa pluralidade, avulta a recorrencia ao discurso memorialistico. Se a presenca da memoria e hoje reconhecida como condicao da producao literaria, no caso da ficcionalizacao do passado historico seu dimensionamento apresenta particularidades em decorrencia de diversas formas de trânsito: entre passado individual e passado coletivo, entre acontecimentos pessoais e acontecimentos sociais, entre o lembrado porque vivido e o lembrado a partir de relatos. Esta abordagem busca perceber rastros, apagamentos e negociacoes dos processos da memoria ficcionalizados em Herancas (2008), de Silviano Santiago, e Leite derramado (2009), de Chico Buarque. A proposta e que a memoria individual figurada nas duas obras pode ser lida como reverberacao da memoria coletiva da sociedade brasileira no periodo ficcionalizado.

Transvase : quando a ficção invade a realidade

Avanca/Cinema 2013. Avanca: Edições Cineclube de Avanca, 2013, pp. 832-839.

Adopting the concept of metalepsis, as explained by Gérard Genette, I intend to tackle the miscegenation of ontological worlds as practiced in metacinematic films dealing either with the creator or the spectator and made famous with Woody Allen’s film The Purple Rose of Cairo (1985, EUA). Assuming the existence of two adjoining fictional universes, one of them intrafilmically projected onto a screen and the other positioned in front of it so as to create or observe the other, one realizes that, in fact, they both communicate in a more intense way. That is, they both can cross the barrier that separates them and function, literally, as communicating vessels thrusting themselves onto the other side of fiction. The use of this screen passage technique – which I call "spilling narrative" – although it takes place inside the film, at an intradiegetic level, cannot be considered a simple comic effect. In actuality, it is a very serious affair, denoting the authorial intervention as a reflexive practice of "écriture" by means of a mise en abyme, according to Lucien Dällenbach. Therefore, the fictional spilling over of worlds which totally blends together both sides of the twice artificial universe of the fabula, represents the emotional and intellectual involvement of the creator with his/her creation and of the spectator with the world watched. Both illustrate the desire of fusion inherent in the acts of creation and reception. My approach will be based on Gabriele Salvatores’ "Happy Family" (2010) and Wojciech Marczewski’s "Escape from the ‘Liberty’ Cinema" (1990).

Memória e esquecimento: notas a lápis sobre a escrita da história

Revista Limiar, 2020

Resumo: este ensaio busca explorar a relação entre a memória e o esquecimento a partir do registro do pensamento de Paul Ricoeur. Com este objetivo, o percurso trilhado segue os vestígios deixados por Jeanne-Marie Gagnebin. Considera, para isso, necessário problematizar o lugar da escrita histórica e da narrativa como elementos constitutivos do próprio processo da história. Ricoeur elege, então, Platão e Nietzsche como aliados. Apesar do improvável encontro, ambos os autores parecem se reunir em suas críticas, respectivamente, ao registro escrito e ao caráter cientificista da historiografia do século XIX. A tessitura proposta acaba por exigir a reabilitação prudente do esquecimento em consonância com a política da justa memória.

A memória na ficção seriada televisual

O presente artigo discorre sobre o papel da memória na constituição da teledramaturgia. Nosso principal aporte teórico-metodológico é a Semiótica da Cultura (SC) na confluência com a narrativa de ficção. Partimos de um levantamento de técnicas narrativas enraizadas nas matrizes clássicas de escrever histórias ficcionais para TV, sobretudo, as características herdadas do melodrama e do folhetim (MACHADO, 2009, 2011; MARTÍN-BARBERO, 2006, 2009; PALLOTTINI, 2012; THOMASSEAU, 2005). Essa trajetória nos ajuda a entender o papel da memória dos sistemas culturais (LOTMAN, 1996, 1998, 2000) na composição da ficção seriada de televisão, sobretudo da telenovela, considerando a cultura como uma memória coletiva, por incorporar a historicidade dos sistemas de signos. Conclui-se que a ficção seriada televisual contemporânea é um texto que traz à tona a reconfiguração nos modos de se produzir e narrar próprios da era da comunicação digital constituindo-se na atualização em processos graduais e explosivos (LOTMAN), mas, sobretudo, essas mesmas narrativas se mantêm ancoradas na linguagem clássica de contar histórias.

Memórias de travessia

História Revista

Este trabalho busca refletir sobre a construção da memória coletiva da comunidade de umbanda “Filhos do Oriente Maior” no município de Açailândia/ MA a partir dos conceitos de corporeidade e transmigração. Metodologicamente, o trabalho alinha-se à pedagogia das encruzilhadas de Luiz Rufino (2019), utilizando o documentário Orí (1989) de Raquel Gerber e Beatriz Nascimento, para relacionar conceitos de transmigração e corpo-território com a construção da memória coletiva dos povos de terreiro. Buscou-se, ainda, a partir da oralidade e do diálogo com a comunidade “Filhos do Oriente Maior”, um resgate da memória coletiva do grupo e da configuração de seu território e práticas ritualísticas. Por fim, constatou-se que a identidade coletiva da comunidade é indissociável da memória inscrita no próprio corpo de seus integrantes, da oralidade e do território ocupado.