Interseção de subjetividades: a presença indígena na escrita afetada dos jesuítas (original) (raw)
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[ARTIGO] Interseção de subjetividades: a presença indígena na escrita afetada dos jesuítas
História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, 2019
A produção escrita desenvolvida pelos membros da Companhia de Jesus ao longo da experiência reducional na América espanhola adquiriu novo fôlego de análise quando os estudiosos compreenderam que esses registros compunham a interseção entre as subjetividades dos seus autores e as demandas formais que a hierarquia da Ordem impunha aos missionários. Por isso, são frequentes os registros que contêm descrições detalhadas de cerimônias, práticas xamânicas, relatos sobre a mitologia e de outros aspectos relativos ao conhecimento prático indígena, que se situam entre a obrigação de registrar e o interesse do jesuíta. Neste artigo, pretendemos demonstrar que a presença, a atuação e os saberes dos índios também provocaram perturbações nesses registros, gerando o que chamamos de uma escrita afetada: a expressão discreta, já que não é proveniente de um esforço de convencimento por parte do narrador, do resultado da ponderação do missionário ou da influência direta ou indireta que os nativos exerceram a partir do contato e convívio reducional. https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1431/795
A presença indígena na Literatura Brasileira
Lumen
Resumo: Este artigo é resultado de uma pesquisa realizada por meio do Núcleo de Pesquisa da Faculdade Frassinetti do Recife-FAFIRE, com o objetivo de compreender como os povos indígenas estão retratados na Literatura Brasileira. A pesquisa bibliográfica foi realizada durante os anos de 2020 e 2021, fundamentada principalmente em Bosi (2017), Almeida (2019), Luciano (2006) e Silva (2020), que possibilitaram uma análise crítica acerca da Literatura Brasileira e das culturas indígenas do país. Os resultados apontaram para uma representação estereotipada dos povos indígenas, que os coloca sempre como selvagens ou passivos, ignorando a importância dos nativos na construção do país e nas lutas contra a expropriação pelos colonizadores. Esperamos, portanto, que esse estudo seja um contributo para a discussão étnico-racial no país, por meio da Literatura Brasileira, possibilitando uma perspectiva crítica e social das obras produzidas ao longo dos séculos, a fim de contribuir para uma sociedade menos preconceituosa. Palavras-chave: Literatura Brasileira. Escolas Literárias. Culturas indígenas.
Sobre o papel ambivalente do uso da escrita nas escolas indígenas
Anais do V SECAMPO , 2016
Oral cultures and oral knowledge are in process of disappearing, or at least, of radical transformation - from orality to literacy. At the same time, and paradoxically, writing represents an indispensable resource in the struggle for survival and continuity of oral cultures. The present work discusses critically the ambivalent relation between orality and literacy and brings these questions to the field of indigenous education. Starting with some reflexions on the roll writing played within the transformations that brought modern thought and society into being, the text outlines the profound differences between oral and written knowledge, and the enormous social, political and cosmological impacts related to the advent of writing. The authors, all of them professionals and experts in the field of indigenous education, draw attention to possible impacts and risks that may come with the use of writing as a tool for the maintenance and continuity of oral cultures as currently driven by indigenous intellectuals and in the scope of indigenous school education. Without questioning the important role of writing for today’s indigenous people, the authors intend to motivate for more profound reflexion on the very value of orality, and for a more critical use of writing in favour of indigenous peoples interests, without entering in conflict with orality itself.
Paradoxos do protagonismo indigena na escrita escolar da Historia do Brasil
O artigo problematiza a forma como o indígena é apresentado na narrativa de dez obras da literatura didática de história, aprovadas no PNLD/2011. Analisamos os temas nos quais os povos indígenas são presença recorrente: a América antes da chegada dos europeus e os primeiros anos da colonização. Argumentamos que a presença indígena nas narrativas não significa a adoção de uma perspectiva que considere sua participação efetiva nos processos históricos abordados pela literatura escolar. O protagonismo indígena está ausente dessas narrativas. Essa ausência tem desdobramentos tanto para a conformação do saber histórico na Escola quanto para a formação dos alunos. De um lado, contribui para a permanência de um saber histórico escolar reiterativo dos princípios estabelecidos para a disciplina ainda no século XIX. De outro, reafirma uma concepção recorrente no senso comum acerca do Índio e de seu lugar social.
O indígena na perspectiva do jesuíta uma análise da obra : “Diálogo sobre a Conversão do Gentio”
2018
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação)—Universidade de Brasília, Instituto de Letras, Departamento de Teoria Literária e Literaturas, 2018.Este artigo baseia-se na obra “Diálogo sobre a conversão do gentio”, do padre Manoel da Nóbrega, jesuíta que chegou ao Brasil em 1549 na expedição de Tomé de Souza. Nela, o líder da primeira missão catequizadora enviada ao Brasil faz uso de um gênero específico em prosa denominado “diálogo”, onde 2 jesuítas manifestam suas opiniões sobre o trabalho de conversão dos gentios, mais especificamente os índios. No colóquio entre os dois interlocutores, o padre Manoel da Nóbrega expõe as dificuldades, dúvidas e desafios que os jesuítas enfrentavam no trabalho de evangelização do índio. Ao mesmo tempo, deixa transparecer, sob a ótica do colonizador, aspectos da história daquela época e da cultura da população indígena brasileira. Nosso trabalho se resume na análise da presente obra com o propósito de traçar um perfil do índio sob a perspectiva bíblic...
