Ciclo pascal e normatização litúrgica no século VI: análise comparativa dos casos de Arles e Braga (2009). (original) (raw)
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2010
Tendo-se completado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído como o agitar-se de um vendaval impetuoso, que encheu toda a casa onde se encontravam. Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e que pousaram sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do Espírito Santo (At. 2,1-4) 1 Considerações iniciais Originária de diferentes festejos agrícolas hebraicos, 2 a celebração de Pentecostes entre os primeiros cristãos remontava aos eventos descritos em At.2,1-11, associados à difusão do Espírito Santo e à missão apostólica. Descrito como momento de júbilo entre as comunidades cristãs, o dia de Pentecostes caracterizava-se por sua estreita vinculação às datas pascais, pela glorificação da Ascensão de Cristo e, por fim, pela reflexão da missão terrena conduzida pela Igreja. Na esteira do esforço pela uniformização e divulgação do calendário litúrgico conduzido pelo episcopado latino, sobretudo a partir do século IV, o dia de Pentecostes passou a ser considerado como encerramento do ciclo litúrgico pascal, ocasionando a secção de dois aspectos primordiais da festa em duas datas distintas. Ao passo que a Quinta-feira da Ascensão-40º dia após o Domingo da Páscoa, precedido na semana anterior por três dias penitenciais de Rogações 3foi reservada à exaltação da subida de Cristo aos céus; o Domingo de Pentecostes, 50º dia após a data pascal, deteve-se nas explanações sobre o Espírito Santo e a atuação da Igreja. Em nossa dissertação de mestrado, defendida em abril de 2009, examinamos o processo de organização do calendário litúrgico, em específico do ciclo pascal, ao partirmos do pressuposto que a preocupação episcopal com a divulgação e o 1 Neste artigo utilizamos a edição da Bíblia de Jerusalém.
Vinculada ao PPGHC-UFRJ, nossa pesquisa de doutorado analisa, no âmbito da Nova História Política (NHP) e em acordo com os referenciais teóricos de Pierre Bourdieu e a noção de calendário fornecida por Jacques Le Goff, as formas discursivas de dominação e distinção, bem como de projeção de controle e ordenamento de práticas e temporalidades sociais estabelecidas pelas autoridades episcopais na Primeira Idade Média (séculos IV-VI). Desta forma, a nossa investigação aborda o calendário litúrgico então em formação -sobretudo os ciclos temporais da Páscoa e do Natal -, tidos como instrumento e expressão do poder episcopal, em afirmação especialmente nas cidades. Ladeado, portanto, pela afirmação do poder citadino dos bispos e pelo assentamento e posterior consolidação dos reinos romano-germânicos no Ocidente, o calendário torna-se então um dos vetores de cristianização. Nesse artigo, demonstramos que a historiografia esteve pouco atenta ao estudo dos calendários como meios de fortalecimento eclesiástico no período, ao negligenciar a importância assumida pelas festas cristãs do Natal e, em especial, da Páscoa neste processo.
Resumo: Diversas heresias perpassaram o cenário eclesiástico ocidental no decorrer dos séculos IV e VI, em meio às transformações políticas e sociais ocasionadas pela -Revolução Constantiniana‖ e, posteriormente, pela formação dos reinos germânicos. Neste ambiente, embora sujeitos a eventuais percalços e reviravoltas, os bispos se afirmaram como as principais lideranças urbanas. Neste ínterim, a par das convulsões provocadas em cada comunidade cristã, uma vez debeladas as heresias continuaram a ser divulgadas e refutadas nos escritos patrísticos. Os bispos fortaleciam sua autoridade simbólica ao denunciar os erros dos heréticos e, por vezes, associá-los a grupos concorrentes em suas respectivas regiões, fossem estes divergentes em assuntos dogmáticos, litúrgicos e disciplinares ou não. Neste artigo, examinamos os trechos dos sermões de Cesário, bispo de Arles (502-542), alusivos aos heréticos que marcaram o Ocidente na Primeira Idade Média: especificamente, aos maniqueístas e os arianistas. Com isso, investigamos a caracterização dos heréticos a partir de um tipo de documento de reconhecida interação entre a autoridade eclesiástica e os fiéis-ouvintes, à luz dos conceitos fornecidos pela teoria de Pierre Bourdieu, usando os escritos de um notório pregador do período.
2012
Resumo: Vinculada ao PPGHC-UFRJ, nossa pesquisa de doutorado analisa, no âmbito da Nova História Política (NHP) e em acordo com os referenciais teóricos de Pierre Bourdieu e a noção de calendário fornecida por Jacques Le Goff, as formas discursivas de dominação e distinção, bem como de projeção de controle e ordenamento de práticas e temporalidades sociais estabelecidas pelas autoridades episcopais na Primeira Idade Média (séculos IV-VI). Desta forma, a nossa investigação aborda o calendário litúrgico então em formação-sobretudo os ciclos temporais da Páscoa e do Natal-, tidos como instrumento e expressão do poder episcopal, em afirmação especialmente nas cidades. Ladeado, portanto, pela afirmação do poder citadino dos bispos e pelo assentamento e posterior consolidação dos reinos romano-germânicos no Ocidente, o calendário torna-se então um dos vetores de cristianização. Nesse artigo, demonstramos que a historiografia esteve pouco atenta ao estudo dos calendários como meios de fortalecimento eclesiástico no período, ao negligenciar a importância assumida pelas festas cristãs do Natal e, em especial, da Páscoa neste processo. Palavras-chave: Calendário litúrgico, Historiografia Abstract: Related to our PhD research (PPGHC-UFRJ), in the light of the New Political History (NHP) and in agreement with the theoretical framework of Pierre Bourdieu and the concept of "calendar" presented by Jacques Le Goff, this exam analyses the discursive means of distinguishing and dominating, as well as the ways of controlling and ordering social practices and temporalities established by the bishops at the Early Middle Ages (IVth-VIth centuries). Therefore, we focus on the liturgical calendar in formation at the time, especially the temporal Easter and Christmas ´cycles, taken as a mean and expression of the bishoprics, mostly in cities. Thus, sided by the affirmation of the episcopal power in the cities and by the settlement and subsequent consolidation of the Roman-Germanic kingdoms in the West, this calendar then becomes one of the ways of Christianization. In this article we demonstrate that the historiography has been careless with considering the calendars as a way of strengthening the church in the period, while neglecting the importance assumed by Christmas and especially Easter feasts in this process.
