O absurdo em Kierkegaard e Camus: limite extremo, fé e revolta (original) (raw)
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Para além da pulsão de morte: absurdo e revolta em Albert Camus
Voluntas: Revista Internacional de Filosofia
O objetivo desse artigo é discutir a possibilidade de uma morte feliz, e consequentemente, uma vida feliz a partir da interpretação dos pilares filosóficos de Albert Camus, a saber: o absurdo e a revolta. Enquanto o absurdo diz respeito ao confronto da irracionalidade do mundo com o desejo de clareza e racionalidade que se encontra no homem, a revolta está vinculada ao desejo inconsciente de uma moral que denominamos de moral antiteísta ou moral de atitude por mover-se consciente no âmbito das ações concretas, nascidas do sentimento da absurdidade do mundo frente à morte e o sofrimento. Testaremos, ao final, a viabilidade dessa moral antiteísta promover uma morte feliz para quem sofre e uma vida feliz, apesar de todo sofrimento, para aquele que se depara com a morte do outro. Para isso, utilizaremos como fios condutores as obras de Albert Camus: O Mito de Sísifo e A peste.
Entre Núpcias & Divórcios: as consequências do absurdo no jovem Camus
2012
Este trabalho visa demonstrar nas obras de juventude do romancista-filósofo franco-argelino Albert Camus uma perspectiva sobre a sua filosofia do absurdo, relacionando, sobretudo, os seus ensaios reunidos em Núpcias (1939) ao seu ensaio O Mito de Sísifo (1942), além de conjecturas a partir do seu ensaio sobre literatura intitulado A Inteligência e o Cadafalso (1943), a peça de teatro O Equívoco (1943) e os ensaios reunidos em O Avesso e o Direito (1937). O trabalho aponta inicialmente a epistemologia camusiana da imagem, sendo a imagem-literária o recurso metodológico usado por Camus para mediar a relação entre a sensibilidade e razão em sua filosofia, utilizando o símbolo como forma de narrar tanto a sua ética quanto a sua metafísica usando o mito como forma também de filosofia, como nas suas origens gregas, fazendo assim um contraponto ao racionalismo. Entretanto, esse contraponto é também um combate à desmedida do irracionalismo, buscando uma conduta de vida na qual o absurdo não é utilizado como desculpa para se ultrapassar o limite, mas pelo contrário, a lógica absurda camusiana sustenta que mesmo com a constatação do absurdo, deve-se afirmar a vida no presente cotidiano e não trocar a vida pela resignação da esperança, assumindo tanto o trágico como a alegria de viver.
Kierkegaard e Camus: uma análise da melancolia existencial
2012
RESUMOO presente artigo visa fazer uma análise da obra literária do escritor argeliano Albert Camus tendo como ponto de partida o conceito de desespero cunhado por Sören Kierkegaard. Tendo sido Camus profundamente influenciado pela tradição existencialista, se faz importante avaliar até que ponto as ideias do pensador dinamarquês pairam sobre a construção dos personagens camusianos. Personagens estes que estão sempre envoltos em uma atmosfera melancólica, que resulta da percepção que estes tiveram acerca do absurdo que tange a existência. Quando interpretamos o que Camus chama de absurdo, fica clara a relação com o desespero, aquilo que Kierkegaard acredita ser a doença mortal do espírito.PALAVRAS – CHAVE: Desespero, angústia, absurdo, melancolia, existencialismo. ABSTRACTThis article aims to analyze the literary work of the algerian writer Albert Camus taking as basis the concept of despair coined by Sören Kierkegaard. Camus has been deeply influenced by the existentialist traditio...
Eurípides e a consciência trágica do limite
Aletria: Revista de Estudos de Literatura
Resumo: A nossa condição de seres humanos frente à realidade é, desde a Grécia, uma questão pulsante. Procuramos captar e compreender a multiplicidade das coisas que se nos apresentam e o instrumento que temos para isso é sempre o λόγος; em todos seus inúmeros sentidos. Nesse caso, perguntamo-nos, desde sempre: seria esse λόγος; capaz de exprimir todas as realidades que existem para o ser? Tomando como ponto de partida essa pergunta, procuramos em nosso trabalho analisar alguns aspectos da poesia do último dos trágicos gregos, Eurípides, onde observamos as possibilidades da linguagem frente às realidades possivelmente inexprimíveis.Palavras-chave: Eurípides; tragédia grega; λόγος.: Our status as human beings confronted with reality has been, since classical Greece, a palpitating question. We try to capture and comprehend the multiplicity of elements that are presented to us, and the tool we have to do is always the λόγος, in all the realities that there are for a given being? Depart...
