Cronotopias da memória, da imaginação e do esquecimento: cenas dissensuais em dois filmes de Tata Amaral (original) (raw)

A Vida e a Lama: três cinematografias seduzidas pela memória

2019

Uma grande reportagem exibida na TV; uma experimentação em realidade virtual; um documentário de longa duração. A partir destes três trabalhos, propõe-se uma reflexão sobre a relação entre cinematografia e memória. O contexto é o conjunto de fatos e desdobramentos posteriores ao rompimento da barragem de Fundão, no município de Mariana (MG), no dia 5 de novembro de 2015. Atento ao modo como são criadas circunstâncias para apresentar os dramas humanos vividos após a tragédia, o foco está no modo como as imagens em movimento dão sentido a objetivos muito maiores que a mera experimentação técnica.Great news on TV; an experiment in virtual reality; a long-running documentary. Based on these three works, a reflection on the relation between cinematography and memory is proposed. The context is the set of facts and developments after the rupture of the Fundão dam, in the municipality of Mariana - MG, on November 5, 2015. Keeping an eye on the circumstances created to present human tragedi...

ENTRE LEMBRAR E ESQUECER: memória e toponímia em "Ditamapa" e "Sobre o rio"

Anais do XXXI Encontro Anual da Compós, 2022

Este artigo propõe uma reflexão sobre memória e toponímia, a partir dos deslocamentos que dois projetos, "Ditamapa" e "Sobre o rio", operam nas temporalidades e espacialidades da cidade. Ambas as iniciativas foram pensadas por pesquisadoras e artistas visuais brasileiras e questionam, cada qual à sua forma, o cruzamento entre memória e visibilidade em espaços comuns, urbanos e cotidianos. Para isso, consideramos o ato de nomear ruas como uma narrativa em que se entrecruzam a memória institucionalizada, a qual inscreve relações de poder, e a memória socializada, a qual propõe nomes espontâneos e deixa entrever um desejo de pertencimento, causando certa fricção nas temporalidades da cidade e na memória que se vincula à toponímica oficial.

Memória e alteridade em dois contos de Caio Fernando Abreu

Em Tese, 2013

Este trabalho pretende analisar as manifestações da alteridade em dois contos, inseridos no livro Os dragões não conhecem o paraíso, escrito por Caio Fernando Abreu. Para tanto, é importante pensar as condições intervalares dos sujeitos sociais que vivem experiências femininas e homoafetivas recuperadas pela atividade da memória. Constituídas pelos sentimentos de perda e de dor, essas experiências da alteridade revelam seu caráter político, pois apresentam relações de afeto que não se enquadram nas gramáticas sociais.

Duas memórias e o esquecimento

2012

Ensaio: Duas memórias e o esquecimento, pp. 142-155 ou de como a festa investe sobre o instante e preenche a memória, destruindo a palavra Resumo: Título: Duas memórias e o esquecimento ou de como a festa investe sobre o instante e preenche a memória, destruindo a palavra... A partir de um tema supostamente comum, que seja o da festa do congado, pretendemos mostrar como a diferença constitutiva da experimentação festiva permitiu uma aproximação inesperada de nossos ol-hares. Quando fizemos os cruzamentos de nossas notas de campo, percebemos que havíamos, por difer-entes percursos, chegado a um mesmo território: a memória. Tentamos aqui (re)constituir, através de um diálogo, os passos desse duplo percurso, procurando explicitar o itinerário acadêmico, mas sobretudo, o afetivo. Colocando-nos em causa através de nossas histórias, que se entrelaçam de maneira tão singular à história local do congado, pretendemos expressar como nossas adesões são importantes na transfigu-ração de uma exp...

Memória e verdade nas distopias literárias

As distopias literárias são obras que tratam de um futuro hipotético onde o controle exercido sobre os indivíduos é total e irrestrito. Tal controle tenta se estender inclusive sobre a memória dos sujeitos, como forma de controlar seu passado e por conseguinte, seu futuro. Em Admirável Mundo Novo, 1984 e Fahrenheit 451, a questão da memória é retomada constantemente por Huxley, Orwell e Bradbury, respectivamente. Em comum a estes autores está a função da memória de dotar a vida dos personagens de sentido, oferecer-lhes explicações e potencial crítico que acabam por culminar no confronto direto com os regimes que os oprimem. As memórias dos personagens se entrecruzam com o discurso oficial dos regimes distópicos, discurso este que insiste em suas próprias verdades e nega o factual em nome delas. Nos regimes distópicos evidencia-se a necessidade de haver um controle da verdade pelo grupo que detém o poder, com isso, todo saber não-oficial ou que seja desinteressante para os detentores do poder é sistematicamente abolido. Neste processo a história é modificada de modo que não existam vestígios materiais para provar ou negar o que está sendo dito e para que o passado possa, no futuro, continuar a ser alterado. É neste sentido que um dos slogans do Ingsoc, partido do controla a Oceania, em 1984 é "quem controla o passado, controla o futuro", que aprendese a ter ojeriza a tudo que é antigo em Admirável Mundo Novo e que a história é apenas copiada mecanicamente pelos alunos de Fahrenheit 451, ou que os museus tenham se convertido em meros acervos virtuais e que nas três distopias aqui citadas o controle ou extinção dos livros seja símbolo do fim da memória. Como conseqüência disso os personagens centrais destas obras tentam recompor debilmente suas memórias, amarrar seus fios frágeis como forma de resistência aos regimes que os oprimem. A memória é, nesses casos, expressão não dos fatos decorridos, já que não é possível provar os fatos lembrados, mas modo de expressão da subjetividade dos protagonistas e da sua afirmação enquanto indivíduos num meio que lhes é hostil e que exige um comportamento de massa.

Contra o esquecimento. Cinema e política atravessados pelas memórias da infância nos filmes: El premio e O ano em que meus pais saíram de férias

Comunicação & Educação, 2013

A autora propõe um estudo dos filmes: El premio (2011), de Paula Markovitch, e O ano em que meus pais saíram de férias (2006), de Cao Hamburger, que trouxeram para o cinema as lembranças dos anos de chumbo da Argentina (1976/1983) e do Brasil (1970-1976). A proposta é a de pensar, a partir desses filmes, memórias e história, e um tipo de cinema que vem recuperando, ainda que timidamente, a temática política no cinema da atualidade. Palavras-chave: cinema político; história e memória; ditaduras militares; anos de 1970.

O cinema falado, de Caetano Veloso: entre “transas” e tramas de memória

Cuadernos de Educación y Desarrollo

Este artigo analisa o longa-metragem O cinema falado (Brasil, 1986) como uma síntese pela qual perpassam – e no qual convergem e deságuam – diferentes tramas de memória, postas em relevo na trajetória de seu diretor, o cantor e compositor Caetano Veloso, que em 2022 completou 80 anos. Pensa-se a película como uma obra em cujo conteúdo se identificam reflexos e consequências de eventos anteriores vivenciados pelo realizador. A ideia central é destacar a relação afetiva de Caetano com o universo do cinema, experimentada desde a infância em sua cidade natal, Santo Amaro da Purificação, no interior da Bahia, e reforçada ao longo de sua trajetória no campo artístico, até atingir seu ápice com a realização de O cinema falado. Para atender ao objetivo deste trabalho, assumiu-se uma proposta de pesquisa qualitativa como suporte metodológico, com fundamento no referencial teórico de Pierre Bourdieu e Norbert Elias. A opção metodológica se justifica por ensejar uma compreensão a partir da aná...