Uma Armadilha (para Lamartine): crítica à ontologia na literatura brasileira (original) (raw)

Maneirismo e narrativa: o jogo de espelhos de Armadilha para Lamartine

2017

Resumo: Romance a quatro maos escrito por Carlos & Carlos Sussekind, Armadilha para Lamartine aceita di-versas possibilidades de leitura devido a sua estrutura complexa. Entrecruzando duas geracoes — pai e filho — frente a relacao entre sanidade e loucura, a obra publicada em 1976 traca um retrato de uma familia burguesa brasileira dos anos 1950. Este trabalho procura utilizar-se do livro Maneirismo: o mundo como labirinto, de Gus-tav Hocke, citado de forma enigmatica ao final de Armadilha..., como chave de leitura para compreensao da nar-rativa deste. Desse modo, observamos como o uso de recursos maneiristas se reflete na construcao de uma narra-tiva ambigua que resulta, como em um jogo de espelhos, em uma representacao distorcida da realidade.

Incerteza Da Autoria Em Armadilha Para Lamartine, De Carlos Sussekind

Macabéa, 2020

The fictionalization unfolds in multiple possibilities in Armadilha para Lamartine (1976), by Carlos Sussekind. The author problematizes issues such as madness and authorship (the work is signed by Carlos & Carlos Sussekind) from a hybrid novel, which associates with humor and agility genres of twentieth-century mass culture, such as cinema and comics with prose and poetry, taking as his starting point episodes of his private life, when he is admitted to a psychiatric clinic and excerpts from the diary written by his father, adapted for fiction. This paper seeks an understanding of Sussekind's prose and a reflection on social, political and philosophical issues that he problematizes through the structural and socio-literary analysis, observing the way in which the work fits in what Adorno (2003) characterized as "contemporary art" and in the way the author develops in prose, in unison with the thought of Benjamin (1994). P á g i n a | 453

Literatura e mundo moderno: Armadilhas de um escritor

2014

O ensaio circula entre textos de Jose Saramago – Todos os nomes (romance) e “Oficina do Escritor” (conto) - com o objetivo de apontar relacoes possiveis da literatura com os tempos modernos e seus diferentes codigos de representacao. Varias questoes teoricas sao colocadas em destaque visando a subsidiar os argumentos e dar sustentacao a analise critica que e proposta, assim como a afirmativa sobre o autor que e entendido, aqui, nao apenas como ficcionista, mas tambem, como critico literario.

Em busca de uma imagem: alquimia e crítica literária. O “obstáculo substancialista” em Sobre Racine, de Roland Barthes

Criação e crítica, 2015

Em "Sobre Racine", de Roland Barthes, a imagem da alquimia aparece associada à crítica universitária tradicional, acusada de fazer uma interpretação "mágica" da criação literária. Apoiando-se nos trabalhos de Gaston Bachelard, Barthes fala de uma visão "substancialista" do mundo, própria à burguesia, que buscaria encontrar a interioridade dos objetos e das pessoas. Contudo, ao tentar uma análise estrutural das tragédias de Racine, o crítico acaba reencontrando o pensamento substancialista nas peças do autor, e fala de uma "química" para caracterizar "Britânico", que é descrita em termos próximos aos usados para falar em alquimia. As figuras da química e da alquimia, que reaparecem com frequência nos textos do autor, são indícios que podem nos ajudar a compreender a posição ambígua que Barthes assume para pensar a tragédia clássica. In On Racine, by Roland Barthes, the image of alchemy is associated with the traditional scholar criticism, accused of thinking the problems of creation in a “magical” fashion. Using the works of Gaston Bachelard, he speaks of a “substantial” way of thinking, typical to the bourgeoisie, which looks for the truth as if it could be found inside the objects and persons. However, when he tries a structural analysis of the author’s tragedies, he ends up finding this substantial way of thinking in Racine’s plays. He talks of a chemistry in Britannicus, which is no different from the alchemy described earlier. The themes of alchemy and chemistry are clues that may help us understand the ambiguous position that Barthes assumes in order to understand the classical tragedy.

ANÁLISE DA ABORDAGEM DO TEMA “ANTÁRTICA” EM LIVROS

O Ensino de Ciências deve transcender a simples transmissão de conceitos fundamentais, permitindo a compreensão do ser humano como parte integrante de um todo complexo e interdependente. Neste contexto, abordar o tema "Antártica" é um importante avanço para o ensino, considerando que tal continente apresenta interações diretas com o sistema climato-ambiental do planeta. O presente trabalho consiste na realização de uma análise do tema "Antártica" em livros didáticos do Ensino Fundamental. Os resultados preliminares demonstram que nenhum dos 14 livros analisados possui capítulo específico para o tema, bem como alguns apresentam imagens do continente sem referência de sua importância ambiental. A análise de textos paralelos revela que em um total de 230 textos, não há citação relativa ao tema. Os resultados obtidos denotam que a abordagem do tema no ensino fundamental ainda é escassa, cabendo propostas para inserção do tema no segmento em questão.

