INTRA-AÇÕES HUMANAS E NÃO HUMANAS NA LITERATURA: representações pós-antropocênicas (original) (raw)

Inventário Poético: Anotações sobre os resíduos do humano na literatura

Resumo Este artigo tem como tema "a educação para a autoria na universidade"; organiza-se para responder à seguinte questão-problema: Que desaios se colocam à educação para a autoria na esfera acadêmica hoje? Para tanto, o texto se delineia a partir de uma iliação teórico-epistemológica de base histórico-cultural, contemplando uma abordagem compreensivista na geração e na análise dos dados, os quais derivam de um conjunto de estudos já consolidados ou em fase de consolidação no Grupo de Pesquisa "Cultura Escrita e Escolarização" da Universidade Federal de Santa Catarina. Como resposta à questão-problema, argumenta-se haver, dentre outros tantos, três grandes desaios de substantiva relevância na educação para a autoria: (i) apropriação de conhecimentos tensionada por fundamentos relativistas na esfera escolar; (ii) expectativas acadêmicas nas relações com posturas de condescendência; e (iii) atenção seletiva como contraface da ausculta. Defende-se que uma educação para a autoria nessa esfera implica a ampliação de repertório cultural dos sujeitos ao longo de seu percurso formativo na busca por consolidar uma condição de autonomia em relação à heteronomia nessa mesma esfera.

LABORATÓRIO DE CRÍTICA DOS HUMANISMOS DAS LITERATURAS

Revista Criação & Crítica, 2024

Propõe-se uma atividade destinada a estudantes do curso de Letras, com foco em reflexão crítica e historiográfica. A partir da leitura de Afropessimismo, de Frank Wilderson III, apresentamos um debate sobre como a escrita de um ensaio é redesenhada para assegurar um compromisso com o povo negro. Wilderson se insurgiu neste livro contra violências conceituais e estruturais. Sua capacidade de explicar relações de poder foi tambémum aprendizado das aulas com o professor Edward Said. Proponho um percurso crítico baseado na teoria afropessimista. Em seguida, um percurso que passapelo engajamento de Said com o povo Palestino, e chegue à historiografia de um intelectual alemão exilado na Turquia. Said afirma ser Mimesis: a representação da realidade na literatura Ociedental, de Erich Auerbach(1946), o apogeu da prática humanista, na qual um judeu da diáspora no exílio muçulmano escreveu sobre o legado da representação da realidade na literatura ocidental. Apresento um exercício de singularização dos métodos críticos, no qual se busca identificar pontos em comum, contrastes ou variações. Pôr em confronto os humanismos e a maneira inconciliável entre negros e humanos, para que estudantes debatam as implicações dos paradigmas de violência e dos textos para a vida de uns e para a morte de outros.

A escrita feminina nos "clássicos" antropológicos do Sul: uma reflexão anticânone

Resumo: O presente artigo propõe uma reflexão sobre as fontes autorais dos “clássicos” que definem o aprendizado de antropologia no Sul global, especialmente no Brasil e na Argentina. Partindo da análise crítica e retrospectiva do conteúdo das ementas disciplinares de “clássicos em antropologia” em universidades nacionais dos dois países, e observando a quase total ausência de mulheres na escrita, propomos aqui a inclusão estratégica da escrita antropológica realizada por mulheres ‒ podendo elas serem ou não formadas em antropologia ‒, observando as particularidades metodológicas do trabalho de campo e as possibilidades epistemológicas levantadas por algumas autoras mulheres escolhidas, a saber: Aurinha do Coco, Lia Zanotta Machado, Rita Segato, Oyeronkẹ Oyewumi, Ifi Amadiume, Lorena Cabnal, Silvia Rivera Cusicanqui e Leda Kantor. Propomos que uma inclusão da leitura dessas mulheres nos materiais de ensino antropológico nas universidades e institutos estimula a revisão sistemática desses “clássicos” escritos desde o paradigma da masculinidade branca, os quais tenderam a ser aprendidos, reproduzidos e herdados de forma automática por gerações de antropólogxs dos países do Sul global. Palavras-chave: clássicos; autoria feminina; escrita; epistemologias; metodologia antropológica.