RESUMO O presente artigo se propõe a dissertar sobre questões que permeiam as experiências indígenas com a escrita e, então, pontuar suas particularidades e desafios nesse processo. As reflexões propostas buscam investigar o processo de apropriação da 'escrita' pelos povos indígenas, suas atualizações e transformações. Intentamos compreender qual seria o propósito dessas apropriações e quais os desafios apresentados neste processo. Ao levantarmos essas questões, analisamos algumas experiências vivenciadas pelos estudantes indígenas no curso de Licenciatura em Educação Intercultural Indígena da Universidade Federal de Goiás-UFG, de forma mais específica alguns aspectos relacionados à escrita do livro A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, apresentado como uma coautoria entre o antropólogo Bruce Albert e o xamã yanomami Davi Kopenawa; e o posicionamento de outras lideranças indígenas acerca da importância da escrita e da educação escolar indígena para os povos indígenas. PALAVRAS-CHAVE: Apropriação da escrita. Escrita indígena. Descolonização do saber. Experiencia indígenas con la escritura: apropiación, impases, desafíos y posibilidade: educación intercultural y "La caída del Cielo" RESUMEN Este artículo propone tratar de temas que impregnan las experiencias indígenas con la escrita y, desde luego, señalar sus particularidades y desafíos. Las reflexiones propuestas buscan investigar el proceso de apropiación de la 'escrita' por parte de los pueblos indígenas, sus actualizaciones y transformaciones. Tratamos de entender cuál sería el propósito de estas apropiaciones y cuáles son los desafíos presentados en este proceso. Cuando planteamos estas preguntas, analizamos algunas experiencias vividas por estudiantes indígenas en el curso de licenciatura en Educación Intercultural Indígena de la Universidad Federal de Goiás-UFG, de manera más específica algunos aspectos relacionados con la escritura del libro La caída del cielo: palabras de un chamán yanomami, presentado como coautoría entre el antropólogo Bruce Albert y el chamán yanomami Davi Kopenawa
Escrita e Transversalidade: Pesquisadores Indígenas e a Universidade
Mundaú, 2020
A partir de uma reflexão epistemológica e político-pedagógica centrada em experiências de campo, o texto se propõe pensar a escrita da pesquisa indígena com base em alguns trabalhos de acadêmicos da habilitação de Linguagens e Artes da Licenciatura Indígena da Universidade Federal do Acre. A abordagem dessa escrita é elaborada desde o conceito de transversalidade, conforme proposto por Félix Guattari, e pensado na chamada deste dossiê nos termos da "relação entre saberes heterogêneos enquanto heterogêneos numa experiência de 'transversalidade criativa'". Depois de acompanhar as pesquisas desses acadêmicos entre 2008 e 2018, inclusive em seus desdobramentos fora da universidade, nos campos do cinema ou da arte contemporânea, conclui-se pela especificidade dessa escrita elaborada pelos pesquisadores indígenas, em contraste com a concepção de linguagem, pesquisa e escrita com que a universidade se apresenta a eles.
Imaginário e política linguística: sentidos sobre o indígena em documentos oficiais
Working Papers em Lingüística, 2022
Este artigo visa compreender o imaginário na constituição do discurso, analisando efeitos de sentidos produzidos sobre o sujeito indígena em documentos oficiais, bem como compreender como o imaginário impacta em políticas públicas para a educação escolar indígena e incentivar iniciativas para o ensino e a valorização das línguas indígenas. O arquivo foi constituído pelo Parecer CNE/CEB nº 14, de 19 de setembro de 1999 e pela Resolução CEB nº 3, de 10 de novembro de 1999, que tratam das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Escolar Indígena. Para tanto, trabalhou-se com a hipótese de que os esquemas interdiscursivos de repetibilidade-utilizados para refutar o passado e estabilizar o presente-, constantes no discurso sobre, ao criar um lugar para essa política e um lugar imaginário de sujeito indígena, produziram um espaço de tensão, gerando ressonâncias em relação ao imaginário e, consequentemente, em relação à constituição do sujeito indígena e às políticas da educação escolar indígena. A perspectiva discursiva adotada entende o sujeito como cindido, clivado e barrado pela linguagem e trabalha com efeitos de sentido, desvelando a incompletude do discurso e do sujeito. Com as análises, o real da língua, o real da história e o real do sujeito desvelaram que pelo imaginário se constituiu um sujeito indígena que é uma mistura indefinida, um "entre", um "pertence/não/pertence". Os documentos produziram um imaginário sobre o sujeito indígena que não é um, nem outro; não é igual, nem diferente. Não é sujeito indígena, mas também não é sujeito não-indígena, repercutindo nas políticas da educação escolar indígena.