Os banquetes do Yaokwa: potencialidades e limites do cinema e do património entre os Enawenê-nawê (original) (raw)
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Filmar o invisível: sobre a relação entre xamanismo e cinema entre os yanomami
2018
Poderia o cinema ser a imagem da alma indígena? Um método de propagar os conhecimentos ancestrais e trazer uma solução para a cura da terra? Analisando o filme Urihi Haromatipë: Curadores da terra-floresta trago para discussão do Cinema as possibilidades com que a imagem fílmica pode, junto ao xamanismo, convidar-nos a curar o planeta. A partir da comparação com o filme Xapiri e a abordagem que estes filmes remontam a cosmologia Yanomami para as telas, veremos como corpos políticos dos xamãs e o invisível dos planos trazem à discussão o poder do Cinema. Palavras-chave: cinema indígena; Yanomami; xamanismo; Davi Kopenawa; Urihi Haromatipë ------------------------------ Could cinema be the image of the indigenous soul? A method of propagating ancestral knowledge and bringing a solution to the healing of the Earth? Analyzing the film Urihi Haromatipë: Curadores da terra-floresta, I bring to the discussion of Cinema the possibilities with which the filmic image can, together with shamanism, invite us to heal the planet. From the comparison with the film Xapiri and the approach that these films go back to the Yanomami cosmology and into the screens, we will see how political bodies of the shamans and the invisible of the scenes can propagate the discussion of the power of Cinema. Keywords: indigenous cinema; Yanomami; shamanism; Davi Kopenawa; Urihi Haromatipë
O panteão da terra: relações entre cinema documentário e performances culturais em Orixá Ninu Ilê
DOC ON-LINE Revista Digital de Cinema Documentário, 2022
Resumo: Orixá Ninu Ilê é um filme sobre a arte sacra negra brasileira criada a partir da simbologia dos orixás-Obaluaiyê, Nanã e Oxumarê-o panteão da terra. O documentário fundamenta a relação entre estes três orixás, seus domínios, símbolos e influências vitais, sobretudo, na visão dos iorubá, mais estritamente, no âmbito de uma comunidade-terreiro nagô. Este artigo aborda a análise de Orixá Ninu Ilê-Arte Sacra Negra I (1978), de Juana Elbein dos Santos, a partir das performances culturais. Palavras-chave: Orixá Ninu Ilê; documentário; performances; performances culturais; estética; encruzilhada. Resumen: Orixá Ninu Ilê es una película sobre el arte sacro negro brasileño creado a partir de la simbología de los orixás-Obaluaiyê, Nanã y Oxumarê-el panteón de la tierra. El documental fundamenta la relación entre estos tres orixás, sus dominios, símbolos e influencias vitales, sobre todo, en la visión yoruba, más estrictamente, en el ámbito de una comunidad-terreiro Nagô. Este artículo aborda el análisis de Orixá Ninu Ilê-Arte Sacro Negro I (1978), de Juana Elbein dos Santos, a partir de performances culturales. Palabras clave: Orixá Ninu Ilê; documental; performances; performances culturales; estética; cruce de caminos.
Buscando Aröbönhipopá: comunidade, cinema e território entre os Xavante
2018
Segundo a antropóloga Els Lagrou, a reivindicação das identidades indígenas contemporâneas passa pela adesão a um "regime específico de produção estética do conhecimento". Tomaremos tal "regime de produção" enquanto um território de pertencimento identitário para pensar a prática audiovisual em uma comunidade indígena da etnia xavante, localizada no Planalto Central do Brasil. A partir dessa questão, trabalha-se com filme média-metragem que mostra uma caminhada de adultos e crianças pela reserva, cujo destino final é a região de uma antiga aldeia. O local atualmente está fora dos limites do território demarcado e é ocupado por uma fazenda. Pensaremos no vídeo a relação entre imagem, memória e território, este último entendido como um espaço ao mesmo tempo físico, identitário e imagético. O filme trabalha a história comunitária a partir do deslocamento físico no território, ao qual corresponde um deslocamento no tempo na medida em que engendra a recuperação de uma memória. Esse duplo deslocamento projeta o olhar para o passado do território físico (a terra) de modo a ampliar as possibilidades de acesso ao território simbólico (a identidade) por meio da consolidação de um espaço imagético (o filme).
