EPISTEMOLOGIAS FEMINISTAS E SOCIOLOGIA: PARA CONHECER E SITUAR A PRODUÇÃO SOCIOLÓGICA BRASILEIRA SOBRE FEMINISMOS E GÊNERO 1 (original) (raw)

EPISTEMOLOGIA FEMINISTA, GÊNERO E HISTÓRIA

Pedro, Joana; Grossi, Miriam (orgs.)- MASCULINO, FEMININO, PLURAL. Florianópolis: Ed.Mulheres, 1998

Introduzindo o debate Nos anos oitenta, Michelle Perrot se perguntava se era possível uma história das mulheres, num trabalho que se tornou bastante conhecido, no qual expunha os inúmeros problemas decorrentes do privilegiamento de um outro sujeito universal: a mulher. 1 Argumentava que muito se perdia nessa historiografia que, afinal, não dava conta de pensar dinamicamente as relações sexuais e sociais, já que as mulheres não vivem isoladas em ilhas, mas interagem continuamente com os homens, quer os consideremos na figura de maridos, pais ou irmãos, quer enquanto profissionais com os quais convivemos no cotidiano, como os colegas de trabalho, os médicos, dentistas, padeiros ou carteiros. Concluía pela necessidade de uma forma de produção acadêmica que problematizasse as relações entre os sexos, mais do que produzisse análises a partir do privilegamento do sujeito. Ao mesmo tempo, levantava polêmicas questões: existiria uma maneira feminina de fazer/escrever a história, radicalmente diferente da masculina? E, ainda, existiria uma memória especificamente feminina? Em relação à primeira questão, Perrot respondia simultaneamente sim e não. Sim, porque entendia que há um modo de interrogação próprio do olhar feminino, um ponto de vista específico das mulheres ao abordar o passado, uma proposta de releitura da História no feminino. Não, em se considerando que o método, a forma de trabalhar e procurar as fontes não se diferenciavam do que ela própria havia feito antes enquanto pesquisadora do movimento operário francês. Entendia, assim, que o fato de ser uma historiadora do sexo feminino não alterava em nada a maneira como estudara e recortara o objeto. Na verdade, sua argumentação deslocava a discussão, deixando de considerar o modo de produzir e

FEMINISMO, GÊNERO E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Resumo Este texto busca acompanhar o encontro entre a teoria feminista ea psicologia, focalizando os pontos de contato existentes entre a primeira ea teoria das representações sociais de Serge Moscovici. Parte da premissa de que as teorizações da ciência ...

GENEALOGIA DA ANTROPOLOGIA FEMINISTA NO BRASIL: UM OLHAR SOBRE A EMERGÊNCIA DO ENSINO DE GÊNERO NAS CIÊNCIAS HUMANAS NA BAHIA

A Antropologia Feminista pode ser entendida como aquela em que o engajamento político é central para a experiência do trabalho de campo, que passou a ser visto como uma relação de poder. Assim, é parte da escola antropológica preocupada com a melhoria das relações sociais. Neste artigo analisaremos a emergência do feminismo intelectual no Brasil dos anos 1970, cujas preocupações iniciais foram a mulher como força de trabalho, ao mesmo tempo que pensaram sobre as transformações no nível da família. Com análise da biografia profissional da socióloga Zahidé Machado Neto, uma pioneira nos Estudos sobre a Mulher, percorreremos o início do feminismo intelectual na Bahia. Sabemos que a docente foi a primeira a ensinar disciplinas que abordavam a mulher e a condição feminina e que os textos antropológicos e sociológicos de seus programas fizeram parte do campo conceitual que possibilitou a teoria feminista no Brasil.

GÊNERO, FEMINISMO E PSICOLOGIA SOCIAL NO BRASIL: ANÁLISE DA REVISTA PSICOLOGIA & SOCIEDADE (1996-2010)

Psicologia & Sociedade, 2016

RESUMO Os estudos de gênero e feministas têm sido desenvolvidos em diversas áreas das ciências humanas e sociais no Brasil, contribuindo para a consolidação de um campo de pesquisa amplo, marcado por uma heterogeneidade epistemológica, teórica e metodológica. Entretanto, a literatura indica que o campo do gênero tem vivido uma crise significativa, principalmente a partir das críticas que tal noção recebeu das feministas da terceira onda. Interessou-nos analisar se e como no contexto brasileiro tais críticas têm marcado a produção em psicologia social. Para tanto, identificamos e analisamos as produções sobre gênero publicadas na revista Psicologia & Sociedade, no período de 1996 a 2010. Apresentamos características gerais dos artigos com foco em aspectos quantitativos e analisamos, em termos qualitativos, as formas de utilização da noção de gênero. Foi possível concluir que gênero é uma categoria multidimensional que exige especificações quando utilizada como categoria analítica.

