Disputas pelo direito à cidade: outros personagens em cena (original) (raw)

Tendo a cidade de São Paulo como recorte, este trabalho reconstitui marcos fundamentais de sua história cultural recente , entre 2003 e 2018, com um duplo objetivo. Compreender como se dera a reprodução de desigualdades e segregação mesmo num período com crescimento econômico (2003-2014), o que somente se acentua nos anos de recessão e crescimento pífio (2014-2018). O segundo é mostrar que os personagens que entraram em cena nesse período, quando disputam o direito à cidade, não tem o espaço urbano somente como agenda, mas se reapropriam das infraestruturas e recursos deste, absorvendo-o em um repertório de ação. Tais práticas não são apenas resistências, mas sim esforços por disputar o sentido do fenômeno urbano, desejos coletivos que produzem uma vida social inventiva e, com isso, geram marcos na experiência coletiva e na cultura urbana. Desses personagens, seus papeis ainda não sabemos exatamente quais serão, mas suas práticas e imaginação política já são identificáveis. O duplo objetivo se traduz numa tese mais geral e ampla, qual seja, se quisermos dar respostas à altura desses processos sociais concretizados na metrópole paulistana, é necessário formular uma teoria social mais sensível às contradições urbanas, em seus bloqueios e possibilidades. Ou dito de outro modo, é preciso dar centralidade ao espaço na leitura da realidade social – sem recair na fragmentação das ciências. Isso nos permitirá compreender, primeiro, que os bloqueios da modernização brasileira desse período se tornam mais evidentes quando se traz à tona o cotidiano vivido no espaço urbano. O segundo ganho epistemológico é obtido ao compreendermos que os grandes centros urbanos, por serem historicamente lugar de concentração de infraestruturas, reunião e aglutinação de sujeitos sociais, uma concentração de recursos e oportunidades, podem se tornar condensadores de inteligência coletiva para a radicalização democrática. Delimitaremos melhor esses percursos logo abaixo, ao tratarmos dos momentos da pesquisa.