Nas águas do mesmo rio de Giselda Leirner: entrelaçamentos transnacionais femininos na escrita do Holocausto (original) (raw)
2019, Giros espacio-temporales: Repensando los entrelazamientos globales desde América Latina
Holocausto e gênero O interesse pela pesquisa sobre escrita feminina e o Holocausto surgiu por volta dos anos 80. Uma perspectiva feminista a respeito desse tema, representada, entre outros, por Marianne Hirsch, gerou logo muitas polêmicas. Joan Ringelheim, em seus artigos publicados ao longo da década dos 80, tomou posições diversas: primeiro baseou a pesquisa no feminismo cultural , para logo reavaliar sua reflexão, ocupando-se com a crítica da perspectiva 1 feminista. Nos anos 90, Dalia Ofer e Leonore Weitzman acusaram o feminismo cultural de 2 instrumentalização, trivialização e alienação da essência da catástrofe, assim como de reivindicação da superioridade feminina. Hoje em dia, esses argumentos não se legitimam mais, como denunciam Bergen e Fuchs, já que a discussão vem tomando um outro rumo. , 3 4 As duas pesquisadoras defendem que a aproximação feminista não visa simplificar nem distorcer a complexidade e gravidade da tragédia através de uma discussão de gênero. Em vez disso, ela busca problematizar a agenda acadêmica refinando suas metodologias e percepções e tornando necessário o acompanhamento de um profundo sentimento ético já existente na pesquisa sobre o Holocausto (Fuchs 1999: xi-xv). Em todo o caso, não apenas a teoria e a crítica feminista devem ser consideradas, como qualquer outra aproximação que tenha como objetivo retratar figuras femininas dentro da pesquisa sobre o Holocausto. Feminismo cultural é um movimento derivado do feminismo radical, que possui como sua base teórica a 1 valorização positiva das diferenças das mulheres em relação aos homens. Citando a definição enciclopédica: "Foundationally, cultural feminism is a social movement that reclaims and redefines female identity and it seeks to understand women's social locations by concentrating on men's and women's gender differences. It is believed that women can be liberated from their subordination in society through individual change, the redefinition of femininity and masculinity and the creation of ‚women-centered' culture. Embedded within these efforts is a belief in essentialist gender differences." (Wolff 2011:107) Ringelheim 1985. 2 Bergen 2013, Fuchs 1999. 3 Em 2011 Dalia Ofer criticou novamente a metodologia feminista, defendeu, porém, o gênero como uma 4 categoria de análise na ciência literária e admitiu que o problema está na sub-representabilidade das vozes femininas do Holocausto na pesquisa acadêmica. Ofer 2011: 8.