A LESBIANIDADE OCULTA NA LITERATURA ANTROPOLÓGICA: DO ARMÁRIO A LUTAS POR RECONHECIEMNTO

A presente comunicação busca discutir alguns resultados preliminares que fazem parte das reflexões que venho investindo para minha pesquisa de mestrado sobre relações lésbicas na cidade do Natal-Rio Grande do Norte. A partir do levantamento bibliográfico para composição do trabalho final e, realização de análise dos dados etnográficos, pude notar que existe uma espécie de silenciamento na literatura sobre lésbicas na Antropologia. Ao passo que em outras ciências, como a Psicologia, por exemplo, é possível encontramos um número maior de publicações e variações dos temas, consequentemente. A pesquisa encontra-se em fase de andamento e vem sendo realizada com a colaboração de cinco mulheres, auto identificadas como lésbicas que acessei através da técnica de pesquisa bola de neve. Ressalto ainda, que, a pesquisa conta com apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES. Palavras-chave: Antropologia, Silenciamento, Lésbica. Busca em plataformas online e levantamento da bibliografia específica Através de busca realizada em plataformas online como o banco de dados de teses e dissertações da CAPES-ao digitar a palavra chave-lésbica, 76 resultados apareceram como correspondente ao termo especulado. Ao me debruçar de forma panorâmica sobre os dados fornecidos pelo site, obtive 52 resultados, a maioria a nível de mestrado, dos quais deixavam explícito no título do trabalho que se tratavam sobre lesbianidades, homossexualidades femininas, ou ainda, sobre a denominação de "Mulheres que amam Mulheres" 2. Os outros 24 trabalhos, abarcavam temas sobre sexualidades no geral, por exemplo, transexualidade, homossexualidade masculina, outros faziam menção a população LGBT 3 de forma ampla, quando no máximo, vinham 1 Alencarciso2012@bol.com.br 2 Vide: STREY, Marlene Neves; DA SILVA PIASON, Aline. Mulheres que amam mulheres: perspectivas acerca do processo de auto-reconhecimento e visibilidade social. Temáticas (UNICAMP), 2012. 3 Usarei aqui essa sigla de acordo com a elaboração conceitual de (FACHINI, 2012). Adiante retomarei a discussão dessa sigla, em outros debates sobre gêneros, cruzamentos políticos e sociais. Vale ressaltar que o próprio movimento social e[sexual] atualmente usa a sigla LGBTQ+, pois seria uma sigla que engloba todas as orientações sexuais e identidades de gênero, sem exclusões ou privilégios. No entanto, até o momento não ouvi essa sigla em campo, nem tampouco definições em trabalhos acadêmicos. Colegas como Rudá Frias e Jardelly Lhuana, que realizaram a leitura prévia desse material, me sugeririam colocar essa nota para fins didáticos de compreensão, acerca da complexidade da nomenclatura que o movimento (re)inventa, e que se (re)atualiza constantemente no campo da militância.

Questões de autoria e representação numa literatura pós-autônoma

Entrelinhas, 2019

A presença de uma ideia de real no texto literário é urgente desde as primeiras reflexões sobre o que seria literatura — o real como recorte, como representação, como confronto. Neste ensaio, busca-se discutir a presença do real na literatura hoje, partindo, para tanto, do trabalho de Alain Badiou — sobre uma estrutura possível de Real — e das reflexões de Josefina Ludmer — sobre a pós-autonomia da esfera literária — para retornar, no contexto brasileiro, à produção de Conceição Evaristo, autora de grande projeção no cenário contemporâneo, e da recepção do longa-metragem Vazante, de Daniela Thomas. Retoma-se, nesse sentido, o conceito de “lugar de fala”, sistematizado no Brasil por Djamila Ribeiro, em cotejo com a ideia de “escrevivência”, que Evaristo apresenta como norte de sua literatura, dando contornos possíveis à pós-autonomia literária na produção contemporânea.

A Ficção Literária Como Antropologia Especulativa

Revista Anpoll, 2010

A partir dos pressupostos teóricos sobre a natureza do ficcional à luz de pensadores diversos como Wolfgang Iser, Huizinga, Zumthor e Juan José Saer, procuraremos refletir sobre o ficcional-literário a partir de seus fundamentos antropológicos, seja a plasticidade e o jogo (Iser, Huizinga), seja a voz (Zumthor) ou a especulação entre realidade-irrealidade (Saer), para, num segundo momento, podermos confrontar esses pressupostos teóricos com a configuração do efeito estético em duas narrativas de dois dos maiores escritores brasileiros: Machado de Assis e Guimarães Rosa.

Serão os não humanos os últimos “outros” na Antropologia? Representações sobre a superioridade humana

Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 2020

Resumo: Este trabalho pretende dar uma breve visão geral dos tópicos de discussão em torno do falso paradigma "natureza " vs. "cultura ", apontando o posicionamento biológico da espécie humana (Homo sapiens sapiens) referindo visões pautadas por perspectivas teocêntricas e antropocêntricas. Mencionando a responsabilidade da Antropologia em desconstruir o falso paradigma da "natureza" e "cultura", e interdisciplinaridade é discutida, bem como os pressupostos que sustentam a antropologia biológica contemporânea. Os dados científicos demonstram que há continuidade entre todos os primatas (incluindo os humanos) no que diz respeito genótipo e fenótipo. Referindo a falsa dicotomia em que o paradigma judaicocristão assenta, este texto procura desenvolver o exemplo do chimpanzé (Pan troglodytes) referindose a aspectos importantes da etnografia desta espécie, como o seu comportamento político, a sua cultura material , entre outros comportamentos e características.

Considerações sobre a antroponímia da gente miúda preservada nas crônicas de Fernão Lopes e de Gomes Eanes de Zurara

Cadernos de Pesquisa do CDHIS, 2021

Neste artigo fazemos um levantamento dos nomes, apelidos e alcunhas de homens da gente miúda registrados por Fernão Lopes e por Gomes Eanes de Zurara em suas crônicas escritas no século XV a serviço dos reis de Portugal. Assinalamos a excepcionalidade do registro de nomes e de feitos de membros das camadas baixas do povo em narrativas históricas que tinham por protagonistas e por público primeiro especialmente os nobres, muitos dos quais murmuravam contra os cronistas justamente por terem os seus nomes omitidos, ou esquecidos, da história oficial do reino. Uma vez levantado o rol de apelativos de personagens da gente miúda procedemos a uma análise onomástica que nos permitiu concluir que em parte considerável dos antropônimos preservados por Lopes e por Zurara é reconhecível a baixa condição social das personae, seja pela clássica formação do antropônimo a partir de patronímicos, costume observado especialmente entre famílias vilãs no período abordado, seja pela utilização de apelidos que remetem a ofícios típicos da gente miúda.