Mokoi tekoá petei jeguatá: experimento etnográfico com o cinema mbya
In: FRANCESCHINI, Marcele Aires; CAMPOS, Jefferson; CAMARGO, Hertz Wendell de (Orgs.) Literatura, artes e questões étnico-raciais na mídia. Londrina: Syntagma Editores, 2020
"Mokoi Tekoá Petei Jeguatá – Duas aldeias, uma caminhada" (2008) é um filme realizado por sujeitos Guarani Mbya em parceria com o projeto Vídeo nas Aldeias (VNA). O filme torna visível questões pertinentes à vivência dos Mbya em duas aldeias no Rio Grande do Sul, como territorialidade, mobilidade, memória e história. A proposta deste texto é resultado de uma pesquisa etnográfica que assume a narrativa cinematográfica, especificamente o filme em questão, como espaço para o trabalho de campo, no qual o autor/pesquisador elege os pontos a serem conectados à bibliografia etnológica, particularmente sobre populações Guarani. Cria-se, portanto, relações textuais entre campo e teoria, cinema e antropologia, em outras palavras, um experimento etnográfico pautado na relação entre diferentes conjuntos de materiais, aqueles advindos do cinema mbya e aqueles advindos da teoria antropológica. O efeito possibilitado por tais encontros potencializa reflexões sobre as narrativas mbya e o fazer etnográfico e antropológico. Ainda, os caminhos escolhidos neste texto levaram a considerações sobre a metalinguagem que atravessa tanto o filme aqui estudado quanto a metodologia da pesquisa, o protagonismo dos Guarani Mbya na elaboração de suas histórias e o lugar do etnógrafo na construção de reflexões com o outro.
Da colonialidade do ver ao cinema indígena: apontamentos sobre a (contra)colonialidade em Abya Yala
Revista de Antropologia, 2023
Qual é o mundo histórico (re)elaborado pelas cinematografias indígenas à contra- pelo aos regimes de visualidade constitutivos da colonialidade do ver sobre os povos originários de Abya Yala? Analisamos a (des)construção imagética do Outro, a partir dos estudos pós-coloniais, antropológicos e de cinema. Focamos nas formas visuais da iconografia, da fotografia e do filme, tensionadas pelo cinema indígena por um processo de reversão formal que enseja outras variáveis históricas. Concluímos que o cinema originário se apresenta em contraposição às perspectivas antropométricas da pintura, da fotografia e do filme etnográfico, com operações de contracolonialidade identificadas em obras de Vincent Carelli, Ana Vaz e Paloma Rocha e Luis Abramo; de Takumã Kuikuro (Alto Xingu), Luis Tróchez Tunubalá (Misak), Francisco Huichaqueo (Mapuche), Álvaro e Diego Sarmiento (Quéchua) e do Coletivo Guajajara (Jocy e Milson). What historical world is (re)elaborated by the indigenous cinematography in opposition to the visual regimes that constitute the coloniality of the gaze toward the First Nations Peoples of Abya Yala? The article analyzes the imagistic (de)construction of the Other, starting from post-colonial, anthropological, and film studies perspectives. It focuses on the visual forms of the cinematographic, photographic and iconogra- phy, as construed by the cinema of First Nations Peoples, through the process of historical-formal reversal, giving rise to other historical variables. As conclusion, it points out that indigenous cinema presents itself in opposition to the cinematographic, anthropometric perspectives of painting, photography, and ethnographic film, with mechanisms of counter-coloniality. Such a mechanism can be identified in the works of Vincent Carelli, Ana Vaz and Paloma Rocha, and Luis Abramo, Takumã Kuikuro (Upper Xingu), Luis Tróchez Tunubalá (Misak), Francisco Huichaqueo (Mapuche), Álvaro and Diego Sarmiento (Quechua) and the Guajajara Collective (Jocy and Milson).
Redes xamânicas e alianças: os Yawanawa (Pano) no Rio de Janeiro
2017
O tema desta apresentação é a rede de relações entre lideranças do povo Yawanawa (Pano), do Acre, e lideranças da religião Santo Daime, do Rio de Janeiro, com o enfoque sobre o caso das relações entre os Yawanawa e a igreja Céu do Mar. Essas relações fazem parte das redes xamânicas, associadas ao consumo ritual da bebida ayahuasca (e de outras medicinas da floresta). O objetivo da apresentação é um mapeamento das relações, entre as lideranças Yawanawa e lideranças (ou comandantes) de igrejas daimistas do Rio de Janeiro, onde realizei trabalho de campo entre junho de 2015 e maio de 2017. Esse mapeamento faz parte de minha pesquisa de doutorado, realizada no Programa de Pós-graduação em Antropologia e Sociologia (PPGSA) da UFRJ/IFCS, com bolsa da CAPES, cujo objeto é a aliança entre os Yawanawa e a igreja Céu do Mar, em meio a relações de alteridade. Essa pesquisa etnográfica enfoca as relações entre esse povo indígena e agentes da sociedade nacional. Minha hipótese é a de que essas relações podem ser descritas como fato social total, em meio a um sistema de trocas envolvendo diálogo xamânico, uma economia política de incorporação de pessoas, objetos e recursos econômicos à sociedade Yawanawa, em meio e a relações de afinidade e produção de aparentamento (efetivo e classificatório/putativo).
