Periferia da memória: as ruínas da Igreja do Encantado e o passado de um futuro incerto (original) (raw)

2019, 11º Mestres e Conselheiros: formação para o patrimônio

A relação entre memória e pertencimento entrelaça-se de forma muito peculiar quando o assunto é preservação do patrimônio edificado, e o sentido que os bens adquirem ao serem selecionados para tombamento, seja em caráter monumental ou singelo, infere muito sobre o valor que tais bens adquirem na sociedade. Este artigo trata das dificuldades contemporâneas para a preservação do patrimônio arquitetônico do subúrbio carioca, aqui corporificado pela igreja de São Pedro Apóstolo, localizada no bairro do Encantado, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. No presente contexto, a crescente valorização do solo urbano dos bairros periféricos da capital do estado, em virtude da especulação imobiliária, acaba por propiciar a desvalorização do valor patrimonial dos edifícios tombados dessas áreas. Este artigo busca articular a degradação da igreja do Encantado como representante de um movimento sócio-político de apagamento da memória do subúrbio carioca. As influências desta degradação patrimonial na construção da memória suburbana são aqui tratadas na perspectiva do abandono do Estado aos objetos caros à população do bairro, mas também a partir da complexidade do cuidado patrimonial em oposição ao forte poder especulativo, financeiro e político que interferem nos usos do solo da cidade. Abordamos, portanto, o processo de tombamento e o início do processo de destombamento da Igreja de São Pedro; suas relações sentimentais e de construção da memória da população do bairro do Encantado; o atual estado de conservação e as perspectivas de restauro do conjunto da igreja e as discussões suscitadas pela construção de um novo templo religioso ao lado do imóvel pré-existente, em ruínas. Assim, por fim, este artigo busca entender o abandono de um bem de interesse patrimonial, sua relação com a construção da memória da periferia urbana da cidade do Rio de Janeiro-num embate político-financeiro-, e as reverberações no pertencimento dos cidadãos moradores do bairro do Encantado. Palavras-chave: patrimônio suburbano; memória periférica; ruínas; subúrbio do Rio de Janeiro.