O paradoxo em Kierkegaard e o irracional em Otto
Søren Kierkegaard e Rudolf Otto são dois autores religiosos tradicionalmente associados a um modo de pensar que reconhece os limites do uso da razão para o ser humano. No pensamento kierkegaardiano, o Paradoxo Absoluto é uma das ideais mais emblemáticas desse reconhecimento de limites para a racionalidade. No pensamento de Otto, por sua vez, o irracional, em sua contraposição ao racional, é um dos elementos mais importantes em suas reflexões sobre a natureza da própria religião. Este artigo apresenta algumas considerações sobre as possibilidades de comparação entre esses conceitos fundamentais nas obras do filósofo dinamarquês e do teólogo alemão.
Kierkegaard, o “tratado do desespero” e a medicina mentis
2013
Espinosa, Locke, Berkeley and Hume wrote extensive or short treatises in order to propose mending human understanding or similar projects. Alexander Koyre, while explaining Descartes, stated that such texts should be included under “treatises of method” and this stands also for those ones disguised as essays, inquiries, discourses etc. Praising method used to come together with a lack of confidence in abuses of reason, because human spirit could be suffering under prejudices, “idols” and delusions. Such treatises were efforts of a certain medicina mentis [mind healing]; in this way, a treatise was supposed to be like a therapeutic treatment. Koyre, late in XXth century seems to exaggerate by saying that Montaigne’s essays should be called a “treatise of desperation” and this calls our attention, because French editors and translator had given the same title to an important Kierkegaard’s work, which means originally simply “Sickness to death”. It deals with hope and despair, but Kier...
Absurdo e a física moderna: a compreensão para Camus e Heisenberg
Cadernos PET-Filosofia
Dentro da relação entre a necessidade humana de compreensão e os “murros fechados do mundo” que o absurdo camusiano ocorre. O absurdo, vindo dessa dicotomia entre ser humano e mundo, decorrente dessa impossibilidade, ou com maior precisão, da irracionalidade do mundo descoberto pelo ser humano, é o que pauta a filosofia de Camus. Nesse contexto, a relação do absurdo com a ciência se torna um tema central de um dos ensaios de Camus, O mito de Sísifo. O autor expressa toda sua revolta com a ciência moderna por nunca lhe oferecer o mundo, a ciência apenas descreve e elucida, nunca fornece o mundo à compreensão do ser humano. Essa situação pode ser esclarecidase atendo aos livros de alguns cientistas do século XX, principalmente Werner Heisenberg, o qual elucida, em A parte e o Todo, uma discussão ao redor do tema da compreensão na física moderna. Sendo assim, o propósito deste artigo é estabelecer uma relação entre o absurdo e a revolta de Camus com a ciência com o que Heisenberg demos...
experiência de estranhamento e a contradição do absurdo no romance O estrangeiro de Albert Camus
Profanações, 2022
Este artigo é uma análise estética de como a perspectiva do filósofo-artista Albert Camus sobre o absurdo é desenvolvida em seu romance O estrangeiro. Examino aqui como determinadas teses filosóficas do autor franco-argelino sobre o tema se desdobram numa composição artística, como elas se articulam na estrutura de uma prosa romanesca. Estabeleço como os fundamentos de minha análise a experiência de estranhamento presente no sentimento do absurdo e a formulação contraditória presente na expressão do absurdo em O estrangeiro. Para isso, escrevo este artigo articulando um contraponto entre a conhecida crítica de Sartre Explicação de O estrangeiro e os comentários de autores mais recentes como Mario Vargas Llosa, Angela Binda e Manuel da Costa Pinto. Palavras-chave: Camus. Romance. Absurdo. Estranhamento. Estrangeiro.
Kierkergaard e Comte-Sponville: dois posicionamentos acerca do desespero
Matraga - Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ, 2020
o presente trabalho tem como meta proceder à análise da relação de contraposição entre o discurso de André Comte-Sponville (1952-) e o do filósofo dinamarquês Kierkergaard (1813-1855) no que tange especificamente ao modo de abordar a paixão do desespero. Com base na análise, podemos dizer que, por considerar o desespero de modo positivo, de maneira oposta à do filósofo dinamarquês, Comte-Sponville se posiciona não só em relação a Kierkergaard mas também em relação a toda uma tradição do pensamento ocidental. Entendemos que, na malha interdiscursiva que o envolve, o pensamento do filósofo francês ainda se mostra capaz de dialogar com os discursos sobre o desespero tecidos na contemporaneidade, uma vez que, ao euforizar “um aprender a viver sem esperanças”, afirma a imagem moderna de um mundo vivido na distopia. Para levar a efeito a análise, nos ancoramos em conceitos extraídos da Análise do Discurso Francesa (MAINGUENEAU, 2008) e da Semiótica Discursiva (GREIMAS; COURTÉS, 1979; SARA...