NEGROS, FEITICEIROS E PERNÓSTICOS: ESCRAVIDÃO, RESISTÊNCIA E RACISMO NOS JORNAIS MINEIROS NA DÉCADA DA ABOLIÇÃO (original) (raw)
2019, Anais do 30° Simpósio Nacional de História - História e o futuro da educação no Brasil
A década da abolição viu serem impressas nas páginas da imprensa toda sorte de libelos que variaram entre a defesa do fim da escravidão ou mesmo de sua continuidade. Mas a variação pode ser considerada bem maior do que este aparente caráter binário. Não raro, mesmo quando o tom das publicações indicava a defesa da abolição, não o faziam "desde que". Desde que não ferisse a ordem pública; desde que não alterasse a estrutura social; desde que não afetasse, por exemplo, a economia e a ordem pública. Para os membros da "República das Letras", muitas vezes encastelados em jornais, eram eles os grandes responsáveis por guiar os passos do "povo" em seu processo educação. Falando especialmente aos senhores de escravos e não a estes, os articulistas se esforçavam para demonstrar a necessidade de extinguir-se a mácula escravista recorrendo muitas vezes a descrições pormenorizadas dos males causados pela escravidão. No entendimento de parte hegemônica das elites oitocentistas, se era preciso acabar com a escravidão para desimpedir o caminho para o "progresso", era igualmente urgente controlar e educar os negros a fim de torná-los aptos para a vida em liberdade. Na medida em que o fim da escravidão se tornava mais iminente, tornava-se urgente e necessária "a submissão e lealdade dos cativos que começavam a ganhar a liberdade". (SCHWARCZ, 2007, 26) A imagem de massa inculta e inerte pairava sobre os escravos e seus descendentes, sendo presença marcante nas páginas da imprensa e mesmo nos discursos das mais proeminentes lideranças da "cantinela humanitária-paternalista" (MACHADO, 2007, p. 246) que se destacava entre as alas moderadas do movimento abolicionista. (SALLES, 2000, pp. 53-75).