Coleções étnicas e museologia compartilhada (original) (raw)
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Museus de etnologia. Coleções e colecionar
Há provavelmente pouca discordância com a declaração de que museus geralmente estão em constante necessidade de se adaptarem ao mundo rapidamente mutável de hoje em dia, além das mudanças na sociedade, aos quais supostamente servem, e aos paradigmas aos quais o mundo é explicado. Isto é verdade, especialmente devido a grandes museus estabelecidos no século XIX, os quais estão carregados, não só pelo passado, mas também pelas estruturas complexas e burocráticas, resultado do tamanho e da falta de meios adequados para modernizar, tanto no aspecto físico do local quanto nas metas traçadas. Uma grande parte do problema consiste nas grandes coleções, que foram montadas no passado, dentro de padrões de ideias e práticas então atuais. Portanto, hoje em dia são vistas como inválidas para a produção e disseminação de sabedoria e conhecimento. A discrepância entre práticas passadas e necessidades contemporâneas é muitas vezes ilustrada por amostras "permanentes", instaladas há muitas décadas, as quais não podem ser facilmente mudadas, devido a financiamentos insuficientes ou à prioridade dada a outros aspectos importantes do trabalho nos museus, tais como pesquisa ou educação. Se alguns museus são vistos pelo público como lugares à moda antiga e empoeirados, isso é devido ao fato de serem à moda antiga e empoeirados.
Coleções Etnográficas, museus indígenas e processos museológicos
O ebook “Coleções etnográficas, Museus Indígenas e Processos Museológicos”, organizado pelos antropólogos Alexandre Gomes (Departamento de Antropologia e Museologia-UFPE) e Renato Athias (Programa de Pós-Graduação em Antropologia-UFPE), é composto por 5 capítulos que abordam uma diversidade de temas referentes à discussão sobre os processos museológicos envolvendo coleções etnográficas e museus indígenas no Brasil, abordando estudos de casos situados nos estados de Pernambuco, Maranhão e Ceará. A organização desta publicação partiu da preocupação em refletir de forma conjugada sobre os desafios da formação teórica aliada à formação aplicada, na interface entre Antropologia e Museologia. Resultado de pesquisas e ações colaborativas com populações indígenas, os textos resultam dos muitos anos de atuação dos organizadores na área da antropologia de museus, a partir do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade, grupo de pesquisa vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPE. Segundo a museóloga e antropóloga Lúcia Van Velthen (Museu Paraense Emílio Goeldi-PA), que apresenta a publicação, “Recentemente, alguns museus no Brasil orientaram-se para um novo destino e, assim, buscaram apresentar respostas para as relações que as sociedades ameríndias podem e devem estabelecer com o seu passado. Essas instituições voltaram-se também para novas maneiras de se relacionarem com os povos indígenas e, portanto, ativaram outros mecanismos, tais como o desenvolvimento de contextos de valorização e de acessibilidade. Buscaram, desta forma, assegurar-lhes o direito à memória, à cultura, ao tempo, como um dever de gestão compartilhada que procura diminuir a incomensurável distância existente entre as comunidades indígenas contemporâneas e as coleções de cultura material, produzidas pelos seus antepassados. Estas constatações constituem a principal vertente que estrutura a coletânea “Coleções Etnográficas, Museus Indígenas e Processos Museológicos”, organizada por Renato Athias e Alexandre Gomes. O intento dos autores é dar a conhecer e assim promover o reconhecimento de que os acervos museais indígenas representam expressões materiais específicas, passíveis de serem recriadas através da rememoração e do discurso. São revelados aspectos de uma apropriação conceitual e, sobretudo política, que tem sido efetivada cada vez mais pelas sociedades ameríndias e, mais especificamente, entre os povos indígenas da região Nordeste”. Link para leitura on line: http://www3.ufpe.br/editora/ufpebooks/serie\_extensao/cole\_etn\_ind/html5forpc.html?page=0
Etnografia de exposições mortas, coleções vivas e ideias persistentes
Revista antHropológicas, 2012
A partir da análise de documentação, faremos a etnografia da Exposição Missionária do Vaticano, de 1925, e da Exposição Geral das Missões Salesianas, realizada em Turim, Itália, em 1926. Os dois eventos são marcos constitutivos de duas importantes coleções bororo que hoje se encontram na Europa e nos ajudam compreender os sentidos impregnados a essas peças durante seu processo de circulação intercultural.
Resumo: Pensar a Museologia Social a partir de uma perspectiva de gênero é o desafio deste texto. Ao verificar que se mantêm as desigualdades entre homens e mulheres em diferentes contextos, discute-se a seguinte questão: como pode a museologia social contribuir para alcançar uma igualdade de fato entre mulheres e homens? A partir da concepção de uma museologia social que trabalhe com uma perspectiva de gênero, o texto possibilita um alargamento do campo de estudo museal e das categorias patrimoniais ao incluir recortes considerados marginais e contribui com a ampliação das possibilidades de investigação sobre temáticas contemporâneas socialmente comprometidas.