Guyraroká, Panambizinho e Te'Yikue: Uma experiência com cinema e novas mídias
ACENO, v. 2 n. 3, p. 262-279, 2015
Com base em estudo etnográfico, este artigo pretende retratar os primeiros passos em favor do empoderamento dos jovens Kaiowá e Guarani das Terras Indígenas Guyraroká, Panambizinho e Te'Yikue, de MS, por meio do cinema e das novas tecnologias, bem como a finalidade e expectativas em relação ao uso destes meios. Resultados parciais mostram que o uso destas tecnologias contribui com a melhoria da autoestima do grupo e fomenta o sentido de pertencimento destes jovens a suas comunidades. Porém, a falta de incentivo impossibilita a concretização deste processo.
Encontros e desencontros no cinema pós-colonial de Moçambique
Depois de 10 anos de conflito armado, em 1975, Moçambique conseguiu sua independência de Portugal, passando a se chamar República Popular de Moçambique. As lutas pela descolonização foram conduzidas pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), liderada por Samora Machel, que assumiu como novo presidente do país. O cinema teve papel importante durante os anos de guerrilha e a FRELIMO convocou cineastas da Europa e dos Estados Unidos para registrar a revolução. Desta safra podemos citar o documentário Vinceremos (1965), dirigido por Yugoslav Dragutin Popovic, que foi filmado clandestinamente nas frentes de batalha para mostrar os progressos da luta pela libertação. (DIAWARA, 1992). Em um país recém-saído de um regime de exploração, com elevados índices de analfabetismo, o cinema tinha um papel importante na comunicação com a massa popular. Ciente do poder da imagem, uma das primeiras ações do governo da FRELIMO foi criar o Instituto Nacional de Cinema (INC), apenas 5 meses após a implantação da nova república. A partir de 1978, o Instituto passou a produzir um cinejornal periódico chamado Kuxa Kanema, que significa “o nascimento do cinema”, palavra obtida da junção de dois dialetos moçambicanos. “Kuxa”, do dialeto Runga, que significa “nascimento” e “Kanema”, do dialeto Makua, que significa “imagem”. (UKADIKE, 1994). Nesse mesmo ano, o cineasta Ruy Guerra, importante diretor do Cinema Novo brasileiro, nascido em Moçambique, tornou-se diretor do Instituto, conduzindo um plano para produzir imagens do país que refletissem o projeto político e revolucionário conduzido nas lutas pela descolonização. Imagens de uma nação em busca de sua transformação social. Em 1979 Ruy Guerra dirige aquele que seria o primeiro longa-metragem dirigido por um moçambicano, Mueda: memória e massacre, onde ele encena o massacre de 600 pessoas pelo exército português na vila de Mueda, em 1960. Além do projeto do INC, outras ações simultâneas no campo do cinema e da televisão aconteceram em Moçambique. Recém-saído da experiência militante com o Grupo Dziga Vertov e envolvido em trabalhos videográficos para a TV francesa, Jean-Luc Godard foi convidado pelo governo Moçambicano para desenvolver um estudo para a implantação da TV no país, baseado no uso do vídeo como suporte. Para Godard essa era a oportunidade de explorar um terreno fértil, explorando novas formas narrativas, aproveitando-se que o país ainda não tinha contato prévio com a televisão, não estando colonizado pelos conteúdos típicos das redes retransmissoras. Outro nome convidado pelo governo moçambicano foi Jean Rouch, que levou ao país um projeto de formação de cineastas em bitola super 8mm, desenvolvido com o apoio do departamento de comunicação da Universidade de Maputo, onde ele poderia aprofundar seus métodos de trabalho com equipamentos leves e portáteis, com equipes reduzidas e baixos orçamentos, desmistificando a ideia da necessidade de super produções. Os projetos tocados pelos três grandes cineastas em Moçambique tem uma simultaneidade histórica. Em 1978, no mesmo ano em que o INC lança o cinejornal Kuxa Kanema, Jean-Luc Godard é convidado para sua experiência com a TV moçambicana e Jean Rouch implanta seu projeto de formação de cineastas em suporte super 8 mm, porém, a continuidade dos projetos não se deu exatamente de maneira harmoniosa revelando diferenças irreconciliáveis entre os três grandes cineastas. A despeito das críticas e acusações levantadas entre os principais envolvidos nos episódios, tais experiências inscreveram Moçambique em um episódio importante na história do cinema, notadamente na história do cinema militante, do cinema socialmente engajado. Por outro lado, ainda que breve, tais experiências certamente deixaram seu legado para o futuro do jovem cinema de Moçambique.