A REDE BRASILEIRA DE MULHERES FILÓSOFAS E A DESIGUALDADE DE GÊNERO NA ÁREA DE FILOSOFIA

Juliana Aggio, 2023

O artigo pretende apresentar as motivações e os desafios enfrentados pela instituição da Rede Brasileira de Mulheres Filósofas, coletivo de profissionais da área da filosofia, criado em 2019, onde pesquisas e iniciativas diversas que congregam atividades acadêmicas de mulheres da área de Filosofia são compartilhadas, divulgadas e incentivadas. Diante do quadro de desigualdade de gênero na área, são ali computados dados que quantificam a diferença gritante da presença das mulheres filósofas nas universidades brasileiras, se comparada à dos homens. Além disso, a Rede abre espaço para que estudos em andamento, dedicados à articulação entre filosofia e mulheres, e ligados a programas de pós-graduação do país, sejam amplamente divulgados. Por fim, a Rede incentiva o debate acerca de problemas que atingem diretamente o desenvolvimento de pesquisas filosóficas por mulheres, tais como: a predominância do cânone filosófico europeu, masculino, branco e heterossexual; a baixa presença de mulheres em eventos acadêmicos, em bancas de pós-graduação ou de concursos; a quase ausência destas nas bibliografias de livros, teses e disciplinas regulares oferecidas pelos cursos de filosofia do país; a vulnerabilidade destas ao assédio moral e sexual ao longo da carreira. O artigo visa discutir esses problemas de modo a mostrar a importância desse tipo de iniciativa – a criação de uma Rede Brasileira de Mulheres Filósofas – para o enfrentamento institucional destes no contexto acadêmico brasileiro.

EPISTEMOLOGIA FEMINISTA E SEGREGAÇÃO URBANA FEMININA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA PENSAR A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

Ebook Violência doméstica contra as mulheres: uma necessária reflexão sobre suas causas e efeitos, bem como as formas de seu enfrentamento, 2020

As mulheres foram excluídas dos direitos sociais e políticos por séculos, tendo sua existência ligada a uma condição biológica inferiorizada em relação à condição masculina. A construção do sujeito universal nas ciências passa a ser então pela questão do gênero, privilegiando o homem, aparentemente detentor da condição idealizada de sujeito cartesiano. Recentemente, a crítica feminista tem se dedicado a denunciar o caráter particularista, ideológico, racista e sexista da produção científica ocidental, valendo-se de categorias reflexivas incapazes de pensar a diferença. A diferença entre as formas de vivenciar o espaço urbano por homens e mulheres foi deixada de lado, se não ignorada por muitos séculos. As variáveis levadas em consideração no planejamento urbano diziam respeito apenas a aspectos demográficos, econômicos, culturais e políticos, levantados de forma pretensamente neutra (JACOBS, 2000). Entre os constrangimentos impostos aos corpos femininos e as lutas cotidianamente travadas pela ocupação do espaço público está o enfrentamento da segregação urbana pelas mulheres periféricas. Embora a literatura brasileira venha tratando o fenômeno da segregação urbana como um fenômeno universal, abordando somente o que diz respeito à classe social, a abordagem feminista do espaço urbano vem apontando para as consequências específicas da segregação urbana para as mulheres, especialmente aquelas que se encontram em situação de pobreza e precariedade habitacional. ISBN 978-65-990443-5-9

INFLUÊNCIAS DA QUARTA ONDA FEMINISTA NA ESPELEOLOGIA BRASILEIRA: DADOS PRELIMINARES

Resumo O movimento feminista é representado na atualidade a partir da metáfora da onda, como fenômenos que precisam de uma série de ações para tomar forma, ao tratar do feminismo podemos perceber a repetição desse fenômeno em quatro etapas até o ano de 2022: a primeira onda, a segunda, a terceira e a quarta. Na última, ocorreu um reflexo entre vários grupos de mulheres cientistas e de diversas áreas, influenciadas por esses momentos e, levantando os seus próprios questionamentos, um grupo de mulheres integrantes do grupo de extensão e pesquisa em espeleologia Guano Speleo criaram as Caverneiras Guano Speleo em 2018, trazendo as discussões sobre o papel da mulher dentro da espeleologia e o porquê da sua invisibilidade em vários aspectos. Para a realização desse trabalho ocorreu contato inicial e apresentação oficial das Caverneiras Guano Speleo, dentro do 35º Congresso Brasileiro de Espeleologia convidando os demais grupos de espeleologia, através da iniciativa feminina a desenvolverem debates e atividades com a temática "mulheres na espeleologia". Decidiu-se, então, criar um questionário para entender o perfil das Caverneiras Brasil no ano de 2019, o mesmo recebeu 56 respostas. Tal número apresenta um panorama representativo para pensar no tratamento e integração das mulheres nesse campo de pesquisa. Os resultados desse trabalho contribuem para refletirmos sobre a temática e buscar meios de diminuir os impactos e tornar o meio subterrâneo igual para todas e todos.