2011
Resumo: Diversas heresias perpassaram o cenário eclesiástico ocidental no decorrer dos séculos IV e VI, em meio às transformações políticas e sociais ocasionadas pela-Revolução Constantiniana‖ e, posteriormente, pela formação dos reinos germânicos. Neste ambiente, embora sujeitos a eventuais percalços e reviravoltas, os bispos se afirmaram como as principais lideranças urbanas. Neste ínterim, a par das convulsões provocadas em cada comunidade cristã, uma vez debeladas as heresias continuaram a ser divulgadas e refutadas nos escritos patrísticos. Os bispos fortaleciam sua autoridade simbólica ao denunciar os erros dos heréticos e, por vezes, associá-los a grupos concorrentes em suas respectivas regiões, fossem estes divergentes em assuntos dogmáticos, litúrgicos e disciplinares ou não. Neste artigo, examinamos os trechos dos sermões de Cesário, bispo de Arles (502-542), alusivos aos heréticos que marcaram o Ocidente na Primeira Idade Média: especificamente, aos maniqueístas e os arianistas. Com isso, investigamos a caracterização dos heréticos a partir de um tipo de documento de reconhecida interação entre a autoridade eclesiástica e os fiéis-ouvintes, à luz dos conceitos fornecidos pela teoria de Pierre Bourdieu, usando os escritos de um notório pregador do período. Palavras-chave: Heresias; Sermões; Poder Episcopal. Abstract: Many heresies have marked the western ecclesiastical scenario through the fourth and sixth centuries, in the midst of the social and political changes caused by the ‗Constantinian Revolution' and thereafter by the formation of the Germanic kingdoms. In this context, although subjected to eventual disturbances and overturns, the bishops have affirmed themselves as the major urban leaders. In this process, despite the convulsive effects provoked on their respective Christian communities, once ceased the heresies continued to be divulgated and criticized in the patristic writings. The bishops enhanced their authority by denouncing the errors of the heretics and often by associating them to the concurring groups on their respective sees and regions, whether they were diverging on disciplinary, liturgical and dogmatic subjects or not. In this article we investigate parts of the sermons of Caesarius, bishop of Arles (502-542), related to the heresies that seized the West in the Early Middle Ages, mostly the Manichean and the Arian. Therefore, we study the characterization of the heretics by using a type of source of acknowledged interaction between the ecclesiastical authority and the laymen-audience, in the light of the theory of Pierre Bourdieu, using the writings of a notorious preacher of the period.
2011
Jaqueline de Calazans Calendário e poder episcopal: Quaresma e Páscoa nos escritos priscilianistas e nos sermões de Cesário de Arles-29 Paulo Duarte Silva Uma abordagem weberiana do III Concílio de Toledo (589)-41 Rodrigo dos Santos Rainha Perspectiva histórica e hegemonia política: os visigodos na abordagem de Isidoro de Sevilha-57 Rita de Cássia Damil Diniz Homem santo, um novo herói? A figura heróica clássica no discurso cristão na Hispania visigoda do século VII-71 Rodrigo Ballesteiro Pereira Tomaz O descanso dos monges na R I-83 Bruno Uchoa Borgongino Sexualidade no reino visigodo do século VII: um estudo comparado de documentos medievais-97 Alex da Silveira de Oliveira Rei e monarquia na H W, de Julian de Toledo-111
Liturgia protestante dos séculos XVI e XVII e seus reflexos no protestantismo brasileiroASILEIRO
Correlatio
O protestantismo de missão no Brasil sempre manifestou forte aversão a livros litúrgicos. Essa atitude é consequência direta das mudanças litúrgicas promovidas por reformadores do século XVI e da Assembleia de Westminster (século XVII). Enquanto Lutero e Calvino defenderam o equilíbrio formal entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia da Mesa (eucaristia), Zwínglio e Farel privilegiaram a primeira, criando nas congregações que os seguiram profundo desprezo pelos sacramentos, o que contribuiu para o forte individualismo protestante. Essa tendência culminou no “Diretório de Culto” aprovado pelos teólogos puritanos da Assembleia de Westminster, que transformaram a ordem de culto em um “manual de instruções”, o que significava, na prática, uma proposta litúrgica sem liturgia. O Diretório de Westminster encontrou receptividade no protestantismo norte-americano, do qual deriva o protestantismo brasileiro através das iniciativas missionárias do século XIX. Tais aspectos da reforma nos ajudam...