Grandjean de Montigny e os negociantes: a praça, o arquiteto e a clientela (original) (raw)

2019, GOSTO NEOCLÁSSICO Atores e práticas artísticas no Brasil do século XIX

Grandjean de Montigny e os negociantes da Praça do Rio de Janeiro: o arquiteto e a clientelaA comunicação pretende comentar os primeiros momentos de Grandjean de Montigny no Rio de Janeiro, e sua relação com os Negociantes do grosso, no período de 1816 a 1820, contexto da elevação do Brasil a parte do Reino Unido, e de transformações econômicas, políticas e sociais. Como se sabe, os Negociantes de Grosso eram o principal segmento econômico da colônia, com controle de boa parte do comercio transatlântico e, em especial, o de escravos da costa da África. O grupo estabeleceu uma intensa relação com a Coroa, onde empréstimos de recursos e imóveis eram recompensados não só com cargos e mercês como, em especial, com interlocução para a definição das novas regras de comércio. Estava em curso mudanças nas práticas e regras comerciais estabelecidas ao longo de séculos pelo pacto colonial, por força das pressões da Inglaterra que, por meio de tratados comerciais, impunha a internacionalização de produtos e serviços, com vantagens alfandegarias para seus negociantes, e o fim do tráfico negreiro.Nesse período, a sociabilidade introduzida pela Corte, e a circulação de novos produtos importados – inicialmente ingleses, e depois, também franceses -, vinham modificando gradativamente os hábitos e costumes das elites. Homens e mulheres de famílias de negociantes aderiram aos novos modos de enobrecimento, e se inseriram junto a corte, por meio de títulos e cargos, sendo que D. Ana Francisca Rosa Maciel da Costa, viúva de Brás Carneiro Leão, e mãe de Fernando Carneiro Leão, líder dos negociantes, recebeu o título de baronesa de São Salvador de Campos.Grandjean de Montigny teve negociantes como clientes na decorações efêmeras das cerimônias reais (recepção da princesa Leopoldina e coroação de D. João VI) e na reforma de casas, como de Luiz de Sousa Dias e do Tenente General José de Oliveira Barbosa.E sua principal encomenda no período foi para o Corpo do Comercio, o ‘risco e execução” da Praça de Comércio, desenvolvido entre 1819 e 1820, sob administração do negociante e comendador José Marcelino Gonçalves. O edifício estava destinado a abrigar o Tribunal do Comercio, instituído em 1811, e as reuniões do Corpo do Comercio, e havia sido antecedido pelo edifício da Praça do Comercio da Bahia, em 1816. Os custos da construção foram por conta dos negociantes, por meio de subscrição, e do Banco do Brasil, que aplicou 168:356$433. Concluído para os festejos do aniversário do Rei, a 13 de maio 1820, o edifício foi visitado pela família real a 14 de julho de 1820, quando foi recebida pelo corpo dos negociantes e arquiteto apresentado ao rei.Devido a incidente político ocorrido na Praça do Comercio, que resultou em mortos e feridos, levaram o Corpo do Comercio a abandonar o prédio. Em 1836, Grandjean de Montigny voltaria a colaborar com os negociantes, para a reforma de outro espaço para a Praça do Comercio.