AUSÊNCIA QUE SE FAZ PRESENTE: CORPOS DESAPARECIDOS PELOS ESTADOS NA AMÉRICA LATINA (original) (raw)

Recentemente assistimos ao despertar da extrema direita no Brasil e no mundo e, com ele, a negação de nosso passado violento e o culto à violência. O atual presidente brasileiro não reconhece a ditadura civil-militar, a tortura e os assassinatos praticados pelo Estado durante aquele regime, ainda que o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, apresentado em 2014, tenha afirmado que 434 pessoas foram mortas ou desapareceram no período que vai de 1964 a 1985. Tendo em mente esse cenário, propomos uma investigação em torno do binômio arte-violência a partir dos trabalhos de Carlos Zílio (Brasil, 1974), Identidade ignorada; Marcelo Brodsky (Argentina, 1996), Buena memoria e Cristian Kirby (Chile, 2013), 119, que têm como propulsores de suas obras os contextos social e político em seus países. Utilizando diferentes estratégias de representação e apresentação dos corpos desaparecidos, verificamos a presença perturbadora da violência praticada pelos respectivos governos em momentos distintos. As obras lançam mão da apresentação dos corpos vítimas da "política da morte" (à qual Achille Mbembe chama de "necropolítica") como estratégia de denúncia e são importantes manifestações de resistência frente ao esquecimento, àqueles que não desejam rememorar os conflitos violentos, às vozes oficiais que querem negar a própria história, e são também resistência à violência consentida pelo Estado. Portanto, é preciso fazer o pequeno (porém efetivo) gesto de não esquecer, de contar a história dos desaparecidos e do Estado que mata e permite que se mate aquele que considera seus inimigos. Não esquecer significa resistir e garantir que essa brutalidade não se repita.