TEORIAS DE GÊNERO E FEMINISMOS NA ARQUEOLOGIA BRASILEIRA: DO DIMORFISMO SEXUAL À PRIMAVERA QUEER

Revista de Arqueologia Pública, 2019

RESUMO Nesse artigo discutiremos como a noção de gênero vem sendo trabalhada na arqueologia brasileira, a partir da história e de grandes temas de nossa disciplina. Nosso enfoque perpassa a arqueologia pré-colonial, em pesquisas que vão da bioarqueologia até arqueologia do simbolismo (arte rupestre, cerâmica, etc.); a arqueologia histórica, em especial da relação das mulheres e o mundo material. Finalizamos a discussão com um panorama mais recente, mostrando o debate de gênero, teoria queer e o feminismo teórico e militante. E como essas discussões vão além do suporte interpretativo para as relações humanas no passado, mas são fundamentais para o entendimento e questionamento de relações de poder e trabalho presentes na arqueologia profissional e acadêmica. ABSTRACT In this article we will discuss how the notion of gender has been worked on in Brazilian archeology, from the history and major themes of our discipline. Our approach runs through pre-colonial archeology, in research ranging from bioarchaeology to archeology of symbolism (rock art, pottery, etc.); historical archeology, especially the relation of women and the material world. We conclude the discussion with a more recent picture, showing the gender debate, queer theory and theoretical and militant feminism. And since these discussions go beyond the interpretative support for human relations in the past, they are fundamental to the understanding and questioning of power and work relations present in professional and academic archeology. RESUMEN En este artículo discutiremos cómo la noción de género viene siendo trabajada en la arqueología brasileña, a partir de la historia y de grandes temas de nuestra disciplina. Nuestro enfoque atraviesa la arqueología precolonial, en investigaciones que van desde la bioarqueología hasta la arqueología del simbolismo (arte rupestre, cerámica, etc.); la arqueología histórica, en especial de la relación de las mujeres y el mundo material. Finalizamos la discusión con un panorama más reciente, mostrando el debate de género, teoría queer y el feminismo teórico y militante. Y como estas discusiones van más allá del soporte interpretativo para las relaciones humanas en el pasado, pero son fundamentales para el entendimiento y cuestionamiento de relaciones de poder y trabajo presentes en la arqueología profesional y académica.

RESSONÂNCIAS EDUCATIVAS DE UM CONCEITO PSEUDOCIENTÍFICO: "IDEOLOGIA DE GÊNERO" E SEXUALIDADE NA SOCIEDADE BRASILEIRA

Perspectivas de la Comunicación, 2019

Este artigo visa discutir as ressonâncias do conceito pseudocientífico chamado de "Ideologia de Gênero" na educação brasileira. Para isto, tomamos dois focos de análise, um formal e outro não formal. Assim, na educação formal, vamos discutir consequências da retirada da orientação sexual do currículo escolar e sua afetação nos diferentes níveis do ensino. Na educação não formal, discutiremos a censura de determinadas obras ou mostras artísticas, usando um discurso de proteção às crianças e adolescentes. A socialização desta categoria se dá através das mídias sociais, ignorando a produção acadêmica das últimas décadas sobre teorias de gênero e sexualidade e de forma viral e violenta assume o lugar de novo dogma cristão e vem afetando as subjetividades.

DIÁLOGOS FEMINISTAS A PARTIR DA TEORIA DA REPRODUÇÃO SOCIAL: POR

Germinal: marxismo e educação em debate, Salvador, v.15, n. 3, p.50-74, dez. 2023.ISSN: 2175-5604, 2023

O ensaio pretende realizar um diálogo entre feminismos e marxismo, a partir da Teoria da Reprodução Social. Para tanto, parte-se do materialismo histórico-dialético e das contribuições que o legado marxista oferece às lutas das mulheres, populações negras e LGBTQIAPN+. Aproximando-se das dimensões que envolvem a relação entre classe, gênero, sexualidade e raça, em tempos de manipulação das agendas pelo neoliberalismo, são propostas algumas reflexões que podem contribuir na unidade da luta contra o capital. Palavras-chave: Teoria da Reprodução Social. Feminismo Marxista. Gênero. Raça. Sexualidade. Resumen: El ensayo pretende realizar un diálogo entre feminismos y marxismo, a partir de la Teoría de la Reproducción Social. Para ello, partimos del materialismo histórico-dialéctico y de los aportes que el legado marxista ofrece a las luchas de las mujeres, poblaciones negras y LGBTQIAPN+. Abordando las dimensiones que involucran la relación entre clase, género, sexualidad y raza, en tiempos de manipulación de agenda por parte del neoliberalismo, se proponen algunas reflexiones que pueden contribuir a la unidad de la lucha contra el capital.