PANELAS VERTIDAS - Reflexões sobre a Salvaguarda do Ritual Yaõkwa, do Povo Enawene Nawe
O presente artigo se propõe a analisar o encontro entre diferentes lógicas simbólicas-de um lado, a do Estado, e, de outro, a do povo indígena Enawene Nawe-em meio ao processo de salvaguarda do Ritual Yaõkwa como Patrimônio Cultural do Brasil. Ao passo que a atuação do IPHAN é pautada pela noção de conservação e sustentabilidade dos bens patrimonializados, os Enawene Nawe têm demonstrado que, do seu ponto de vista, salvaguardar o ritual consiste, entre outros aspectos, na garantia das condições materiais que viabilizam tal prática. Tal concepção diz respeito ao conceito ewayate (chefe/dono), cuja atuação se dá justamente no sentido de garantir o abastecimento do ritual, atendendo os desejos dos insaciáveis iyakaliti (espíritos da paisagem) evitando, desse modo, os maléficos ataques destes seres causadores de doenças e mortes. Este paradoxo se apresenta especialmente na solicitação dos Enawene Nawe para que o IPHAN faça a aquisição de grandes quantidades de peixe de criatório como forma de suprir a demanda do Ritual Yaõkwa, dado o contexto de redução dos estoques pesqueiros que acometeu a bacia do Alto rio Juruena, sobretudo a partir de 2009. Para tal análise utilizamos a perspectiva de Gersen Luciano (2006), a qual aponta a incompatibilidade entre a lógica da reciprocidade, própria aos indígenas, e a lógica tutelar que orienta a atuação do estado em relação a estas populações. Luciano defende a hipótese de que as práticas assistenciais (do estado) são entendidas pelos indígenas a partir de uma lógica simbólica própria, pautada pelo regime de distribuição de bens. Nesse sentido, acreditamos que no contexto em análise está em jogo a ação dos Enawene Nawe, que a respeito da forma característica de atuação dos iyakaliti, buscam o esgotamento do excesso (de recursos) que pulsa do governo, conceitualizado por estes indígenas como esfera distribuidora de riquezas e benesses. This article aims to analyze the meeting of different symbolic logics – on the one hand, that of the State and on the other hand, that of the Enawene Nawe indigenous people – within the safeguarding process of the Yaõkwa ritual for it to become a Brazilian Cultural Heritage. As the actions of IPHAN are determined by the notion of conservation and sustainability of heritage, the Enawene Nawe have shown, from their point of view, that safeguarding the ritual consists of, among other aspects, guaranteeing the material conditions the enable this practice. Such a concept is connected to the ewavate concept (boss/owner), the action of which is in the meaning of ensuring supply for the ritual to meet the desires of the insatiable ivakaliti (the landscape spirits) thus avoiding the evil attacks from these beings who cause disease and death. This paradox is seen particularly in the request by the Enawene Nawe for IPHAN to acquire large quantities of farmed fish as a means of meeting the demand of the Yaõkwa ritual, given the drop in the fishing stocks that has affected the Upper Juruena river basin from 2009 onwards. For this analysis, we used the Gersen Luciano (2006) perspective which shows the incompatibility between the logic of reciprocity, that of the indigenous people, and the ownership logic that guides the state's actions in relation to these people. Luciano defends the hypothesis that the state social aid practices are seen by the indigenous people as coming from their own symbolic logic, determined by the distribution of goods regime. Thus, we believe that in the context being analyzed, what is in play is the action of the Enawene Nawe who, out of respect for the action of
Filhos-imagens: cinema e ritual entre os Tikmũ’ũn
DEVIRES - Cinema e Humanidades, 2015
Resumo: O texto busca construir uma reflexão sobre os regimes de visibilidade e adoção que fortalecem e fazem agir os povos tikmu'un, nos seus vínculos com as diversas formas de alteridade. Dentre a gama infinita destas formas, os yãmiyxop, seres do brilho, da imanência e da intensidade, aparecem como formas privilegiadas de encontros e parentesco. É do espaço escuro desta ontologia, onde o gesto de alimentar aparece como a incessante reversão da relação mães/pais e filhos, mas também da relação entre o visível e o invisível, que nasce um certo cinema tikmu'un. Um cinema cuja ação é ela mesma a possibilidade deste encontro que, pela sua possibilidade de afetação, muitos de nós denominam "ritual". Palavras-chave: Cinema tikmu'un. Povos maxakali. Povos yãm yxop. Filhos-imagens.