Apresentação ao Dossiê: Coleções Etnográficas e Processos Museológicos
Anthropológicas, 2019
O escritor turco e prêmio Nobel de literatura, Orhan Pamuk, escreveu que os 'museus são lugares onde o tempo se transforma em espaço'; essa frase é significativa para o presente dossiê, pois, nos leva a pensar sobre os significados dos museus na contemporaneidade e sobretudo nos processos que envolvem relações com os povos indígenas. Museu, como diz o título de um dos textos aqui reunidos, não é uma palavra presente nas línguas indígenas, museu é uma palavra de origem grega, moyseîon, 'lugar dedicado as Musas', 'templo das Musas', porém, o museu tem sido apropriado e traduzido em diversas realidades indígenas e com variados propósitos como veremos em alguns dos textos aqui reunidos. De novo com Pamuk, refletimos sobre o tipo de espaço que são os museus indígenas, que tipo de relações permite esses espaços e, portanto, transformando-os em 'lugares' e relacionados à evocação da memória étnica que são mobilizadas para que esses espaços respondam aos interesses de seus criadores e recriadores, num exercício próprio do que Lima Filho (2016) denominou cidadania patrimonial. O artigo do antropólogo e historiador Alexandre Gomes faz uma reflexão muito interessante sobre esses processos de apropriação e tradução que fazem os museus indígenas no contexto brasileiro, principalmente a Antropóloga. Comissão da Verdade sobre Amazonia (Colombia).
Ecomuseus, ecomuseologia e museus comunitários
Roteio para programa “Encontros com o Património da TSF” Pedro Pereira Leite (novembro 2015) Programa Realizado juntamente com Graça Filipe, do ecomuseu do Seixal e Santiago Macia, Câmara Municipal de Beja
Amazônica - Revista de Antropologia, 2011
O Museu Nacional de Etnologia em Lisboa tem no seu acervo várias peças marajoara provenientes de uma recolha encomendada pelo próprio Museu nos anos 60 do século XX, as quais se encontram atualmente expostas nas “Galerias da Amazônia”. A expedição à ilha do Marajó foi realizada pelo colecionador e arqueólogo amador português Victor Bandeira, acompanhado por sua esposa Françoise Carel-Bandeira, tendo sido escavada uma necrópole da fase Marajoara situada no sítio d’ “Os Camutins”, na região do rio Anajás. Como objetivo principal deste trabalho, procurei entender as motivaçõesque conduziram à escolha dos objetos trazidos para Portugal e que poderiam, segundo o protagonista da expedição, representar a cultura marajoara no museu português. Esta questão é investigada através do testemunho de Victor Bandeira. Segundo as informações reunidas, entende-se que na recolha abordada, a perspectiva colecionista ultrapassa a arqueológica. Isto permite-me refletir sobre o próprio ato de colecionar, ...
Identidade Coletiva, Cultura e Secessão
No seu livro The Parallax View, Slavoj Žižek utiliza-se do conceito de visão paralaxe para apontar para o fato de que não podemos enxergar determinados fenômenos sociais (mas também psíquicos) de perspectivas diferentes sem que eles assumam outros contornos aos nossos olhos, transformando-se radicalmente (Žižek 2006). Aparentemente, isso é o que acontece ao considerarmos a questão da existência de direitos coletivos, em particular, de direitos à autodeterminação política de grupos definidos em termos culturais ou até étnicos. Neste contexto a impossibilidade é a de considerar tal questão ao mesmo tempo do ponto de vista da salvaguarda dos direitos coletivos e daquele da salvaguarda dos direitos individuais. Isso se torna evidente se nos perguntarmos quem seria o destinatário de um eventual direito à sobrevivência que fosse reclamado por uma comunidade culturalmente definida. A primeira resposta, mais óbvia e menos problemática, seria: o estado em que aquela comunidade vive, talvez como minoria, ou -não necessariamente em alternativa -outros estados e outras comunidades. Mas é pensável uma outra resposta, bem mais problemática, segundo a qual os destinatários de tal direito seriam os próprios membros da comunidade em questão, particularmente quando não haja o perigo de uma agressão externa, mas o de um abandono daquela cultura por parte dos seus representantes. Imaginemos, por exemplo, que os catalães ou os habitantes do Quebec abandonem aos poucos seu idioma nacional, a saber: catalão e francês, em prol do idioma dominante nos seus recíprocos estados, a saber: castelhano e inglês, sem que haja por parte do governo central espanhol ou do governo federal canadense uma pressão neste sentido, antes: sem que tais governos mudem sua atual política de encorajamento e de apoio às duas culturas em questão. Se a cultura catalã e a quebequense possuem um direito à sobrevivência, tal direito deveria ser reclamado neste caso contra os próprios catalães e quebequenses, que, portanto, deveriam ser obrigados a seguir falando catalão e francês (na sua variante quebequense). Isso poderia parecer ficção política, mas de fato há já grupos culturais cuja sobrevivência é garantida juridicamente contra seus próprios membros. É o caso, por exemplo, de algumas tribos indígenas dos EUA e do Canadá (os filósofos políticos deveriam agradecer a existência do Canadá, fonte inesgotável de exemplos ligados a questões culturais e de direitos coletivos), as quais, graças à ampla autonomia recebida dos respectivos governos federais, procedem contra membros renitentes que não se conformam às tradições ou à cultura tribais. Assim, mulheres que casem com homens que não são da tribo podem Dutra, L. H. de A. e Mortari, C. A. (orgs.) 2009. Anais do V Simpósio Internacional Principia. Florianópolis: NEL/UFSC, pp. 240-258.