Werther e o (suposto) poder da literatura (Anamorphosis, 2019)

2019

RESUMO: Os amigos da literatura costumam dizer que ela é capaz de tornar as pessoas mais compreensivas e benevolentes. Os inimigos da literatura, por outro lado, costumam dizer que ela é capaz de corromper os leitores. Cada um do seu modo, os dois grupos exageram o poder da literatura. O exagero tem consequências importantes para a discussão sobre o papel da literatura no currículo das faculdades de direito e para o debate sobre os limites da liberdade de expressão literária. Este artigo discute uma das obras literárias mais frequentemente usadas para exemplificar os efeitos nocivos da literatura: Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe. Diz um lugar-comum entre estudiosos da literatura que a publicação da obra teria provocado uma onda de suicídios na Europa do século XVIII. Este artigo questiona o lugar-comum sobre o livro de Goethe, ressaltando a fragilidade dos seus fundamentos e a gravidade das suas implicações.

Lucinde, o “sinfilosofar” da literatura

2019

Este trabalho pretende estudar a expressão poética e filosófica existente no romance Lucinde(1799), de Friedrich Schlegel (1772-1829). Crítico e pensador deste período, Schlegel concretizanesta obra, através da linguagem e da forma, os ideais do Primeiro Romantismo (Frühromantik).Tendo como base o idealismo subjetivo da filosofia de Johann Gottlieb Fichte, ele desenvolve umconceito que chama de "poesia progressiva universal". A produção dos pensadores do Frühromantikgirou em torno principalmente de ensaios filosóficos, da história da literatura e da crítica literária e oromance de Schlegel compreende a infinitude dessas questões. Lucinde está muito distante de ser umromance de entretenimento: trata-se de um projeto romântico. Filosofia, crítica literária e história daliteratura em forma de arte

Perspectivismo literário e neotenia: “Axolotl” e outras zoobiografias

A proposta desta tese é pensar de que maneira a literatura (e a arte, de maneira geral), enquanto processo de abandono de si, de cancelamento do eu, de fim da identidade, se torna também um espaço de abertura ao outro, de troca de perspectivas, de contaminação de pontos de vista, de devir. Desta maneira é que podemos aproximar a arte do perspectivismo multinaturalista, este aspecto do pensamento indígena segundo o qual humanidade, intencionalidade e subjetividade não são exclusividade dos seres humanos, mas habilidades de uma infinidade de outras espécies, potencialidades que se espalham por todo o cosmos. Nesta teoria pós-humanista ou não-antropocêntrica, as dicotomias entre mesmidade e alteridade, humanidade e animalidade, natureza e cultura, sujeito e objeto são colocadas em questão. Para o ideal epistemológico xamânico, conhecer é personificar, inverter posições com o objeto de conhecimento, deixá-lo ser sujeito. Se, deste modo, o xamanismo é, conclui Eduardo Viveiros de Castro, “uma diplomacia cósmica dedicada à tradução entre pontos de vista ontologicamente heterogêneos”, também o é a literatura, pois, como xamãs, aqueles que entram no espaço literário - escritores e leitores - se tornam múltiplos, indiscerníveis, superdivididos, entram em constante devir, transmutando perspectivas, passando a olhar pelos olhos do outro. É isso que percebemos em alguns textos e performances de João Guimarães Rosa, Nuno Ramos, Clarice Lispector, Joseph Beuys, Bonnie Sherk, Mark Dion e, principalmente, no conto "Axolotl", de Julio Cortázar. Além da radical experiência de comutação de perspectivas, de devir-homem do axolotl e devir-axolotl do homem, este conto ainda desperta uma reflexão sobre a humanidade como incompletude. O axolotl é uma espécie de salamandra que passa toda sua vida na forma larval e nunca perde seus traços juvenis, mesmo assim é capaz de se reproduzir, transformando-se em uma nova espécie. Muitos teóricos evolucionistas propuseram que este fenômeno (chamado neotenia) seria uma chave para entender a evolução do homem, no sentido de que nós, assim como o axolotl, também somos seres neotênicos, seres incompletos cuja subjetividade emerge no encontro com a alteridade. Assumir esta neotenia implicaria questionar o ser como coisa separada, completa e absoluta, significaria admitir uma ontologia do ser-com, em que não há fixação do eu, mas ficção do eu, fricção do eu com muitas outras coisas que o contagiam, afetação infinita e múltipla, uma ontologia onde, em meio a todas as diferenças indomesticáveis, não há um eu nem um outro, apenas um nós singularmente plural, um eu que é um “devir entre multiplicidades”, uma porta, um limiar onde o mesmo e o outro não se delimitam, mas se abrem infinitamente.

Um esboço de análise literária baseada em conhecimento proposicional: "Epitaph on a Tyrant"

Escrita, 2011

RESUMO: O presente artigo esboça um modelo de análise de textos literários baseado na noção de conhecimento proposicional, tendo em vista a discussão de questões pertinentes tanto à filosofia da literatura quanto à crítica literária, quais sejam: qual a relação entre literatura e conhecimento? A literatura produz ou veicula conhecimento? Se sim, de que modos? Suas características epistemológicas poderiam ser instrumentais em nos auxiliar a definir ou analisar literatura? O poema “Epitaph on a Tyrant”, do poeta W. H. Auden, foi selecionado a esmo e analisado, na tentativa de abordar essas questões. ABSTRACT: The present article sketches a model of literary analysis based on the concept of propositional knowledge, with the intent to tackle some issues relevant to both Philosophy of Literature and Literary Criticism: What is the relation between literature and knowledge? Can literature produce or publicize knowledge? If so, how? Are its epistemic features instrumental to the analysis of literary texts, or in defining Literature? In order to approach these questions, the poem “Epitaph on a Tyrant” by W. H. Auden was randomly selected and analyzed.