De recursos intangíveis a ativos financeiros: as regiões metropolitanas como nexos da economia global (original) (raw)

2019, OLIVEIRA, Floriano Godinho de; OLIVEIRA, Leandro Dias de; TUNES, Regina Helena; PESSANHA, Roberto Moraes. (Org.). Espaço e economia: geografia econômica e a eco-nomia política. 1ed. Rio de Janeiro: Consequência, 2019, p. 103-134.

A ascensão das regiões urbanas na fase mais recente da economia capitalista suscitou um leque de questões teórico-conceituais e problemas analíticos importantes que apenas mais recentemente começaram a ser explorados mais largamente pela Geografia e demais ciências sociais. São importantes, principalmente, porque a urbanização, e sua aceleração nos tempos recentes em várias partes do mundo, não se resume aos indicadores quantitativos variados que a mensuram -ainda que a mensuração seja sem dúvida imprescindível para iluminar as suas dinâmicas -, mas é em primeiro lugar um fenômeno que repercute extensamente, de formas mais ou menos diretas, sobre as relações sociais mais amplas e sobre a interação das sociedades com os ecossistemas que lhes dão suporte. Longe, portanto, de ser apenas um reflexo inerte do crescimento econômico, o desenvolvimento urbano precipita dinâmicas econômicas e sociais próprias, que evidenciam a interação complexa, dialética entre as sociedades e seu espaço SANTOS, 2002;). Nos últimos decênios, a progressiva erosão das relações sociais e econômicas dominantes sob o capitalismo fordista abriu caminho para o surgimento de novas práticas e variedades de integração econômica, todas intimamente enlaçadas com as dinâmicas de urbanização. Inúmeras são as tentativas de definir genericamente os traços principais da fase atual do capitalismo pós-fordista ou flexível (HARVEY, 1989), um esforço válido que nem sempre logra, todavia, escapar do risco de excesso de generalização. Não é o propósito, aqui, oferecer uma caracterização da economia atual, nem revisitar as teorias que procuraram fazê-lo. Antes, o objetivo é refletir sobre as dinâmicas urbanas emergentes, vinculando-as a dois traços centrais da economia pós-fordista: de um lado, o peso crescente da geração e acumulação de conhecimento para a inserção competitiva das firmas na globalização econômica; de outro, a importância também em ascensão do mercado financeiro em intermediar circuitos de poupança e gasto, alocando recursos captados da sociedade para atividades consideradas mais rentáveis. Pretende-se unir estas duas dimensões essenciais do capitalismo